O Anticristo está entre nós!
Quando chega dezembro o internauta incauto pensa logo em Natal, festas, presentes e o inevitável novo disco do rei Roberto Carlos... Até aí nenhuma novidade, e talvez não houvesse realmente nada de novo neste fim de ano se nesta edição da ZeroZen não tivéssemos aberto aquele que é, sem dúvida, um dos nossos arquivos secretos mais reveladores e inacreditáveis...
Tudo começou a partir de uma denuncia anônima de uma pessoa, que num primor de redundância, preferiu não se identificar. Dizia respeito de uma mensagem secreta gravada num disco do Rei Roberto que traria a identidade do anticristo. Após uma investigação preliminar não conseguimos encontrar tal disco, pois nosso cauteloso informante não especificou qual disco do rei tinha tal gravação. Disse apenas que era aquele disco em que ele aparece sozinho na capa.
Mas num segundo contato conseguimos arrancar de nosso informante uma informação mais concreta: a música era "A guerra dos Meninos" do disco Roberto Carlos de 1980, não sabe qual é? Aquele que ele aparece sozinho na capa, fundo azul...
Aparentemente pouco antes do segundo coro de LaLaLaLa da música, estaria gravada ao contrário a seguinte inscrição: "Eu sou o Demônio.". Como toda mensagem gravada de trás para frente é de difícil entendimento, é bom ter paciência para não arranhar o disco de sua mãe ou daquela tia solteirona, pois dificilmente você irá percebê-la logo de início. Mas que a mensagem está lá, isso não há dúvida.
Apesar do descrédito inicial da nossa investigação comprovamos, no que podemos chamar de experiência transcendental, a existência de tal gravação e nos deparamos com algo muito maior do imaginávamos.
A partir dai tentamos levantar, dentro do enorme material bibliográfico existente sobre o Rei Roberto, alguma pista que nos levasse a verdade por trás daquela inscrição.
Chegamos então num ponto nebuloso e cabalístico: o ano de 1960. Este ano que é uma peça chave na gloriosa carreira de Roberto Carlos. Pois é em 1960 que Roberto praticamente de um dia para o outro desistiria de ser um mero imitador de João Gilberto, e começaria a traçar o caminho do Rock´n´Roll que o levaria ao estrelato.
Em 1960 Roberto Carlos era apenas um desconhecido tentando o sucesso no Rio de Janeiro cantando bossa-nova. Sua primeira gravação data dessa época, um compacto de 78 rpm com as músicas João e Maria, e Fora de Tom com influência da música de João Gilberto, que resultou num completo fracasso.
Após essa primeira gravação, Roberto se envolveu em outro projeto malsucedido. Incentivado por seu empresário gravou um disco de boleros e chá-chá-chás, chamado Louco por você, que é curiosamente o único disco do cantor em que sua figura não aparece estampada na capa.
Acreditamos que o novo fracasso obtido com esse disco foi a principal razão para grande virada na vida de Roberto, e sua derrocada para as legiões do capeta.
É então que sem nenhuma razão no LP seguinte Splish Splash surge a figura do Roberto Carlos roqueiro que influenciaria várias gerações de jovens brasileiros e que iniciou o movimento musical da jovem guarda.
Mas o que levou Roberto a mudar seu estilo musical e se aventurar num tipo de música que ainda não era sequer bem aceito pela sociedade brasileira?
Está claro para nós da ZeroZen, que foi neste período em que Roberto fez um pacto com o Diabo e vendeu sua alma para ter sucesso. Além disso muita gente boa já deixou claro o seu estranhamento quanto ao fato de alguém que não demonstrara, até então, talento algum, e de repente começou a escrever canções geniais como: É proibido fumar, Quero que tudo vá para o inferno, precisa dizer mais alguma coisa?, Pode vir quente que eu estou fervendo, Eu sou terrível, De que vale tudo isso, As flores do jardim de nossa casa, Sua estupidez entre muitas outras.
Então na busca de novas pistas ou mensagens que elucidassem esse mistério. O passo seguinte de nossa impoluta investigação foi ouvir tudo o que Roberto gravou ao longo de sua carreira. E não é que para nossa surpresa, a partir da reinterpretação livre de algumas de suas canções mais famosas, encontramos um significado completamente inédito e aterrador para sua obra:
Por exemplo Jesus Cristo de 1970, deixa de ser uma canção de louvor a Deus para se tornar um desafio. Quando Roberto canta " Jesus Cristo eu estou aqui!". É como ele intimasse Jesus Cristo a um combate: eu estou aqui, vai querer encarar?
