A verdade sobre a maré vermelha
O ZZ-files sempre foi uma seção imparcial. Sempre buscou encontrar o culpado, não importando as consequências. Porém, um dos integrantes da nossa redação passou as férias de infância na praia do Hermenegildo. Para quem não conhece, essa é a última praia do nosso litoral. Depois disso, você está no Uruguai. Durante anos ele ouviu histórias sobre uma maré vermelha que devastou o local. Então, na falta de coisa melhor para fazer, resolveu investigar a situação. Somente para se deparar com uma conspiração que surgiu nos tempos da ditadura.
Novamente o ZZ-files seguiu as pistas ignoradas pela mídia. Mas, veja bem, em uma ditadura é bem provável que muitos jornalistas decidissem ignorar de propósito essas pistas. Como se sabe, em regimes de exceção, jornalistas têm muita importância para serem presos e nenhuma para serem soltos. De qualquer forma, em abril de 1978 o mar de Hermenegildo acordou com uma tonalidade vermelha.
Segundo relatos de moradores havia uma mortandade absurda de peixes e mariscos. Para piorar a situação, existia cheiro de amoníaco no ar. Era algo ruim de respirar. Se alguém se aproximava da praia, os olhos lacrimejavam sem parar. A tragédia seria ainda maior, pois animais terrestres (vacas, cavalos, cachorros, gatos, etc) também começaram a morrer.
Para quem dormia nas aulas de história, em 1978 o Brasil vivia uma ditadura militar. Quem governava o país era o general Ernesto Geisel. O incidente em Hermenegildo acabou ganhando repercussão nacional e internacional. O governo agiu rapidamente e disse - baseado em relatórios de técnicos da Cetesb, hoje a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - que tudo era culpa da natureza. Era um fenômeno causado pela proliferação de algas e outros organismos marinhos, a chamada Maré Vermelha. Chegou, inclusive, a lançar uma obra sobre o assunto chamado de "O Livro Branco". Por que provavelmente na hora de explicar o fenômeno deu branco.
Porém, técnicos de Pelotas e Rio Grande que testaram amostras do mar contestaram a versão oficial da maré vermelha. Aqui a história fica realmente interessante. Inclusive, existe um documentário feito em 2019, dirigido por Daniela Sallet, que levanta algumas hipóteses sobre o que de fato aconteceu.
Uma tragédia ambiental dessa magnitude poderia ter sido causada por um acidente. De acordo com o historiador Péricles Azambuja uma violenta ressaca atingiu a costa uruguaia e todo o litoral do extremo sul do Brasil. Isso aconteceu apenas quatro dias antes do surgimento da maré vermelha. Nesse momento, o navio Taquari estava perto da praia do Hermenegildo. Mais interessante ainda: a embarcação deixara o porto do Rio de Janeiro com destino a Montevidéu, em 1971, levando uma carga de “produtos químicos” não especificados, da empresa Dow Química.
O que aconteceu com Taquari? Ele bateu numas pedras em Cabo Polônio, no Uruguai, a cerca de 80 km da fronteira, e ficou de lado, adernou. Então, os produtos químicos teriam feito todo o estrago. A conspiração é reforçada pelo fato de que o então todo poderoso ministro da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva, era um ex-diretor da Dow Química. Daí o interesse do governo em abafar o caso.
Só que existe um pequeno detalhe. A empresa negou categoricamente que a carga do Taquari fosse tóxica, mas curiosamente pediu que eventuais barris que fossem dar nas praias não fossem abertos. O que eles continham? Ninguém jamais soube. Até porque nenhum deles foi recuperado. Mas não é estranho que nenhum barril tenha aparecido na praia de Hermenegildo?
