Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei

“Mas estes hobbits são uns casalzinhos!”
Comentário de uma inocente e anônima espectadora na saída de O Retorno do Rei

Liberou geral. Realmente, se alguém ainda duvidava da relação homoerótica, ou melhor, hobbiterótica entre Frodo e Sam vai ficar de cabelos em pé em Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. Até mesmo Pipin e Merry entram na dança. A quantidade de diálogos onde o ridículo campeia frouxo é constrangedora.

Aliás, a coisa é tão escancarada que a ZeroZen, a única revista que pisa nos calos dos hobbits, gostaria de sugerir que algum carnavalesco do Rio de Janeiro fizesse um carro alegórico chamado: “Não dou Pelotas ao mundinho de J.R.R. Tolkien”. Por favor, não há qualquer preconceito na afirmação. Cada hobbit faz o que achar melhor. O problema é que realmente as cenas de amizade (sic) entre eles acrescentam muto pouco à trama.

O filme começa explicando a origem do Gollum. É possível ver Sméagol (Andy Serkis) antes de ser dominado pelo Um Anel. Depois do prólogo, a história mostra Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin), famintos e sedentos.Eles continuam a atravessar Mordor, lar do terrível senhor da escuridão, Sauron. Lá eles terão que chegar à Montanha da Perdição e destruir o Um Anel, artefato que dá poder ao inimigo. Ajudando a dupla está o traiçoeiro Gollum, que está tramando um meio de conseguir o anel para si.

Enquanto isso, finalmente cai a ficha em Aragorn (Viggo Mortensen) que percebe que quem nasceu para ser rei não perde a majestade. Ele porém precisa provar que é merecedor do trono de Gondor atualmente ocupado pelo insano regente Denethor (John Noble), pai de Boromir (Sean Bean) e Faramir (David Wenham).

Ao mesmo tempo em que Aragorn queima seus neurônios pensando no discurso de posse, Gandalf, o Branco (Sir Ian McKellen), de uma hora para outra, se transforma em um general capaz de comandar a resistência de Gondor. Este é o tipo de mágica que o David Blaine não consegue fazer.

No quesito dupla cômica elfo Legolas (Orlando Bloom) e o valente anão Gimli (John Rhys-Davies) acompanham como sempre os heróis entre uma piada e outra. Afinal, todos vão precisar de muita coragem para enfrentar a horda do inimigo, que reuniu povos de todos os cantos para desferir o ataque decisivo a Minas Tirith, capital de Gondor e última fortaleza humana.

No meio de tudo, Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd) tornam-se soldados e terão papéis fundamentais no confronto. Aliás, o verdadeiro herói do filme é Pipin. Para quem duvida o diretor Peter Jackson inventou uma seqüência absurdamente inconcebível onde o hobbit tem de acender o acender o farol de Gondor! E Pippin consegue. Escala furtivamente a torre onde está a madeira que inicia o sinal e faz o circo pegar fogo.

Só isso já mais do que Frodo fez em todo o filme. Cada vez mais fica claro que ele só serve para fazer uma tarefa (carregar o Um Anel) e mesmo assim quase que não dá conta do recado. No caso dele vão se os dedos e os anéis...

Aliás, um coisa tem de ficar clara logo de início Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei é o pior episódio da trilogia. Só funciona para quem não leu Tolkien tamanha a quantidade de absurdos cometidos pelo roteiro. O mais grave deles é: cadê o Saruman?

É profundamente idiota a ausência do mago. Bastam duas frases para explicar o final de Saruman (Christopher Lee). Porém, a solução entrada pelo roteiro, além de canhestra é falsa. O destino do vilão é completamente diferente. Na verdade, no final do livro, os hobbits voltam para o Condado e descobrem Saruman dominando o pedaço com uma gangue (depois de ter sido derrotado pelos ents na torre de Isengard, ele virou mendigo e perdeu os poderes) e o derrotam. Por esse motivo Saruman acaba morto por Língua de Cobra.

Ou seja, na primeira resenha da trilogia foi dito que o Senhor dos Anéis tinha sido o único livro lido pela imensa maioria dos jornalistas da tacanha imprensa brasileira. E foi mesmo. Só que esta gentalha sequer se deu ao trabalho de ler a trilogia inteira!! Por isso, de maneira adesista e covarde silenciam sobre os equívocos monumentais do filme.

O Retorno do Rei abusa do uso da steady cam (a famosa câmera de mão) quase sempre em situações equivocadas. Há um excesso de panorâmicas como contraponto aos freqüentes closes nos hobbits. E, nem precisaria ser dito, a concepção de Sam choroso e devotado exageradamente ao amigo e patrão Frodo. É algo piegas e melodramático ao extremo. A cena onde Sam carrega Frodo nas costas é hilária.

Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei prova que o melhor a fazer com as obras de J.R.R. Tolkien é deixá-las quietas na estante.

Paulo Pinheiro

(The Lord of the Rings: The Return of the King, EUA, 2003), Direção: Peter Jackson. Com: Elijah Wood, Ian McKellen, Viggo Mortensen, Sean Astin, Orlando Bloom, John Rhys-Davies, Billy Boyd, Dominic Monaghan, Miranda Otto, Karl Urban, Bernard Hill, David Wenham, John Noble, Cate Blanchett, Liv Tyler, Hugo Weaving, Sean Bean, Ian Holm, Andy Serkis, Duração: 201 min.

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