Super-Homem, o retorno

A primeira conclusão possível sobre Super-Homem, o retorno é que pela primeira vez na história do cinema surge a figura do corno interplanetário. Sim, um dos heróis mais poderosos de todos os tempos tem sua cabeça enfeitada por um belo par de chifres.

Tudo por que o Super-Homem decide dar uma banda. Após encher o saco da Terra, diz a Lois Lane que vai na esquina comprar cigarros. O problema, claro, é que ele não fuma. Quando a mocinha se dá conta, o herói já está em pleno espaço sideral.

O motivo desta viagem cósmica? Astrônomos acharam vestígios do planeta Kripton e o Super decide dar uma de São Tomé e ver para crer. Assim, ele passa cinco anos longe da Terra. Tempo para que muita coisa mude e a humanidade siga sua vida sem precisar da ajuda de um sujeito que costuma vestir a cueca para fora das calças.

O problema é que quando o Super-Homem (Brandon Routh) volta descobre que sua amada Lois Lane (Kate Bosworth) decidiu seguir em frente. Ela está noiva do sobrinho do dono do jornal, Richard White (James Marsden) e já tem um filho! Para ficar mais perto de sua cara-metade, ele reassume seu disfarce de Clark Kent e volta a trabalhar no planeta diário.

O incrível nessa história toda é a sina de James Marsden. Para quem não ligou o nome à figura ele é o cara que foi o Ciclope na série X-men. Pois bem, ele já tinha levado chifre do Wolverine em X-men 3. Agora é vez de perder sua mulher para o Super-Homem. O sujeito está mesmo se tornando o corno oficial do cinema norte-americano.

Diga-se de passagem, se um jornalista some por cinco anos e retorna a redação de seu jornal procurando emprego, provavelmente vai ser escorraçado como um cachorro vadio. Na vida real, o destino de Kent seria cruel e implacável ou estaria na fila do seguro-desemprego ou fazendo assessoria de imprensa.

Vale dizer que o novato Brandon Routh, escolhido apenas por sua semelhança com Christopher Reeve, é um fracasso como ator. Simplesmente não há diferença entre o Super-Homem e Clark Kent. Faltam trejeitos, gaguejos, que diferenciem o jornalista do super-herói.

De qualquer maneira, a situação fica ainda mais complicada para o Super, depois que o seu arqui-inimigo, Lex Luthor (Kevin Spacey), foi solto da prisão. Tudo por que o vilão faz uma apelação à Justiça e a principal testemunha de acusação estava viajando pelo espaço. Então, o gênio do mal dá uma de gigolô de velhinhas para ficar rico.

Depois de fazer uma pequena fortuna, resolve roubar os cristais da Fortaleza da Solidão. O motivo? Criar um novo continente! O único problema é que com isso metade dos Estados Unidos seria inundada. Ou seja, mais um plano mirabolante e sem noção.

Aliás, este é um dos problemas mais graves do filme. Mesmo depois de tanto tempo, Luthor ainda é retratado como um sujeito patético. Ao invés de aproximar sua personalidade com a do vilão das histórias em quadrinhos, há uma desnecessária homenagem à criação de Gene Hakcman feita em 1978.

Isto, inclusive, parece ser uma idéia fixa do diretor Bryan Singer. Ele se nega a atualizar os conceitos do Super-Homem. Mais de uma década se passou, mas o roteiro parece saído direto dos anos 80. É como se a franquia recomeçasse partir do segundo filme. Singer chega - até mesmo - a usar cenas com o falecido ator Marlon Brando. Coisa que só serve para deixar Super-Homem, com um sabor de coisa obsoleta e ultrapassada como rock brasileiro.

Os coadjuvantes também não ajudam muito. Kate Bosworth melhorou um pouco em relação a tosca Margott Kidder. Vale ressaltar que a meiga e doce Lois dos quadrinhos fez muita gente optar pelo jornalismo. O duro é entrar em uma redação e perceber que a realidade é bem outra...

No Planeta Diário, Perry White (Frank Langella) e Jimmy Olsen (Sam Huntington) com suas bizarras e inacreditáveis gravatas borboletas não acrescentam nada. Para piorar, o encontro entre Clark sua mãe Martha Kent é mais gelado do que banheiro ao ar livre na Antártida.

Curiosamente, o final de Super-Homem, o retorno, reserva uma supresa brega ao extremo. Coisa de fazer o cantor Falcão vibrar de alegria. No futuro, talvez algum acadêmico se arrisque a dizer que o filme de Bryan Singer é uma análise profunda da mitologia do corno, ou melhor, do super-corno.

Para não dizer que tudo é um desastre total, a cena da queda do avião é bem-feita. Mas é só. Super-Homem, o Retorno é, no final das contas, um filme ultrapassado. É como ouvir Lambada ou música sertaneja. O herói se tornou um romântico incurável. Só falta mesmo sair voando pelos céus em seu uniforme "Didi Mocó" cantando Amado Batista ou Waldick Soriano...

J. Tavares

(Superman Returns, EUA, 2006), Direção: Bryan Singer, Elenco: Brandon Routh, Kevin Spacey, Kate Bosworth, Frank Langella, James Marsden, Sam Huntington, Eva Marie Saint, Parker Posey, Kal Penn, Stephan Bender, David Fabrizio, James Karen, Jack Larson, Ian Roberts, Jeff Truman, Peta Wilson, Duração: 154 min.

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