Leite Condensado: arma de guerra
O ZZ-files sabe que grandes conspirações às vezes começam a ser desvendadas em situações prosaicas. Tudo começou quando veículos de comunicação fizeram uma matéria sobre os gastos dos órgãos federais com alimentação. Em 2020, o governo gastou R$ 1,8 bilhão, um aumento de 20% em relação a 2019. Porém, um número chamou a atenção: o governo esbanjou R$ 15,6 milhões em leite condensado. E isso foi suficiente para descobrir uma deliciosa conspiração que vai até a Segunda Guerra Mundial.
Por que a ZeroZen resolveu investigar o leite condensado? Bem, o governo pagou R$ 15 milhões para comprar o doce. Isso significa que cada lata adquirida custou R$ 162. É um valor exorbitante, beirando ao inacreditável. Como seria possível que o Exército pagasse tão caro por um item específico? A não ser que houvesse algo a ser investigado. Então bastou seguir todas as pistas ignoradas pelos chefes de cozinha e por toda a adesista e tacanha mídia verde oliva para descobrir a verdade.
Em primeiro lugar, a criação do leite condensado é quase que ligada a uma guerra. Tudo começa no Século XIX. Nessa época, o leite era vendido nas ruas: direto do produtor para o consumidor . Porém, o crescimento das cidades começou a atrapalhar esse modelo de distribuição. Por que o tempo gasto para entregar o leite às famílias foi ficando cada vez maior ao ponto de que o produto acabava estragando.
Então, por volta de 1856, o norte-americano Gail Borden teve uma ideia genial. Ele decidiu evaporar parte da água do leite e acrescentar açúcar para que ele durasse mais. Mas o produto só se tornou conhecido por causa da Guerra Civil Americana (1861-1865). O produto foi essencial por ser extremamente calórico e manter os soldados alimentados.
Depois o produto chegou à Europa pelas mãos dos irmãos George e Charles Page. Na sequência, a Nestlé aproveitou para popularizar o leite condensado pelo mundo. No Brasil, a novidade chegou em 1890, em uma clássica embalagem que trazia estampada uma camponesa. Por isso, a marca virou Leite Moça.
É importante notar que o uso de leite condensado não é algo estranho em um Exército. Por exemplo, as Forças Armadas de vários países usam o alimento em operações em locais distantes e pouco acessíveis. Como nem sempre é possível o transporte e o armazenamento de leite fresco, o leite condensado surge como alternativa viável. Além do mais, com tanto açúcar o produto se mantém conservado mesmo após aberto.
No Brasil, o leite condensado pode ser útil em missões militares na selva ou no atendimento a tribos indígenas isoladas. De fato, essa seria uma explicação racional para a compra do alimento. Porém, por que o Exército pagaria tão caro por esse item? Será que não existiria algo especial, diferente, único em uma lata de leite condensado que custa R$ 162?
Para responder essa pergunta, a ZeroZen investigou os "army ration packs". Basicamente é o kit de alimento que um soldado carrega em uma missão. É evidente que as comidas escolhidas variam de país para país. Porém, o leite condensado é encontrado nos exércitos do Brasil e da Austrália. Como a única batalha que o Exército australiano enfrenta é contra o alcoolismo, a gente preferiu se concentrar no Brasil.
A partir daí, a ideia era descobrir se o leite condensado foi decisivo em algum momento para o exército brasileiro. A investigação começou na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Por incrível que pareça, submarinos alemães torpedearam navios brasileiros. Contudo, o país teve uma participação modesta no conflito já que não possuía grandes recursos bélicos.
Na Segunda Guerra Mundial, a história foi diferente. De novo, submarinos alemães torpedearam navios brasileiros. Em um deles, uma menina escapou de morrer afogada por que se agarrou a um caixa cheia de latas de leite condensado. A história é verídica e está descrita no livro "U-507 - O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra" do jornalista Marcelo Monteiro. E ainda mostra que além de ser delicioso, o leite condensado ainda salva vidas.
Porém, a resposta do enigma só foi aparecer na Batalha de Monte Castello. Foi um confronto sangrento travado ao final da Segunda Guerra Mundial, entre as tropas aliadas e as forças do Exército Alemão, que tentavam conter o seu avanço no Norte da Itália. A batalha marcou a presença da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no conflito.
