Duke Nukem Forever

12 anos para isso. 12 anos... Duke Nukem Forever é uma monumental e incomensurável falha épica. Não existe outra forma como descrever. O que temos aqui é um claro exemplo, de como aquela história sobre “quem não conhece o passado está destinado a repeti-lo no futuro” não funciona para videogames. Pois pelo visto todos envolvidos no desenvolvimento desse jogo, aparentemente, nunca jogaram Duke Nukem.

Para terem uma idéia, as pessoas que jogavam Duke Nukem na década de 90, hoje são aquelas que pedem para os filhos fazerem os irritantes Quick Time Events (QTE) nos jogos atuais. Pois são sequeladas demais para repetir uma simples seqüência de teclas... Detalhe, DNF possui alguns “quick time events” parecidos com os aqueles do God of War 3, que são mais fáceis, essencialmente a repetição infinita de uma tecla apenas, mas ainda uma chatice totalmente desnecessária e irritante.

Mas vamos começar com um pouco de história: o original Duke Nukem 3D é de 1996, ou seja, anterior a ZeroZen, ou como ficará conhecido a partir de agora: AZ/DZ, antes da ZeroZen e depois da ZeroZen. Ainda estávamos nos tempos da Internet movida a lenha e do Windows 95!!! Algo que ninguém, em perfeito juízo, vai querer reviver.

No entanto, nessa longínqua e quase esquecida era, vivíamos a época de ouro dos jogos em primeira pessoa para computador, que pasmem costumavam ser divertidos e completamente descompromissados com a realidade. Bons tempos aqueles. Não havia “roteiro”. Nem personagens controlados pelo computador para contar cada detalhe da história, interrompendo a ação a toda hora para falar de coisas realmente importantes, que não interessam a ninguém.

Sério, dêem ao jogador uma arma e algo em que atirar e calem a boca. Serious Sam, Painkiller ou o recente BulletStorm já deram seqüência a esse estilo de game. O que faz DNF parecer ainda mais datado e irrelevante. Não como algo que poderia ser interessante em 2005, mas algo que não iria funcionar, nem mesmo se lançado no século passado. Detalhe, Duke Nukem Forever estava prometido originalmente para 1999. O que explica muita coisa...

Poucos se lembram ou se importam, mas Duke Nukem já era peça de museu em 1998, ano do lançamento de Half-Life, o jogo que realmente mudou tudo. Duke Nukem não era sequer totalmente 3D, pois os inimigos ainda eram “sprites” 2D. Sendo que Quake 3 e Unreal Tournament iriam sepultar definitivamente jogos como Duke Nukem no ano seguinte.

É bom lembrar também que Duke Nukem teve três lançamentos exclusivos para Playstation 1: Land of the Babes, Time to Kill e Total Meltdown. Do que se conclui que o pessoal da 3D Realms sabia desde cedo que o dinheiro não estava nos jogos para PC. Logo, não é de se estranhar que os lançamentos para XBOX 360 e PS3 receberam mais destaque que o para PC.

Mas o que realmente Duke Nukem pode oferecer para os gamers da nova-geração? Em poucas palavras: não muito. Entrando em detalhes: nada que já não foi feito e refeito, digamos, nos últimos 10 anos....

Poucos jogos, recentes ou não, possuem uma primeira fase tão ruim quanto DNF, um verdadeiro convite a desistência. Tudo errado do princípio até o avesso. Primeiro vai se passar muito tempo e introduções desnecessárias, incluído um mini-boss e várias seqüências constrangedoras, como Duke dirigindo um carro por controle remoto, até você finalmente receber uma arma. E a espingarda calibre 12, marca registrada de Duke Nukem, ainda vai demorar um pouco mais. Detalhe, Duke pode carregar apenas duas armas!!! E munição não é exatamente abundante. Sendo que mesmo que houvesse munição sobrando você não iria poder carregar muita... É tudo extremamente limitado.

