A Substância

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A Substância é um filme que não tem meio termo. Ou você não gosta ou você está errado. No fim das contas, o roteiro pega um tema importante, que merece ser discutido em profundidade, e transforma num terror quase cômico.

A trama de “A Substância” conta a história de Elizabeth Sparkle (Demi Moore). Ela é uma atriz que teve sua época de ouro, com direito a estrela na calçada da fama. Porém, agora, aos 50 anos, ela é apresentadora de um programa de ginástica.

Porém, seu chefe (Dennis Quaid) - um sujeito que definitivamente não sabe como comer um camarão - avisa que Elizabeth será substituída por uma atriz mais jovem. Ela, claro, entra em crise. No sistema capitalista, se você tem mais de 50 anos só resta trabalhar no Uber. A diferença é pra quem se formou em engenharia. Aí basta sair da faculdade para virar motorista de aplicativo.

No auge do desespero, com tudo dando errado na sua vida, com um roteiro forçando a barra no nível de tragédia pouca é bobagem, Elizabeth descobre a Substância. É uma espécie de droga experimental que promete torná-la “a melhor versão de si mesma”. Isso significa apenas uma mulher mais jovem e mais bonita.

A premissa é interessante. Só que A Substância decide apostar no gênero "body horror". Então dê-lhe closes explícitos em cenas grotescas. Mas esse não é necessariamente o problema do filme. Se a ideia é mostrar os sacrifícios para se manter eternamente jovem, para atender o padrão de beleza exigido pela sociedade, dá para entender o uso desse recurso.

O problema é que o roteiro desperdiça muitas das ideias que apresenta. Por exemplo, Elisabeth usa a substância. Gera uma versão mais jovem de si mesma. Adota o nome de Sue (Margaret Qualley). Não é uma pessoa diferente. Ela é Elizabeth. Só que aos 20 anos a vivência e os desejos são diferentes do que aos 50 anos. Esse contraste é interessante. Porém, a diretora Coralie Fargeat está mais empolgada em abusar do "body horror".

O roteiro acaba se tornando cansativo e fugindo da discussão que ele mesmo iniciou. Isso até surgir o ato final. A partir daí, o filme ignora toda a seriedade e pretensão, basicamente renega tudo que foi construído, esquece qualquer tipo de sutileza e parte para a patifaria pura e simples. Basicamente, a lógica e o bom senso dizem que vão na esquina comprar cigarros e não voltam mais.

É uma sequência inacreditável do gratuito pelo gratuito. O discurso final que deveria ser o auge da denúncia é cômico, patético. Parece que saiu direto de algo que poderia ser chamado de A Revolta da Namorada do Toxic Avenger (sim, homenagear um trash movie da Troma nunca é um bom sinal).

A diretora Coralie Fargeat tenta criar um filho que mistura O Crepúsculo dos Deuses com Réquiem para um Sonho. Mas com um resultado infinitamente inferior. A Substância não é uma obra-prima, não é um clássico moderno. É só uma prova que essa geração está tomando Ozempic demais e cerveja de menos...

P.S. A quem interessar possa Demi Moore atualmente tem 61 anos. E, sim, poderia tranquilamente ter uma conta no Only Fans.

J. Tavares

(The Substance, EUA, França, 2024), Direção e roteiro: Coralie Fargeat, Elenco: Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid, Oscar Lesage, Gore Abrams, Tiffany Hofstetter, Hugo Diego Garcia, Alexandra Barton, Joseph Balderrama, Duração: 140 min.