Sex and The City - O Filme

Sex and The City - O Filme Sex and The City - O Filme Sex and The City - O Filme Sex and The City - O Filme Sex and The City - O Filme Sex and The City - O Filme Sex and The City - O Filme Sex and The City - O Filme Sex and The City - O Filme

As mulheres podem não gostar, mas Sex and The City - O Filme tem provavelmente um dos roteiros mais machistas de todos os tempos. Aliás, não se poderia esperar nada de diferente. Como fazer para contar a história de quatro barangas fúteis que vivem gastando todo o seu dinheiro em moda ao mesmo tempo em que posam de liberais e liberadas? No papel, até pode soar moderno, porém - no fim das contas - tudo que elas sonham é em casar na Igreja vestidas de branco...

O filme dirigido por Michael Patrick King começa - cronologicamente falando - quatro anos depois do último episódio da série homônima, que foi exibida pela HBO americana entre 1998 e 2004, baseada no livro da escritora Candace Bushnell. A trama retoma as aventuras de Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), Samantha Jones (Kim Cattrall), Miranda Hobbes (Cynthia Nixon) e Charlotte York (Kristin Davis). Claro que elas estão mais velhas, mais feias, mais excêntricas e mais problemáticas.

Para sustentar absurdos 148 minutos, o roteiro perde um tempo imenso em dramas pífios e patéticos. Além da moda, há um inacreditável desfile de clichês. Coisa que só pode interessar a patricinhas ou mulheres ricas com tempo - e dinheiro - suficiente para fingir crises de meia-idade. Aliás, Sex and the City - O Filme consegue desagradar quem era fã do seriado e quem não era.

Carrie Bradshaw parece ter encontrado a receita da felicidade, ou seja, encontrou um marido rico Mr. Big (Chris Noth). Um sujeito capaz de comprar apartamentos a vista e reformar armários. Porém, a ZeroZen, a única revista com ISO 9002 em machismo, lembra da sabedoria popular que diz: "mulheres não gostam de homens, gostam de dinheiro..."

Pois bem, diante de tanta felicidade, Carrie decide que é hora de botar tudo a perder. Então, insiste em se casar com Mr. Big. Até aí, tudo bem. É a reação que se esperava da protagonista. Mr Big, de longe o melhor personagem do seriado, aceita tudo de maneira calma e bovina, para a supresa de Carrie. A partir deste momento, a escritora sai da casinha. Ela quer transformar o que deveria ser uma cerimônica simples em um casamento para 200 convidados a ser realizado na Biblioteca Municipal.

Então surge o primeiro de uma série inacreditável de problemas de roteiro do filme (e não estamos falando do bizarro vestido de csamento de Carrie). Mr Big fica com medinho, pede para sair e desiste do casamento! Peraí.... o experiente Mr. Big agindo como um fanfarrão? É dose para mamute. Claro que como se trata de uma comédia romântica é necessário separar o casal de protagonistas até a reconciliação final, porém o motivo é totalmente absurdo e incoerente.

Depois do fiasco, Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda vão para o México. A lua-de-mel já estava paga e as amigas temem deixar Carrie sozinha. O que faria uma mulher desinibida, independente, fashionista, poderosa, profissional e batalhadora como ela? Simples. Passa a encher a cara.

Na volta a Nova Iorque, Carrie se recusa a falar com Mr. Big. Aliás, que tipo de mulher faria isso após uma humilhação pública tão agressiva e brutal? Com o tempo, a escritora sente a necessidade de contratar uma assistente. A escolhida é Louise (Jennifer Hudson). Por que isso? Fácil. Por que o filme precisa durar abusivos 148 minutos.

Entre um desfile e outro, Sarah Jessica Parker veste nada menos do que 80 modelos em todo o filme, vão se revelando as demais tramas do filme. Charlotte depois de adotar uma criança chinesa, finalmente consegue ficar grávida. Samantha percebe que não é nem nunca foi mulher de um homem só. E Miranda descobre que seu marido Steve Brady (David Eigenberg) a traiu...

Epa! Epa!O que faria uma mulher desinibida, independente, fashionista, poderosa, profissional e batalhadora como ela? Simples. Depois de alguma hesitação, decide perdoar o pobre homem. Não é genial? Se o seriado defendia liberdade de escolha das barangas de 30 e poucos anos, o filme parece dizer "se você é uma mocréia e já passou dos quarenta é melhor ter bastante senso de humor e fingir que certas coisas não aconteceram".

A quem interessar possa: uma das características da série, a nudez, foi mantida. Das atrizes principais (Kristin Davis até tentou, mas chorou tanto que o diretor mudou de idéia), somente Cynthia Nixon resolveu encarar a tradição. Decididamente, se a visão já não era das melhores em 1998, dez anos depois não levanta nem defunto. Porém, existe nudez masculina em excesso. Com uma cena que poderia ter sido cortada na mesa de edição.

Por fim, Sex and the City - O Filme comete o mesmo erro de Sex and the City - O Seriado. O melhor personagem - o neocanalha Mr. Big - é rapidamente posto para escanteio. Porém, como Carrie percebe, John tem um coração enorme e uma carteira maior ainda. Então, ambos ficam juntos e se casam (será esta a última ambição de toda a mulher moderna e descolada?). Conclusão? Mr Big é o Jece Valadão do novo milênio...

P.S.: Quanto dinheiro Hollywood ainda vai gastar para convencer a humanidade que Sarah Jessica Parker é uma mulher bonita? Isto não tem o menor fundamento. Talvez seja uma das provas vivas de que o apocalipse está próximo...

Jota Tavares

(Sex and the City, EUA, 2008), Direção e roteiro: Michael Patrick King, Elenco: Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth, Candice Bergen, Jennifer Hudson, David Eigenberg, Evan Handler, Jason Lewis, Mario Cantone, Lynn Cohen, Willie Garson, Joseph Pupo, Duração: 148 min.