Mas não para por aí, certos chefões só podem ser mortos com mísseis ou granadas. O problema é você só pode levar três de cada?! E isso não vai derrotar chefão algum. Sendo que sua outra arma é completamente inútil. Lembre-se você só pode levar duas. Então você vai precisar se reabastecer de munição a toda hora, essencialmente no pior e mais aberto lugar possível, enquanto o boss enche você de tiros. O que realmente não dura muito. Convenhamos isso é simplesmente estúpido e irritante.

O que parece claro é que Duke Nukem Forever nasceu, ou melhor renasceu da frustração. Não há dúvida que os desenvolvedores resolveram descarregar todos esses anos de piadinhas sobre atrasos e a incompetência geral de todos envolvidos no projeto nos consumidores. E sério, se era isso que queriam: missão cumprida.

Até mesmo o personagem Duke Nukem parece errado e propositadamente desagradável. Nos anos 90 Duke era uma espécie de Bruce Wills de Duro de Matar misturado com Arnold Schwarzenegger. Mas em DNF é tudo exagerado e completamente fora do personagem original. Duke é essencialmente um babaca. Agora o cara é uma espécie de super-herói com dinheiro, fama e tem até ajuda do governo!

Sem falar o suposto humor ‘escrachado’ do jogo, com várias piadas auto-referenciais ou ao mundo dos videogames, incluindo citações à, entre outros, Half-Life, Halo e Dead Space, que parecem realmente gratuitas e adivinhem: datadas.

É importante levar em conta que em 12 anos muita gente meteu a mão nesse jogo: 3D Realms, Gearbox Software, 2K Games, Piranha Games, Whatever Games e muitos outros, que possivelmente sequer vão admitir isso. Logo a coisa toda só poderia ser meio Frankenstein: cheia de furos, remendos e péssimas idéias.

Mas agora, quem será que teve a idéia de colocar puzzles num jogo como Duke Nukem? Ou seqüências de pulos? Ou saúde que se regenera sozinha? Crianças agradeçam ao Call of Duty From Hell por isso. Cadê o Jetpack? Por que não é possível fazer Quicksaves? E que negócio é esse de Duke só poder carregar duas armas? Sério, WTF? Agora, a pá de cal: Duke fica bêbado com uma cerveja!!! Sério uma cerveja. Isso seria uma referência equivocada ao game Redneck Rampage (1997, D.Z.), onde o protagonista bebia “moonshine”, procure no google, para ficar temporariamente invencível, uma bebida ilegal que tem aproximadamente o coeficiente alcoólico de 57%?

Já quanto a parte técnica a coisa toda, como não poderia deixar de ser, é meia-boca. DNF usa o engine 3D do Unreal 3. Então se prepare para longos carregamentos de fases e definitivamente não ficar muito impressionado com os gráficos. Afinal além de já ter quatro anos praticamente todos jogos, hoje em dia, usam o engine da Epic. É verdade que a culpa talvez nem seja realmente do engine 3D, mas sim do design gráfico tosco. O que explica muita coisa.

É bom notar também que esses carregamentos de fase, ironicamente, são ainda maiores nas versões para consoles. Diga-se de passagem, não por acaso, a versão para PC é superior em praticamente todas questões técnicas em comparação as versões para consoles.

Enfim, o pessoal da Gearbox Software e da 2K Games dos razoáveis Brothers in Arms e Borderlands, que foram os últimos a entrarem nessa furada e são os reais responsáveis pela ressurreição do projeto DNF. Inclusive a Gearbox supostamente possui agora a propriedade intelectual(IP) do personagem Duke Nukem. O que já despertou especulações sobre uma continuação para daqui alguns anos. Talvez o mundo acabe em 2012 e nos poupe de outro fiasco. Mas sinceramente o melhor é aproveitar esse tempo para fazer Borderlands 2 e esquecer essa franquia FOREVER.

Saulo Gomes

P.S.: Detalhe curioso: Duke Nukem 3D ainda está proibido no Brasil graças a uma decisão da justiça mineira de 1999(?!). Agora, se essa gente resolver proibir DNF, desta vez vão estar fazendo um verdadeiro favor aos consumidores brasileiros...

Prós: Talvez levem mais 12 anos para fazer outro.
Contra: Tudo errado do princípio até o avesso. Nem governos do PT levam tanto tempo para não produzir nada que preste...

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