Já na inacreditável 120, 150, 200 km por hora também de 1970, seus versos são sintomáticos:
estou fugindo de mim mesmo
estou fugindo do passado
do meu mundo assombrado de incerteza e tristeza
É uma referência explicita ao obscuro e nunca explicado acidente de trem que Roberto teria sofrido quando jovem na cidade de Niterói no Rio de Janeiro, no qual teria perdido uma perna. Mais tarde como parte do pacto de venda de sua alma, Roberto teria ganho uma perna mecânica confeccionada pelo próprio Diabo Belfegor, o inventor-mor do reino do inferno.
Em As flores do Jardim de nossa Casa de 1969, a perda de um grande amor é pano de fundo para a narração do encontro de Roberto com o Capeta:
as nuvens brancas se escureceram
e nosso céu se transformou
o vento carregou todas as flores
e em nós a tempestade desabou
Roberto deixa a idéia de que seu encontro com o Demo foi no jardim de sua casa. Pois como todo mundo sabe terra onde o Demo pisa não nasce grama muito menos flores. Notem que também é comum na materialização de demônios fenômenos meteorológicos como os citados na letra.
Muitas das mensagens não são diretas e precisam ser analisadas dentro do sutil senso de humor satânico, é o caso de A montanha de 1972, aquela do "obrigado senhor". Notem o tom de chacota da letra e o arranjo quase infantil que ressalta a ironia demoníaca da música.
Mas nossa grande descoberta esta na música Traumas de 1971, verdadeira pérola perdida no vasto repertório do cantor:
Meu pai um dia me falou
pra que eu nunca mentisse
mas ele também se esqueceu
de me dizer a verdade
É uma referência à luta bíblica entre Deus e o anjo Lúcifer, acreditamos que foi o próprio que lhe encomendou a letra. Mais adiante Roberto se tornará nostálgico falando de anjos e da grande decepção com seu pai, aqui representado indiretamente pela figura do criador, Deus todo poderoso:
Meu pai também me falou
dos anjos que eu conheci
no delírio da febre que ardia
do meu pequeno corpo
que sofria sem nada entender
(...)
Meu Pai tentou encher de fantasia
e enfeitar as coisas que eu via
mas aqueles anjos agora já se foram
Em nossa pesquisa notamos que a partir de 1973, Roberto evitará compor novas composições de conteúdo subliminar satanista ou que fiquem sujeitas a qualquer tipo de reinterpretação, caindo num romantismo açucarado, no qual se mantém até hoje. Segundo consta a partir de então o rei Roberto estaria sendo influenciado pelo demônio Mefistófeles conhecido nos meios satânicos como o patrono da mediocridade.
Por fim tomamos a liberdade de transcrever algumas palavras do próprio Rei Roberto extraídas do livro Roberto Carlos por ele mesmo da editora Martin Claret de 1994.
"Sou muito religioso e acho errado as pessoas levantarem suspeitas em relação à fé, a Deus, a Cristo. Gostaria que todos pensassem como eu."
Não há dúvidas que Roberto deve achar errado que as pessoas suspeitem da existência de Deus. Pois se não existe Deus não existe diabo, as duas coisas se completam. São na verdade parte de um todo. É como disse o escritor russo Fiódor Dostoiévski no seu celebre romance Os irmãos Karamázovi, se não existe Deus então tudo é permitido.
Considerações Finais:
Se o arguto leitor desta revista digital ainda não aceitou a idéia do pacto do Rei com o demônio vale esclarecer que o medalhão que Roberto Carlos usa na capa de inúmeros lps foi um presente recebido, na epóca em que ele estava no seminário, de uma tal de irmã Fausta!
Além disso existe cantor brasileiro com tantas manias, do tipo só vestir marrom em dia de show? Só podem ser uma espécie de proteção contra o exército do bem.
A verdade está realmente lá fora. Deu uma saidinha, mas já volta. Quer deixar recado?
O texto acima é uma obra de ficção e qualquer coincidência com pessoas ou terceiros é meramente acidental ou usada como forma de paródia.