O Fim do Bar e a Volta dos Balaios

feira.gif (5408 bytes)

A 46ª Feira do Livro de Porto Alegre parece ter descoberto o óbvio. Como quase ninguém tem dinheiro para comprar livros, a melhor coisa a fazer é incrementar os balaios com boas ofertas. Assim, é possível desencalhar livros do estoque e dar chance para quem nunca passou da página 15 da Revista Placar posar de intelectual.

O resultado foi que em 2000 foram vendidos 432 mil livros, 5% a mais do que no ano passado. Claro que é preciso levar em conta que esta edição da feira foi a maior do evento até agora contando com 20 dias (de 27 de outubro a 15 de novembro) de duração. Mesmo assim houve alguns destaques na linha: "literatura e capitalismo".

A livraria Sagra-Luzzatto colocou os desejados livros da Cia das Letras no balaio com simpáticos 30% de descontos. Infelizmente, um desqualificado jornalista andava na feira bradando, alcoolizado pela própria mediocridade, que tinha sido o responsável pela decisão da Sagra. Nada mais equivocado. A livraria sofreu pressão da Cia das Letras, mas, desta vez, resolveu ir contra a maré e fazer a única coisa lógica: vender livros. Desta maneira, os famosos balaios da Cia das Letras retornaram, sem a exuberância de uns 4 anos atrás, mas fizeram a festa de muito leitor de fim de semana.

Outras livrarias como a Martins Livreiro e a Lisboa investiram em balaios de clássicos e deram atenciosos descontos que chegavam até a 60 %. Mas nem tudo na vida é alegria, os vexames da 46ª Feira do Livro de Porto Alegre ficaram com a Rogil, que anos atrás inventou o sensacional balaio a R$ 1,99, e a Palmarinca. Ambas não só não mostraram descontos atraentes como não tinham estoques para sustentar a demanda dos balaios. Um fiasco.

O outro fato triste e polêmico foi a divisão em dois lugares do bar da Feira. Acabou aquele clássico encontro de bebuns para discutir literatura. Aquelas pilhas e mais pilhas de garrafas de cultura líquida sumiram da feira. Se continuar nesse ritmo, o próximo passo vai ser o xerife da feira instaurar a lei seca. Os locais escolhidos para tomar um goró na praça da Alfândega foram para lá de lamentáveis. Afinal quem quer se embriagar olhando para a estátua do Barão de Rio Branco?

A justificativa para tal atitude foi o aumento de bancas. Neste ano foram 210 barracas. E o, mais importante, os organizadores da Feira querem dedicar o evento para as crianças. Tudo bem. Mas é bom lembrar que quem realmente curte literatura vai se dedicar à causa dos 15 aos 27 anos. A partir daí, se a pessoa tem um mínimo de instrução, já leu todo aqueles livros "que podem mudar a sua vida". Quanto as crianças muitas delas podem se tornar leitores ou leitoras. Porém a grande maioria não vai passar da página 16 da Revista Nova.

Curiosamente, muitos pseudos-escritores, usaram da mídia para promover seus pífios e patéticos livros, na esperança de iludir o povo. Mas nenhum deles apesar de todas as resenhas amigas (e pagas) publicadas na imprensa terminou na lista dos mais vendidos. Aliás, a ZeroZen, a única revista que lê os livros que critica, preparou um resumo dos mais vendidos. Vamos ao que interessa.

Ficção

1 - O Demônio e a Senhorita Prym, de Paulo Coelho (Objetiva)

Então tá. Quem poderia ser o vencedor na categoria ficção? Claro, o bom e velho Paulo Coelho. Ele pode não dominar bem o português, mas, com certeza, consegue contar histórias. Provavelmente ele deve ter vendido a alma ao demônio. Na verdade, o grande livro do Paulo Coelho ainda está para ser escrito. Vai narrar as viagens dele e de Raul Seixas quando visitaram a Disneylândia. Algo como Nas Orelhas do Mickey eu sentei e chorei.

2 - Borges e os Orangotangos Eternos, de Luis Fernando Verissimo (Cia das Letras)

Vamos deixar uma coisa bem clara, o escritor desta família era o pai. Luis Fernando Verissimo como escritor é um excelente cronista. A Cia das Letras teve uma idéia equivocada de juntar escritores para escrever histórias sobre personalidades famosas da história mundial. Nenhum dos convidados até hoje venceu o desafio e criou algo de algum interesse literário. Como diria o Barão de Itararé: de onde menos se espera daí mesmo é que não sai nada.

3 - Histórias do Tempo, de Lya Luft (Mandarim)

Um resultado impressionante. Aliás tão fantástico que especulamos se Lya Luft não teria uma família muito grande. Ou, quem sabe, participou da contabilidade dos livros mais vendidos...

