Feira do Livro e ZeroZen não dão desconto pra ninguém
Intelectuais de plantão e pseudo-literatos estiveram em festa. A 45ª Feira do Livro de Porto Alegre lotou por completo as imediações da Praça da Alfândega. Mesmo assim, a ZeroZen, a revista que não dá desconto de 20%, corajosamente afirma que esta foi, com certeza, uma das piores edições do evento.
De 29 de outubro a 15 de novembro, o loser que se aventurou a percorrer as 114 barracas dispostas na praça percebeu que foi logrado, tapeado, feito de trouxa, de otário. Tudo começou por que os livreiros de Porto Alegre resolveram acabar com o sacrossanto desconto de 20% no preço de capa dos livros.
Assim, ao invés de todas as barracas cobrarem o mesmo preço, haveria algo inédito em termos de Brasil, uma coisa estranha chamada livre mercado. As editoras competiriam entre si e quem desse o desconto maior sairia vencedor. Porém, não demorou muito tempo e rapidamente todas as bancas passaram a admitir os 20% de desconto.
Mas então, obtemperará o intrigado leitor, por que esta é a pior Feira do Livro de todos os tempos?
Ora, é simples. A 45ª Feira do Livro de Porto Alegre fez a estultice de sepultar os balaios. Agora, não existe mais a possibilidade simpática de comprar clássicos da literatura a preços módicos, que raras vezes ultrapassavam a barreira dos R$ 10,00. Os livreiros simplesmente transferiram os livros que recheavam os balaios para junto dos lançamentos.
Isso faz com que o obtuso leitor não tenha outra alternativa senão recorrer aos livros mais recentes para posar de intelectual, discutir em mesa de bar e impressionar aquela meiga e doce ninfomaníaca, estudante de comunicação, de 18 anos, ansiosa por novas experiências e que procura por um rapaz que consiga articular mais três frases com início, meio e fim. Não necessariamente nessa ordem.
Infelizmente, a bisonha lista equívocos da Feira do Livro não termina com a extinção dos balaios. O tema escolhido, Os 500 anos do Descobrimento, é oportunista, além de ser uma propaganda desnecessária para o escritor(sic.) Eduardo Bueno autor de uma série sobre o tema.
Aproveitando-se dessa idéia a Feira do Livro resolveu homenagear os escritores portugueses. Quem já leu alguma obra do Saramago sabe que as únicas coisas boas que podem sair da terra lusa são as piadas de português e o fado. Pensando bem, só as piadas...
O pior ficou reservado para a escolha do Patrono. A ZeroZen sabe que é difícil conseguir sempre homenagear um escritor gaúcho, até por que a literatura gaúcha (a exceção de Erico Verissimo) é que nem a Bíblia: todo mundo sabe que existe, mas quase ninguém leu. Contudo, indicar Décio Freitas (quem?) é sacanagem. No próprio site da Feira a justificativa da escolha do patrono é pífia:"escritor, historiador, pesquisador e exerceu atividades como jornalista, advogado, professor universitário e Procurador federal. Nasceu na cidade de Encantado, RS reside em Porto Alegre e tem formação acadêmica em História e Direito. Sua contribuição à sociedade justifica o título e Patrono do evento".
Contribuição à sociedade?! Quer dizer... escrever um livro que é bom nem pensar? Décio Freitas até pode ter a sua obra conhecida no seu bairro, mas, com certeza, a assessoria de imprensa da Feira do Livro nunca ouvir falar de nada...
A ZeroZen, a única revista que não dá desconto para ninguém, também não podia perder a oportunidade de comentar um por um os livros mais vendidos da 45ª Feira do Livro de Porto Alegre. Confira o resultado:
Ficção
1 - Trem Bala, de Martha Medeiros. L&PM
Também poderia ter como título a Mulher-Mala. Martha Medeiros é uma craque na arte de escrever textos chatos. É o ápice do pensamento mediano. Trem-bala é uma sutil ironia por que a capacidade de raciocínio de Martha se assemelha mais a de um cágado, sem querer ofender o pobre do animal.
2 - A Casa da Esquina, de Duca Leindecker, L&PM
Não e não. Mil vezes não. Como já dizia o Barão de Itararé: da onde menos se espera, daí mesmo é que não sai nada. O guitarrista da medíocre banda gaúcha Cidadão Quem resolveu contar em um livro suas aventuras adolescentes. O resultado é catastrófico. Como, ao que tudo indica, não vai ser no rock ou na literatura que Leindecker vai garantir a sua aposentadoria, a ZeroZen sugere que ele tente algo mais simples como ser padeiro.
