A verdade sobre o tratamento precoce
O ZZ-files sempre busca desvendar a verdade. Por mais estranha que ela possa parecer. Uma das questões que mais intrigou a tacanha mídia nacional foi a insistência do governo no tratamento precoce contra a Covid-19. O uso de Cloroquina e Ivermectina foi defendido de forma veemente. Talvez nem outro país no mundo tenha feito uma mistura dessas. Só que a verdade por trás desse tresloucado ato envolve, é claro, uma inacreditável conspiração.
Tudo começa em um estudo de 2011, conduzido por pesquisadores nigerianos e publicado na revista científica Archives of Applied Science Research. Talvez seja um reflexo do preconceito que envolve a África, mas o trabalho não foi levado a sério. Por quê? Afinal de contas, a ciência não é privilégio de nenhum continente.
Enfim, no estudo, os cientistas concluíram que a Ivermectina alterava a mobilidade de espermatozoides. Os efeitos eram nocivos e assustadores, pois o uso do medicamento poderia causar infertilidade em 85% dos usuários. Rapidamente, a comunidade científica se uniu para atacar o texto.
Porém, o estudo (que segue disponível para acesso na Internet) acompanhou um grupo de 385 pacientes diagnosticados com oncocercíase, também conhecida como cegueira dos rios. Pausa. O que é isso? Bem, ela também é conhecida como "mal do garimpeiro". É uma doença causada por infecção pelo verme parasita Onchocerca volvulus. Sintomas incluem coceira, caroços sob a pele e cegueira. Ela é a segunda causa mais comum de cegueira devido a uma infecção, depois da tracoma.
Os pacientes, portanto, estariam aptos a fazer um tratamento com a ivermectina, conhecida pela ação antiparasitária. Apenas 37 dos participantes, com idades variando entre 28 e 57 anos, demonstraram uma contagem de esperma dentro do esperado. O restante, digamos assim, não conseguiria entrar na porrada com ninguém. Não houve comparação com um grupo de controle. Talvez nem fosse necessário. Pois, ao ver os resultados, os cientistas nigerianos exclamaram: "mas que porra é essa?".
O ataque à publicação não parou por aí. Muitos críticos apontaram que o artigo não traz uma seção de limitações, que são relevantes para que a comunidade científica entenda o contexto do trabalho. Mas se você mora na Nigéria a sua vida é repleta de limitações. Logo, é desnecessário incluir essa questão no projeto. Outros alegam que infertilidade poderia ser causada pela doença, e não pelo medicamento. Contudo, como se trata de cegueira o mais provável é que os pacientes não estivessem vendo porra nenhuma. Erros de digitação também permeiam o texto, mas também permeiam a ZeroZen. Então, não é desleixo é questão de estilo.
Claro, a ivermectina não é uma droga nova. Seus efeitos colaterais mais comuns, dentro de uma dosagem convencional em tratamentos para os quais ela é recomendada, são conhecidos. Até hoje FDA (Administração Federal de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos) não relatou nenhum caso de infertilidade relacionado ao medicamento. Mais ainda: desde a publicação do artigo, em 2011, não houve outros estudos que sustentassem a descoberta.
Até mesmo para quem não tem anos de investigação em conspirações fica evidente que os cientistas nigerianos fizeram uma descoberta que os levou a serem perseguidos. Mas por quê? A resposta veio com o Censo brasileiro. Para quem não sabe, ele foi cancelado. No dia 23 de abril de 2021, o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, confirmou que os recursos para a realização do levantamento não foram previstos no Orçamento da União.
A partir daí, é fácil apontar os culpados. Especulamos se o governo conduziu um estudo paralelo e percebeu que a população brasileira cresceu demais. Ao ponto do país se tornar inviável economicamente. Note que com a pandemia as pessoas ficaram mais em casa. E se os hospitais estavam sobrecarregados, as maternidades também. A verdade é que o tratamento precoce é uma forma maligna de controle da natalidade.
Sim. O SUS oferece o controle de natalidade para os homens por meio da vasectomia. Até antes da pandemia, o número de vasectomias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mostravam um crescimento 20,82% na comparação de 2017 com 2018, de 45.404 para 54.861. Mas a Covid-19 estragou os planos do governo. Com a vasectomia em queda livre, era preciso agir para conter o crescimento exponencial da população. Por isso, a farsa do tratamento precoce.
Claro que o culpado deve ter sido algum ministro da saúde. Mas não dá para saber qual. Durante a pandemia, o governo colocou um novo titular na pasta a cada 15 minutos. Como boa parte da população brasileira se entupiu de ivermectina, o crescimento populacional deve ter sido controlado. Porém, ninguém vai perceber a fraude graças ao atraso na realização do Censo!
A verdade está lá fora lendo bula de remédio
Considerações finais
1 - O presidente Jair Bolsonaro passou por uma vasectomia no dia 30 de janeiro de 2020. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo. O procedimento foi realizado no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, DF.
2 - Se ele fez vasectomia, podia tomar Ivermectina sem medo das consequências...
O texto acima é uma obra de ficção e qualquer coincidência com pessoas ou terceiros é meramente acidental ou usada como forma de paródia.