Sin City - A Cidade do Pecado

Sin City - A Cidade do Pecado é dos maiores equívocos cinematográficos de todos os tempos. O motivo é simples. O filme dirigido por Robert Rodriguez e Frank Miller é tudo menos cinema. A razão é que ambos optaram por uma fidelidade absurda e irreal às histórias em quadrinhos que deram origem à trama.

Para quem não sabe, as três histórias do roteiro foram retiradas da famosa graphic novel criada por Frank Miller. O desenhista, depois do desastre de seus roteiros para Robocop 2 e 3, ficou com um pé atrás com relação às boas intenções de Hollywood. Portanto, exigiu uma fidelidade canina à sua obra.

O diretor Robert Rodriguez topou a aposta. Ele conseguiu se encontrar pessoalmente com o desenhista em um bar de Nova York. Então, Rodriguez mostrou em seu laptop uma seqüência de cinco minutos (a mesma que abre o filme), que foi a primeira versão do universo de Sin City para o mundo do cinema. O detalhe é que os protagonistas da cena eram o próprio cineasta e sua irmã, Patricia Vonne.

Como Frank Miller já devia estar completamente bêbado de tanto tomar a cerveja que leva o sobrenome acabou achando tudo excelente. Topou liberar os direitos de filmagens da obra para Rodriguez e ainda se escalou para ajudar na direção. Curiosamente, o Directors’ Guild of America (DGA), sindicato dos diretores dos Estados Unidos, avisou Rodriguez de que ele e Miller não poderiam dividir a autoria do filme.

Como resultado, Rodriguez simplesmente picou a mula e largou o sindicato. Para reproduzir o universo de Sin City, o diretor de Pequenos Espiões usou a mesma técnica utilizada em Capitão Sky e o Reino do Amanhã. A filmagem é feita com câmeras digitais em cores – o preto-e-branco é introduzido digitalmente na pós-produção.

Os atores atuam com figurino e maquiagem em cenários de fundo verde. Todos os demais elementos da cena são inseridos digitalmente em uma etapa posterior. A única exceção foi o bar de Kaddie, para o qual foi construído um cenário de verdade.

Esta maneira pouco usual de filmar explica a participação de Quentin Tarantino. Ele dirige a seqüência que se passa em um carro - onde o durão Dwight (Clive Owen) guia um carro cheio de cadáveres e conversa com um deles, Jackie Boy (Benicio del Toro). Tarantino fez uma aposta. Faria duas filmagens. Na primeira usaria um veículo de verdade. Depois utilizaria um fundo verde. Para o diretor de Pulp Fiction, a filmagem digital não iria funcionar direito e o truque seria facilmente percebido. Errou feio. Como resultado pagou um dólar para Rodriguez.

O roteiro de Sin City - A Cidade do Pecado, aliás, lembra muito Pulp Fiction. São três histórias que de alguma forma se entrelaçam. Na primeira um policial prestes a se aposentar Hartigan (Bruce Willis) salva uma garotinha de um perigoso serial killer. Depois, um assassino profissional Marv (Mickey Rourke) investiga o assassinato de uma bela mulher.

A terceira parte da trama conta como o ex-matador Dwight (Clive Owen) se mete uma enrascada quando um policial é morto por acidente na Cidade Velha, local dominado por prostitutas, com destaque para as carismáticas Gail (Rosario Dawson) e Miho (Devon Aoki).

No final, Hartigan retorna para descobrir que Nancy Callahan (Jessica Alba), a garotinha salva no início do filme, virou um mulherão e está sendo ameaçada por um psicopata (mais conhecido como o assassino amarelo).

Sin City na verdade recicla todos os clichês do cinema noir. Novamente, a influência dos romances de Raymond Chandler e Dashiell Hammett é visível. Ou seja, todos os personagens masculinos são sujeitos casca-grossa sempre prestes a sacar sua arma e matar tudo o que vier pela frente. Já as mulheres são sempre fatais (até por que fatalmente vestem pouquíssima roupa).

O grande erro de Sin City foi justamente tentar emular na tela grande o universo das histórias em quadrinhos. O resultado final é fraco, pois ninguém parece preocupado em fazer cinema. Quer dizer, a cada seqüência que resulta interessante existem uma centena de momentos dignos de um trash-movie.

Em Sin City, as pessoas saltam da janela ao invés de usar a porta ou são atropeladas três vezes e ainda saem caminhando normalmente. Realmente patético. Outro detalhe importante: o texto de Frank Miller pode funcionar no espaço restrito de uma página de papel. Porém, no cinema soa quase sempre rídiculo e pedante.

No final das contas, Sin City é um filme apenas para os fãs de Sin City. Nem toda a sanguinolência e o visual da obra conseguem esconder as fraquezas do roteiro. Da próxima vez, é melhor o Frank Miller tomar umas cervejas a mais e permitir que alguém faça um filme fiel - não aos quadros - mas ao espírito de suas HQs.

J. Tavares

(Sin City, EUA, 2005), Direção: Frank Miller e Robert Rodriguez, Diretor especialmente convidado(?): Quentin Tarantino, Elenco: Jessica Alba, Clive Owen, Mickey Rourke, Brittany Murphy, Rosario Dawson, Benicio Del Toro, Michael C. Duncan, Carla Gugino, Josh Hartnett, Rutger Hauer, Jaime King, Michael Madsen, Devon Aoki, Alexis Bledel, Powers Boothe, Duração: 124 min.

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