A nova Guerra do Paraguai

Uma notícia preocupante foi divulgada pela tacanha mídia nacional sem maior estardalhaço. O Paraguai autorizou os Estados Unidos a instalarem uma base militar no país. Acredite se quiser, caro Zeronauta, o governo de Assunção vai permitir a presença de tropas norte-americanas em seu território. Esta é a primeira vez em que bases estrangeiras permanentes serão instaladas na América do Sul, justamente na estratégica região da usina de Itaipu, o chamado aqüifero guarani.

Cerca de 400 militares americanos vão receber imunidade e status diplomático para realizar treinamentos. A decisão do Paraguai de autorizar a entrada dos marines teria ocorrido logo depois da renúncia do presidente boliviano, Carlos Mesa, e da derrota da exigência americana, na Assembléia da Organização dos Estados Americanos (OEA), de criar um órgão para "monitorar a democracia" na América do Sul. De acordo com Luis Bilbao, correspondente argentino do jornal francês Le Monde Diplomatique, Washington deve formalizar agora a criação de uma base militar no Paraguai localizada em Mariscal Estigarribia, povoado da região do Chaco, a 250 quilômetros da fronteira com a Bolívia.

Analistas militares garantiram que o objetivo dos americanos seria vigiar a Tríplice Fronteira (divisa entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai). Nessa região, há uma suposta rede terrorista árabe-palestina denunciada pelos EUA. Ainda seria possível que Washington arpoveitasse a base para ampliar o combate ao narcotráfico. A notícia sobre a instalação da base foi obviamente negada pelos governos do Paraguai e dos Estados Unidos. Os americanos alegam que têm só um acordo para treinamento conjunto. De qualquer maneira, o embaixador americano no Paraguai, John Keane, já anunciou um pacote de ajuda financeira ao país para o "combate ao narcotráfico, ao terrorismo, à lavagem de dinheiro e à corrupção".

Como se percebe algo não faz muito sentido nessa história toda. A desconfiança levou milhares de conspiradores mirins a enviarem e-mails alertando para um possível ataque dos Estados Unidos à América do Sul. Isto, é evidente, não faz o menor sentido. Por que os EUA decidiriam conquistar algo que eles já dominam há tempos? Se fosse o caso, eles simplesmente mandavam um embaixador cobrar a conta do aluguel e todos os latinos-americanos seriam obrigados a morarem embaixo da ponte.

Então mais uma vez a ZeroZen resolveu investigar a fundo o caso. Mandamos um representante ao Paraguai para trazer alguma muamba e para seguir pistas esquecidas ou ignoradas pela imprensa. Com pouco tempo de pesquisas descobrimos uma das mais assustadoras e apocalípticas conspirações jamais feitas contra o Brasil. Tudo, curiosamente, começa em março de 1870. Exatamente nesta data terminava a Guerra do Paraguai.

Como se sabe, Argentina, Brasil e Uruguai (com uma boa ajuda da Inglaterra) se uniram para revidar um ataque do Paraguai que, na época, era comandado pelo ditador Solano López. Foi um massacre. A Guerra durou cinco anos e custou cerca de 300 mil vidas. O Paraguai terminou o conflito completamente devastado. Seu território foi reduzido em cerca de 40%. A economia do país ficou em ruínas, suas bases de produção e de infra-estrutura foram destruídas, seus primeiros passos rumo ao desenvolvimento, através de um comércio mais amplo e de uma integração mais estreita com a economia mundial, foram abandonados. Além disso, uma vultosa indenização foi imposta pelos vencedores.

A partir daí fica claro o motivo da base militar no Paraguaí. O país está em busca de vingança. Sim, paranóico zeronauta. Qualquer pessoa que tenha o mínimo conhecimento de história sabe que a derrota marcou profundamente a alma dos paraguaios. Eles jamais aceitaram o fato de terem sido humilhados pelo Brasil. Desde então vem tentando acabar conosco.

Primeiro tentaram no futebol. Contudo, a seleção paraguaia nunca chegou aos pés da brasileira. Depois resolveram nos vender produtos falsificados para acabar com o nosso parque industrial. Mesmo assim, o crescimento da economia do Brasil continuou. O país então começou a apelar. Inventou o uísque araguaio e decretou o início de uma guerra química que perdura até hoje. Porém, os bravos pinguços nacionais não se renderam.

Desesperado, o Paraguai tentou a sua última cartada. Pediu o apoio dos Estados Unidos. A construção de uma base militar não atende aos desejos do Tio Sam, mas sim do próprio Paraguai. Notem que isto acontece justamente quando um presidente de esquerda assumiu a liderança do Brasil. Ou seja, basta a gente fugir da cartilha do governo Bush para que possa haver um precedente para um ataque paraguaio.

Sim, a nova Guerra do Paraguai vem aí. Já ficou claro para todos de que lado os Estados Unidos estão. Para piorar, se os exércitos de Argentina, Brasil e Uruguai se unirem não dão nem para a saída. A vingança está próxima. Em algum lugar de Assunção o fantasma de Solano López gargalha mefistofelicamente.