Rolling Stones - Shine A Light

Os Stones sempre registraram, de uma forma ou de outra, alguns de seus piores momentos: a decadência física e mental do guitarrista Brian Jones no filme Sympathy For The Devil de Jean-Luc Godard, o assassinato de um fã no autódromo de Altamont, por Hell Angels, no documentário Gimme Shelter de 69, a fase cocaína e álcool em Cocksucker Blues de 72, que permanece até hoje proibido pela banda, a continuação da fase cocaína e álcool em Let's Spend the Night Together de 81 e por fim Shine A Light de Martin Scorsese, que é basicamente o registro da conseqüência de todos esses excessos, após quase meio século de existência!!!

O Cd duplo e DVD Shine A Light é um registro burocrático e correto, duas palavras poucas vezes associadas aos Rolling Stones, de uma apresentação absolutamente esquecível da banda no final de 2007 em Londres. É tudo muito certinho e polido a exaustão. É possível até entender o que Mick Jagger está dizendo. Agora tente fazer o mesmo em qualquer show de 69 ou 72.

Como atrativo extra, mas duvidoso, Shine A Light trás alguns duetos da banda com gente como Buddy Guy, Jack White III, dos White Stripes e, pasmem, Christina Aguilera. O dueto com Buddy Guy, em Champagne & Reefer de Muddy Waters é competente apesar do acompanhamento de músicos de verdade fazer falta. Jack White em Loving Cup é apenas passável. Menos constrangedor do que o dueto com Axl Rose nos anos 90. Já Christina Aguilera parece que caiu de pára-quedas no palco de tão perdida. Em 'Live With Me', Mick Jagger consegue, usando o milagre da mixagem, colocar sua voz em primeiro plano, deixando a de Christina bem para trás. Talvez não o suficiente, é verdade.

Shine A Light é no fundo um documentário chapa-branca e dispensável, que parece ter sido feito apenas para inflar o ego caído de Mick Jagger. Como se isso fosse realmente necessário. Afinal viagra é muito mais indicado para esse tipo de coisa.

Ao se assistir o filme fica claro a necessidade de ser criada uma aposentadoria compulsória por tempo de serviço no rock. Pois para as novas gerações de saudosistas assistir Keith Richards ou Ron Wood em alta resolução pode ser uma experiência traumatizante. Pois o caso da decadência dos Stones não é de ver para crer, está na cara.

Pedro Camacho