Vanilla Sky With Diamonds
De tempos em tempos Hollywood consegue produzir um fenômeno chamado cinema bizarro. São filmes tão ruins que estão além de qualquer capacidade de análise. É preciso admirar o talento de atores, de roteiristas, da direção, pois não é nada fácil errar tanto assim. Vanilla Sky entra com sobras em qualquer antologia do gênero. Uma obra tão consistente quanto a defesa da seleção brasileira
Vanilla Sky é uma refilmagem de um filme espanhol absolutamente desinteressante chamado Abre Los Ojos dirigido por Alejandro Amenábar. O espanhol acabou indo para Hollywood e filmando Os Outros com Nicole Kidman, a ex-esposa de Cruise. Foi um sucesso de bilheteria e junto com Moulin Rouge acabou por catapultar a carreira de Kidman. Ao mesmo tempo, Tom Cruise foi obrigado abafar um escândalo onde um ator pornô que garantia ter uma fita com, digamos assim, momentos íntimos entre os dois.
Provavelmente para fugir deste inferno astral Tom Cruise deve ter se refugiado nas drogas. E completamente fora de si, movido talvez a LSD, tentou fazer um cinema sério. Fica claro que por essas e outras é que Nicole Kidman pediu o divórcio. Ela deve ter avisado milhares de vezes. "Cruise, você não é um ator. Você é tão expressivo quanto um formulário de Imposto de Renda." Mas logicamente ele deve acreditar piamente que tem algum talento.
A trama conta a história de David Aames (Tom Cruise) um editor de sucesso. Ele comanda um grupo de revistas e publica livros. Tudo herança de seu pai. David tem a vida mansa e um sorriso de propaganda de margarina. Para acabar com o tédio existencial da sua vida se dedica a um passatempo predileto: comer gente. Entre um caso e outro ele conhece a loira modelo, atriz e manequim Julie Gianni (Cameron Diaz).
Julie é daquelas mulheres grudentas que nem chiclê de bola. Ao perceber o erro que cometeu, David passa o tempo inteiro tentando uma maneira de se livrar deste encosto. De repente surge a oportunidade na forma da exuberante Sofia Serrano (Penelope Cruz). Rapidamente Sofia mostra a que veio (com direito a cena de nudez) e conquista o playboy milionário. Os dois se apaixonam perdidamente. Tudo muito bem, tudo muito bom mas...
A vingativa Julie resolve ter uma última conversa com David. Ela dá uma carona ao seu ex-amor e decide no meio do caminho que se ele não pode ser dela então não será demais ninguém. Resolve atirar seu carro de uma ponte e causar a morte de ambos. Se a moda pega... Como resultado David vai parar em coma, mas sobrevive com um rosto todo deformado, acaba virando uma aberração ambulante. E neste ponto começam os muitos problemas de Vanilla Sky.
Primeiro Tom Cruise não tem a estatura necessária para interpretar o papel. Se limita a vagar de um lado para o outro da tela como se fosse um personagem de um freak show com direito, inclusive, a uma ridícula máscara facial. O diretor Cameron Crowe parece não saber que tipo de história está conduzindo. Não consegue criar a atmosfera de sonho que o filme exige. Na verdade, Crowe em uma das características mais irritantes do cinema americano quer explicar tudo, mas tudo mesmo e ainda entrar em detalhes.
Vanilla Sky acaba se transforma em uma bad trip de LSD. Todo o elenco parece atuar hipnotizado, rezando para que o filme termine logo. Os trinta minutos finais, onde teoricamente há uma explicação para o festival de aberrações que ocorrem na tela, estão com certeza entre as coisas mais constrangedoras que Hollywood já produziu. Ao que parece Tom Cruise perdeu tudo. Mulher, dinheiro, fama e principalmente juízo ao embarcar em uma canoa furada como Vanilla Sky.
(Vanilla Sky, EUA, 2001), Direção e roteiro: Cameron Crowe, Elenco: Tom Cruise, Penelope Cruz, Cameron Diaz, Kurt Russell, Jason Lee, Noah Taylor, Duração: 131 min.