A batalha arrastou-se por três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, durante os quais se efetuaram seis ataques, com grande número de baixas brasileiras. Quatro dos ataques não tiveram qualquer êxito, por falhas de estratégia, mas a batalha chegou a seu fim em 21 de fevereiro de 1945 com a vitória dos aliados, a derrota dos alemães e a tomada de Monte Castello por tropas brasileiras. E isso só foi possível por causa do leite condensado!
Antes que o ensandecido Zeronauta resolva comer um brigadeiro (o doce, não o militar) é preciso explicar o que aconteceu. Antes de mais nada, é preciso esclarecer que em novembro de 1944 a 1ª Divisão de Infantaria do Exército foi enviada para a frente do rio Reno, na divisa central das regiões Toscana e Emília-Romanha. Nesta área existiam montanhas sob controle dos alemães. O general Mascarenhas de Moraes montou seu quartel-general avançado, na localidade de Porretta Terme.
O problema é que as posições de artilharia alemãs eram consideradas privilegiadas. Lembre-se os nazistas estavam na parte mais elevada do terreno e dificultavam qualquer avanço em direção à Bolonha. Especialistas em táticas militares são unânimes em afirmar que somente uma divisão de infantaria era insuficiente para uma missão daquela magnitude naquelas condições e terreno. Ainda assim, o comando aliado na Itália mantinha o objetivo de atingir Bolonha antes do Natal.
As condições do tempo mostravam-se extremamente severas: chuva e céu encoberto impediam o apoio da força aérea e a lama praticamente inviabilizava a participação de tanques. No início, os brasileiros conseguiram um bom avanço, porém o contra-ataque alemão foi violento. O 2º e o 3º batalhões do 1º Regimento de Infantaria lutaram com bravura, mas o pesado fogo da artilharia alemã fez muitas baixas. Mais uma vez a tentativa de conquista se mostrou infrutífera e, o pior, causando 150 baixas, sendo que 20 soldados brasileiros haviam sido mortos.
Só que no dia 20 de fevereiro, as tropas da Força Expedicionária Brasileira apresentaram-se em posição de combate, com seus três regimentos prontos para partir rumo ao monte Castello. E, desta vez, conseguiram dominar o cume. Um feito e tanto. Inclusive, às 17h30, quando os primeiros soldados do Batalhão Franklin do 1º Regimento conquistaram o topo do monte Castello, os americanos ainda não haviam vencido a resistência alemã!
Mas como o Exército Brasileiro conseguiu tamanha vitória? Bem, a força bruta não seria suficiente. Era necessário estratégia. Especulamos se, durante a preparação para o ataque final, os soldados brasileiros foram treinados para dizer a seguinte frase em alemão:
- Ich habe Kondensmilch!
Alguma coisa como "eu tenho leite condensado". Ora, o Exército alemão estava cansado e com fome. Do nada aparecem brasileiros com uma iguaria saborosa. Os soldados alemães devem ter usado o bom senso e pensado algo como: "Bem, basta parar de atirar que a gente ganha uma lata desse néctar dos deuses? Partiu trégua!". Assim a subida até o cume do Monte Castello foi mais uma experiência gastronômica do que uma batalha sangrenta.
Claro que o exército jamais poderia revelar que a maior conquista das nossas Forças Armadas na Segunda Guerra Mundial foi obtida por meio de um prosaico, mas saboroso, leite condensado. Por isso, o Brasil conquistou Monte Castello e não Monte Brigadeiro ou Monte Frapê ou mesmo Monte Pudim.
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Considerações Finais:
1 - O Presidente Fernando Henrique assinou, durante o seu mandato, o decreto 4.553/2002, que protege por até 50 anos documentos militares considerados sigilosos. Será que havia um relatório com referência ao uso de leite condensado na Segunda Guerra Mundial?
2 - Na Segunda Guerra muitos soldados alemães preferiam se render ao Exército brasileiro. A justificativa oficial é que o tratamento era mais digno. Mas a verdade é que o restante dos aliados não tinha leite condensado para oferecer!
3 - Se for para salvar vidas de soldados brasileiros em uma Guerra, R$ 162 não parece um valor tão alto assim...
O texto acima é uma obra de ficção e qualquer coincidência com pessoas ou terceiros é meramente acidental ou usada como forma de paródia.