Então era hora da ZeroZen entrar em ação mais uma vez. Na mesma época, outra embarcação estava perto do Hermenegildo: o navio Itapajé. Alguns pesquisadores acreditam que o governo brasileiro teria autorizado o Itapajé a largar lixo químico no mar. Mas, quase sempre, essa hipótese é descartada por ser absurda demais. E ninguém foi investigar que tipo de produtos o Itapajé carregava. Basicamente, todas as fichas foram apostadas no naufrágio do Taquari.
Por isso, eliminando a cortina de fumaça do Taquari e focando no Itapajé foi fácil descobrir qual era o produto tóxico que a ditadura brasileira queria se livrar em segredo. Sim, caro Zeronauta, o responsável pela maré vermelha do Hermenegildo foi o refrigerante Mountain Dew!!
Antes que o Zeronauta abra guerra contra a indústria do refrigerante, é preciso explicar a verdade por trás da maré vermelha. Se você nunca tomou Mountain Dew, parabéns. Vai viver mais que a redação da ZeroZen. Mas, é preciso que se diga, esse refrigerante começou a ser produzido no Tennessee no início do século 20. E não é um refrigerante qualquer.
Qual a diferença? Ele contém muito mais açúcar e muito mais cafeína. Uma garrafinha de 600 ml de Mountain Dew contém 290 calorias, 77 g de açúcar (ou 19,25 colheres de chá) e 91 miligramas de cafeína, mais do que qualquer refrigerante – a Pepsi, do mesmo fabricante, possui 250 calorias, 69 g de açúcar e 63 miligramas de cafeína. A combinação de tanto açúcar com o ácido cítrico é fatal para os dentes, sobretudo das crianças e dos adolescentes.
Ele foi vendido por um breve período nos anos 80. Depois sumiu do mercado e só retornou no início dos anos 2000, em um teste de investimento em São Paulo e Campinas. Em ambos os casos, foi um fracasso monumental. Nem mesmo os brasileiros conseguem suportar esse estrupício gasoso. Mas ainda foi feita uma terceira tentativa em 2015, com lançamentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Especulamos se em 1978 algum executivo da Pepsi resolveu fazer um teste com o refrigerante oferecendo uma oportunidade para o Exército brasileiro. Ao dar para os soldados esse diabo verde com gás, a recepção deve ter sido a pior possível na caserna. Resultado, era preciso se livrar desse encalhe gigantesco de refrigerante. Por isso, graças à toxicidade maligna do Mountain Dew, o navio Itapajé foi para bem longe da costa para se livrar dessa carga indesejada. Infelizmente, a tempestade levou o produto direto para a praia de Hermenegildo. Claro que nenhum governo militar poderia admitir que um desastre ambiental teria sido causado por um refrigerante. Seria um vexame brutal. Por isso, a inteligência militar (o que é uma contradição em termos) decidiu que o mais fácil era encenar a farsa da maré vermelha.
A verdade está lá fora tomando Grapette
Considerações finais
1 - O setor de testes da ZeroZen misturou Mountain Dew com vodca. Imediatamente, o goró preferido dos russos ficou com gosto ruim. Nunca confie em um refrigerante que não pode ser misturado com vodca...
2 - A região de onde vem o Mountain Dew, a Appalachia possui os piores problemas dentários dos Estados Unidos. As crianças e adolescentes de lá tiveram os dentes estragados devido a um fenômeno que ficou conhecido como “Mountain Dew mouth” (boca de Mountain Dew).
3 - Na terceira tentativa de fazer os brasileiros consumirem Mountain Dew, a campanha publicitária apostou em personalidades do esporte. Um dos escolhidos foi o skatista gaúcho Luan de Oliveira. Certeza da impunidade?
4 - Note que apesar da maré ser vermelha, o livro escrito pelos militares era branco. O nome Mountain Dew pode ser traduzido como "orvalho da montanha". O que existe no alto das montanhas? Neve. E qual é a cor da neve?
O texto acima é uma obra de ficção e qualquer coincidência com pessoas ou terceiros é meramente acidental ou usada como forma de paródia.