4 - Trem-Bala, de Martha Medeiros (LP&M)

Um lixo. Martha Medeiros é uma espécie de arauto do óbvio. É incapaz de concatenar um único pensamento original. Como estamos atravessando a revolução dos idiotas de que falava Nelson Rodrigues, pessoas como ela são rapidamente guindadas a condição de gênio. Quer dizer, o apocalipse é mesmo inevitável.

5 - E o Bento Levou...A Guerra dos Farrapos, de vários autores (Mercado Aberto)

Um livro de humor que quase chega a ser engraçado. Mas se você acha que a Guerra dos Farrapos aconteceu em algum desfile de moda é melhor passar longe de E o Bento Levou...

Não-ficção

1 - Bá, Tchê!, de Luís Augusto Fischer (Artes e Ofícios)

Mas... Bá, Tchê! Que cara de pau!! Luís Augusto Fischer está mais perdido que gato em dia de mudança e mais por fora que braço de caminhoneiro. Apenas repetiu a dose com uma espécie de Dicionário de Porto-Alegrês parte dois. Bom, o fato é que a idéia funcionou. Mais uma prova que o povo brasileiro não tem memória.

2 - Dicionário de Porto-Alegrês, de Luís Augusto Fischer (Artes e Ofícios)

Muita gente ano passado ficou impressionada com o retumbante sucesso do livro de Luís Augusto Fischer, que foi o grande vencedor da Feira. Mas é só raciocinar um pouco. Onde mais um livro desses venderia? Quer dizer... se o Dicionário de Porto-Alegrês não fizer sucesso em Porto Alegre o melhor é dar um tiro na testa.

3 - Até A Pé Nós Iremos, de Ruy Carlos Ostermann

Ruy Carlos Ostermann pode entender de vinhos, mas, com certeza, não sabe nada de futebol. Tudo o que ele destila pelo microfone, com a sua natural empáfia, aprendeu com Oswaldo Rolla, o Foguinho. Aliás, Foguinho chamava Ostermann de um intelectual do futebol. Ou seja, podia falar 15 línguas diferentes, mas não sabia diferenciar lateral de escanteio. De qualquer maneira, o livro é bem escrito e magnificamente bem ilustrado. Altamente recomendado para quem é torce para o Grêmio, é lógico.

4 - 233 Receitas do Anonymus Gourmet, de José Antônio Pinheiro Machado (LP&M)

Qual é a receita do sucesso? Simples. Um livro de receitas. José Antônio Pinheiro Machado fica um pouco mais rico às custas das donas de casa. Só falta agora pintar o cabelo de loiro e arranjar um papagaio.

5 - Noites Tropicais, de Nelson Motta (Objetiva)

Nelson Motta é um mala sem alça. Depois de ler Noites Tropicais esta é a única conclusão possível. No livro fica evidente a falta de talento de Motta que consegue ser um daqueles privilegiados que estão sempre no lugar certo na hora certa. De qualquer maneira, como conviveu (no sentido bíblico) com Marília Pera e Elis Regina já deve ter o seu quartinho de fundos reservado no céu.

Infantil

1 - Harry Poter e a Pedra Filosofal, de J. K Rowling (Rocco)

2 - Harry Poter e a Câmara Secreta, de J. K Rowling (Rocco)

Um ser sem formação cromossomial específica conseguiu o prodígio de comparar as aventuras Harry Poter com o clássico da literatura mundial A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson. Então tá. Assim como um caderno de adolescentes de um jornal NÃO deve ser feito por adolescentes (e sim por adultos que tenham um espírito jovem) o mesmo ocorre com a literatura dita infantil. A verdadeira literatura para crianças e adolescentes deve ser capaz de cativar até os mais velhos. Isto jamais ocorre em Harry Poter por um motivo simples. É muito mal-escrito. Para escrever livros dedicados as crianças o autor NÃO precisa parecer uma delas. No fim das contas, Harry Poter é apenas uma versão para o papel de Livros da Magia, uma História em Quadrinhos criados por Neil Gaiman e John Bolton.

O livro mais vendido da 46ª Feira do Livro de Porto Alegre

1 - Pílulas para Viver Melhor, de Fernando Lucchese (LP&M)

O que você acharia de conselhos como "cuide mais da sua alimentação", faça mais exercícios regulares", durma sempre oito horas por dia", "seja um bom menino", "sempre olhe para os dois lados antes de atravessar a rua". Pois é são dicas de fazer corar escritor de livro de auto-ajuda. Mas o médico Fernando Lucchese não teve medo de ser feliz. Empilhou uma penca de clichês do tipo a voz do povo é a voz de Deus, mais alguns conselhos médicos para lá de óbvios e se deu bem. É uma idéia tão simples e eficiente que todo mundo se pergunta: por que não pensei nisso antes? O livro é horrível, mas certamente vai garantir uma bela aposentadoria a Fernando Lucchese.

