Humberto Gessinger é um vampiro
De tempos o nosso informante, o Zé da Silva, aparece com informações valiosas e luminares para nossas investigações. Como sempre acontece fazemos uma reunião secreta em algum pé-sujo da cidade. Depois de quase um engradado de cerveja, o Zé deixa um pacote embaixo da mesa e desaparece misteriosamente. Escapando, de novo, de rachar a conta.
Ao ser aberto o pacote era possível ler: relatório Humberto Gessinger. Foi quando tivemos uma das maiores surpresas que está revista já viu. Uma revelação que nos deixou catatônicos e apopléticos. Não era para morrer de rir como fez o Bussunda, mas para sair correndo em pânico. O vocalista da banda Engenheiros do Hawaii é na verdade um filho de drácula, um vampiro!!
Antes que o impoluto leitor desta revista jogue seu monitor pela janela vamos mostrar uma das mais impressionantes conspirações do rock nacional. Tudo começou em Porto Alegre no distante ano de 1984. Uma greve na faculdade de arquitetura levou a um atraso no fim das aulas. A faculdade organizou um espaço para shows. Sem mais o que fazer alguns jovens desocupados criaram uma banda que se chamaria Engenheiros do Hawaii. A primeira formação era Humberto Gessinger na guitarra, Carlos Maltz na bateria e Marcelo Pitz no baixo.
Até aí tudo bem. Como era a fatídica década de 80 e todo mundo conseguia gravar um lp (os famosos vinis, alguém se lembra?) o EngHaw fizeram sua estréia em 1986 com o álbum Longe Demais das Capitais. E, como tantos outros grupos, despontavam tranqüilamente para o anonimato. Entretanto, no trabalho seguinte, já com Augusto Licks na guitarra, A Revolta dos Dândis, algo estranho aconteceu. Eles fizeram sucesso e, o que é mais impressionante, um disco aceitável.
Especulamos se não foi nessa época que Humberto Gessinger vendeu a sua alma. Muito provavelmente ele já deveria ter alguns furos na jugular que não eram beijos de fãs mais afoitas. Isto fica claro quando se escuta a música Terra de Gigantes: "Hey mãe! /Só me acorda quando o sol tiver se posto/Eu não quero ver meu rosto/Antes de anoitecer". Gessinger já sabia que o sol havia se transformado em seu inimigo mortal.
No disco seguinte, Ouça o que Eu Digo não Ouça Ninguém os EngHaw continuaram com o sucesso estrondoso e inexplicável. Muito provavelmente o líder do grupo deveria estar saindo com o maior número de groupies possível para aumentar o exército de criaturas da noite e de fãs da banda. A estratégia funcionou tão malignamente bem que no seu quinto disco, O Papa é Pop, de 1990, eles se tornam o grupo número 1 do rock brazuca.
Em o Pap é Pop fica claro que Gessinger é um sugador de sangue viciado em carótidas. Em uma música chamada Nunca se sabe ele canta: "Nem sempre faço o que é melhor pra mim/Mas nunca faço o que eu não tô a fim de fazer/Não viro vampiro, eu prefiro sangrar/Me obrigue a morrer, mas não me peça pra matar". Talvez fosse algo conflito interior, por que o líder da banda, com certeza, não era mais humano. Aliás, no mesmo álbum ele começa a revelar suas preferências em Exército de um Homem Só II: somos um exército/(o exército de um homem só) /um bando de vampiros/que odeiam sangue. A certeza de que não ia ser descoberto faz Gessinger ficar descuidado.
No ano de 1991 os Engenheiros do Hawaii lançam o disco Várias Variáveis, no qual Humberto Gessinger revela ao mundo que gosta de sangue. As letras mostram todo o dilema do mais famoso vampiro brasileiro. A música Piano bar é explícita: ontem à noite eu conheci uma guria/já era tarde, era quase dia/ era o princípio/num precipício/era o meu corpo que caia/ontem à noite, a noite tava fria /tudo queimava, nada aquecia /ela apareceu, parecia tão sozinha/parecia que era minha aquela solidão. Ou seja, Gessinger narra um ataque seu a uma fã. Mais um crime perfeito, mais uma alma perdida. Na música Ando Só ele fala da sua transformação em morcego: ando só/como um pássaro voando/ando só/como se voasse em bando. Parece assustador? Pois na letra de Não é Sempre ele entrega ainda mais o jogo: você esquece que eu não sou de ferro/ (até o ferro pode enferrujar)/ você esquece que eu não sou de aço /e faço questão de provar:/ acontece que eu não nasci ontem/ (até hoje sempre escapei com vida)/ pra quem duvida de tudo que eu faço/ eu faço questão de mostrar/ "olhe pra mim... enquanto... desapareço no ar"/ não queira estar no meu lugar. Sinistro, muito sinistro.
Não foi por acaso que nesta época começaram a surgir as primeiras divergências internas na banda que culminariam com um pseudo fim dos Engenheiros três anos depois. Parece lógico concluir que Augusto Licks e Carlos Maltz começaram a ficar indignados com as esquisitices do seu companheiro. Tudo bem não dar entrevistas coletivas pela manhã, mas dormir dependurado no teto de cabeça para baixo era demais.
Com o tempo, tanto Licks como Maltz descobrem a terrível verdade e se afastam de Gessinger e do grupo. Eles fogem apavorados. Maltz chegou a montar uma banda esotérica chamada Irmandade para combater qualquer possível maldição vampiresca. Licks sumiu de vista. Foi para a Eupora e nunca mais foi visto.
No Brasil, Humberto reergueu os Engenheiros do Hawaii. Agora ele reina absoluto. E o que é pior o número de fãs, ou melhor, de seguidores do vampiro-mestre, aumenta a cada dia. As apresentações dos EngHaw estão cada vez mais lotadas. Humberto Gessinger se mantém nas paradas de sucesso, apesar da sua completa falta de talento. Seus escravos de sangue crescem em uma fúria vertiginosa. Até o ponto em que conseguir criar um exército grande o suficiente para dominar a terra brasilis. Ao invés de 10.000 destinos serão 1.000.000 de vampiros. Pelo sim pelo não é melhor começar a guardar algumas estacas debaixo da cama...
A verdade está lá fora procurando a sua jugular
Considerações Finais
1 - Se Humberto Gessinger não é mesmo um vampiro por que ele só faz shows à noite? Medo de enfrentar o sol?
2 - Em um texto onde se auto-define Gessinger declarou: "Segundo um astrólogo amigo meu, nasci muito velho". Dá para entender fácil, fácil, o porquê...
O texto acima é uma obra de ficção e qualquer coincidência com pessoas ou terceiros é meramente acidental ou usada como forma de paródia.