A Batalha do Biscoito Pop-Tart
Jerry Seinfeld é um comediante obcecado com o nada. Seu seriado, que teve um imenso sucesso na década de 90, se baseava nessa premissa: de ser o melhor show sobre o nada. Bem, agora o humorista resolveu virar diretor e contar em A Batalha do Biscoito Pop-Tart a luta entre dois gigantes da indústria de cereais dos Estados Unidos. O motivo? Ambas empresas se digladiavam para criar o doce que mudaria o café da manhã norte-americano.
Honestamente, que material poderia ser extraído de uma premissa tão fraca? Nada. Então, possivelmente isso atraiu Seinfeld. O filme não é bom nem ruim. É como se o diretor se esforçasse ao máximo, mas o material de origem é limitado demais. Aliás, como diz a velha máxima do Barão de Itararé: de onde menos se espera daí mesmo é que não sai nada. E, de novo, só isso para justificar o interesse de Jerry Seinfeld.
Outro detalhe importante: cereal com leite é um hábito americano no café da manhã. É um povo que já começa o dia errado se enchendo de comida ultra-processada e com doses cavalares de açúcar. O Biscoito Pop-Tart segue na mesma linha. No Brasil a Kellogg's não conseguiu mudar os nossos hábitos. O prato mais comum do nosso café da manhã é o prato vazio...
A trama acompanha Bob Cabana (Jerry Seinfeld) que trabalha na Kellogg's. Seu chefe é Edsel Kellogg (Jim Gaffigan). A empresa domina o mercado do café da manhã. Mas aparentemente a Post comandada por Marjorie Post (Amy Schumer) está preparando uma grande reviravolta.
Aparentemente, a Post conseguiu roubar a pesquisa de Cabana com Stan (Melissa McCarthy) e estariam desenvolvendo um produto revolucionário no mercado. Temendo o pior, Cabana e Kellogg recrutam Stan de volta, junto com um time de especialistas, para desenvolver o mesmo produto. O resultado da batalha é a criação do biscoito-sanduíche Pop-Tart, um dos produtos mais consumidos dos Estados Unidos.
Ambientado em 1963, há espaço até mesmo para uma participação do presidente Kennedy (Bill Burr) e de Nikita Khrushchov (Dean Norris). Com nítida vantagem para o russo. Também existe espaço para explorar o mascote da Kellog's interpretado pelo ator shakespeareano Thurl Ravenscroft (Hugh Grant). Isso gera uma narrativa paralela que vai do nada ao lugar nenhum.
Aliás, esse é um dos problemas centrais em A Batalha do Biscoito Pop-Tart existem poucos momentos realmente engraçados. As melhores falas ficam para o personagem de Harold von Braun (Thomas Lennon), um alemão recrutado para ajudar na elaboração das Pop-Tarts. Sempre há a insinuação de que trabalhou para a Alemanha nazista e isso é feito de forma realmente engraçada.
Claro que o mais ferrenho defensor de Seinfeld pode argumentar que não tem como criar um filme minimamente interessante usando a história de uma marca. Claro que essa pessoa não assistiu a Tetris, Air: A História Por Trás do Logo ou Ford vs Ferrari...
No final das contas Seinfeld fez uma espécie de Sessão da Tarde mediana. Com um grande desperdício de tempo e dinheiro. Apesar de não ser patrocinado pela Kellogs parece um grande comercial da marca. Mas, verdade seja dita, como diretor ele mantém o ritmo do filme e consegue boas interpretações. Porém, o texto - muitas vezes absurdamente ingênuo - não sustenta um tema tão fraco. Só resta perguntar qual será o próximo nada de Jerry Seinfeld.
P.S. - Agora... ravioli senciente? Por favor, essa piada não foi massa...
(Unfrosted, EUA, 2024), Direção: Jerry Seinfeld, Roteiro: Jerry Seinfeld, Spike Feresten, Elenco: Jerry Seinfeld, Melissa McCarthy, Jim Gaffigan, Hugh Grant, Amy Schumer, Max Greenfield, Daniel Levy, Jack McBrayer, Thomas Lennon, Adrian Martinez, Isaac Bae, Sarah Cooper, Bill Burr, Duração: 93 min