Troféu: o Horror, o Horror

Como destaque negativo da feira do livro ficam os seguintes lançamentos

Histórias Tatuadas - Gabriel Moojen

O pior livro da feira. Escrito por uma pessoa descerebrada, que mal consegue articular uma frase (Gabriel Moojen, o apresentador do Programa Patrola da RBS TV), só pode ser uma fraude editorial. Um ghost-writer, com certeza. O livro tem mini-contos que raras vezes passam de 16 linhas, até por que o público de Gabriel dificilmente teria capacidade de ler algo maior do que isso. Um exemplo rápido do estilo Moojen de ser existe lá pelas tantas um conto que narra a história(sic) de um surfista que sonhava em abraçar o mar até que um dia o mar é quem abraça ele. Quer dizer tão profundo quanto um pires. O livro recebeu rasgados elogios da imprensa local escrito por um desqualificado jornalista que também acredita ser um escritor. Então tá.

O livro dos homens - Vários

É tão ruim que chega a ser cômico. No ano passado, as várias escritoras lançaram um livro semelhante. As mulheres aproveitaram para praticar o seu esporte preferido, ou seja, desancar os homens. Ao invés de uma espécie de vingança masculina, o livro está repleto falta de talento e de contos sensíveis. A impressão que se tem é que os homens do livro costumam jogar barro para cima da capota com as duas mãos, "ajuntar" o sabonete no vestiário e dar ré no quibe cru. Quer dizer... o fim está próximo

A gaveta das calcinhas - Lia Luz

Lia é uma garota que acreditou na frase de plantar uma árvore, escrever um filho e fazer um livro. Esta já é a sua segunda obra, um sub-confissões de adolescente. O que, evidentemente, não é nenhum elogio. A ZeroZen pede que agora ela se concentre em fazer filhos, por que literatura está difícil. Ah, algum gaiato poderia lançar no ano que vem A Gaveta dos Cuecões...

O patrono

O escritor, folclorista e compositor Luiz Carlos Barbosa Lessa foi o patrono da 46ª Feira do Livro de Porto Alegre. Depois de uma polêmica discussão se o patrono deveria ser escolhido pela votação popular, inúmeros candidatos a patrono tiraram o seu time do campo. Assim o reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva do reserva foi chamado: Barbosa Lessa. No fim das contas, ficou uma homenagem (apesar de absolutamente justa) estranha. Mas foi interessante ver os pseudos-intelectuais gaúchos obrigados a se render a força do tradicionalismo.

Algumas de suas publicações:
1951 - As Mais Belas Poesias Gauchescas, seleção e notas, Tip.Goldman, Porto Alegre
1956 - Manual de Danças Gaúchas, co-autoria de Paixão Côrtes, Irmãos Vitale, São Paulo
1957 - Primeiras Noções de Teatro, Editora Francisco Alves, São Paulo
1958 - O Boi das Aspas de Ouro, contos, Editora Globo, Porto Alegre
1959 - Os Guaxos, romance, Editora Francisco Alves, São Paulo
1959 - Arquivo de Danças Brasileiras, Editora Francisco Alves, São Paulo
1960 - Estórias e Lendas do Rio Grande do Sul, Literart, São Paulo
1962 - Cancioneiro do Rio Grande, Editora Seresta, São Paulo
1967 - Nova História do Brasil, Editora Globo, Porto Alegre
1975 - O Crime é um Caso de Marketing, Editora Globo, Porto Alegre
1978 - Mão gaúcha, FGT, Porto Alegre
1980 - Problemas Brasileiros, Uma Perspectiva Histórica, volumes I e II, Editora Globo, Porto Alegre
1985 - Nativismo, um Fenômeno Social Gaúcho, Editora L& PM, Porto Alegre
1987 - República das Carretas, romance histórico, Editora Tchê, Porto Alegre
1987 - O Continente do Rio Grande, Editora L& PM, Porto Alegre
1997/1998 - Almanaque dos Gaúchos 1,2 e 3 , Editora Martins Livreiro, Porto Alegre
1999 - Os Sabores da Terra Gaúcha, culinária, Editora do SENAC, Rio de Janeiro
1999 - Histórias para Sorrir, contos, crônicas e poesias, Ed. Alcance, Porto Alegre
1999 - Nheçú, Editora do Brasil, São Paulo

Dados da Feira
Duração: 20 dias
210 barracas
500 sessões de autógrafos
Área total da feira: 8 mil m² (20% a mais que em 1999)
Área coberta: 6,2 mil m2
Novidade: palco com concha acústica
País homenageado: França

Confira a cobertura da feira do ano passado