3 - Canoas e Marolas - Preguiça, de João Gilberto Noll
Outro livro sem chance. No way, como diriam os americanos. Sinceramente não conseguimos vislumbrar como (a não ser pelo fato de ser gaúcho) João Gilberto Noll conseguiu tanto sucesso. Canoas e Marolas é um livro da coleção Plenos Pecados, onde escritores consagrados - e outros nem tanto - escrevem sobre sobre o tema. Para Noll a preguiça significa a chegada de um homem a uma ilha em busca de uma mulher, que não sabe se é ou não sua filha. Instigante, não? Decididamente é um livro que dá uma preguiça de ler...
4 - Mal Secreto - Inveja, de Zuenir Ventura, Objetiva
Mais um livro horroroso (cortesia da coleção Plenos Pecados) de um dos maiores picaretas da literatura nacional. Zuenir Ventura, para quem não sabe, é um dos jornalistas que entrou com uma ação contra o governo alegando que a ditadura o impediu de escrever seus textos. Milhares estiveram nos porões, foram torturados e não receberam um mísero níquel, mas Ventura, como todo incompetente, quer garantir logo sua aposentadoria... Ele também é o autor de "1968 - O ano que não terminou" obra que fez um relativo sucesso há alguns anos. A ZeroZen não sabe se 1968 definitivamente não terminou, porém temos certeza que o talento de Zuenir Ventura, sim.
5 - Clube dos Anjos - Gula, de Luís Fernando Veríssimo, Objetiva
Bom, não é preciso ser nenhum gênio para perceber que nessa família o romancista de verdade era o pai. O livro não é ruim, mas Luis Fernando Verissimo como escritor romances continua sendo um bom cronista. E só.
Não-Ficção
1 - Dicionário de Porto-Alegrês, de Luís Augusto Fischer, Artes e Ofícios
Ao que tudo indica será o grande vencedor da Feira do Livro. O preço algo em torno de R$ 12,00 também colaborou. Porém não é necessário nenhum cromossoma a mais para perceber que só existe um lugar onde o dicionário criado por Luís Augusto Fischer poderia vender, ou seja, em Porto Alegre. Fora daí essa obra não tem qualquer relevância ou importância. Economize o seu dinheiro e aguarde o ano que vem, pois o Dicionário de Porto-Alegrês é um sério candidato ao ostracismo dos balaios.
2 - Capitães do Brasil, de Eduardo Bueno, Objetiva
Na terceira parte da saga da história do Brasil contada pelo aprendiz de picareta Eduardo Bueno, o Peninha, chegou a vez das Capitanias Hereditárias. Tudo narrado com a profundidade de um pires. O Peninha, se não quiser continuar trabalhando como escritor, pode tranqüilamente virar professor de cursinho pré-vestibular. Aliás, talvez seja essa sua verdadeira vocação porque historiador, nem pensar...
3 - A Viagem do Descobrimento, de Eduardo Bueno, Objetiva
Na primeira parte parte da saga da história do Brasil contada pelo aprendiz de picareta Eduardo Bueno, o Peninha.... Epa! Você já leu essa crítica? Você já viu esse filme? Nós também. Portanto leia o comentário anterior e dê-se por satisfeito.
4 - Náufragos, Traficantes e Degredados, de Eduardo Bueno, Objetiva
Na segunda parte parte da saga... Quer saber? Veja comentário anterior. Não dá fazer uma crítica diferente de três livros absolutamente iguais.
5 - Brasil Mágico, de Alex Primo, Mercado Aberto
Quem? O quê? Como? Feito sob encomenda para o tema da Feira deste ano e vendido a 1 (um) real, esse livro(?!) de estereogramas(imagens que causam a ilusão ótica de 3D) sobre o Brasil é a essência da picaretagem. Por um real esse livro já sai caro, devia ser dado de brinde, para leitura nos sanitários da Feira.
Notem que entre os mais vendidos não existe um livro sequer que possa ser chamado de literatura, muito menos entre esses desqualificados alguém que possa ser chamado de escritor. Bastante sintomático. Não?
OBS: A classificação dos mais vendidos refere-se a apuração feita até o dia 13/11/99