Episódio I

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Episódio I – O roteiro fantasma

"O mais importante num filme é o roteiro. Cineastas não são alquimistas. De titica de galinha não se faz chocolate." Billy Wilder

Quando O Retorno de Jedi estreou em 1984, falava-se que a saga Starwars ainda teria mais duas trilogias, num total de nove filmes. Mas após assistir O Retorno de Jedi,  o que passava pela cabeça da maioria das pessoas, normais, era: como uma bobagem tão grande ainda teria mais seis filmes? George Lucas levou 16 anos reverter as expectativas negativas criadas em torno do projeto. Afinal nem o fã mais ardoroso da série é capaz de dizer que, realmente, gostou de O Retorno de Jedi. Não se pode negar que ele obteve sucesso em sua estratégia. Com a Lucas Arts alimentou-se o mito em torno da primeira trilogia, com jogos para computador, brinquedos e todo tipo de bugiganga para colecionadores. Por fim fechou-se o ciclo com chave de ouro com o relançamento nos cinemas da trilogia em cópias digitais restauradas e com cenas adicionais que nada acrescentavam, e já que deixaram alguns fãs desconfiados do que estava por vir.

Estava tudo pronto para o lançamento de Episódio I – A ameaça fantasma, e nada podia dar errado. Nada mesmo? Ledo engano Starwars Episódio I é um filme medíocre que se sustenta nos seus efeitos especiais, mas se tirarmos isso o filme desaba . George Lucas que ficou mais de vinte anos sem dirigir um filme e parece ter desaprendido o ofício. O filme dá a impressão de ser uma colcha de retalhos mal-cerzida de um esboço de roteiro, parece que várias equipes de filmagem trabalharam com diferentes histórias e juntaram tudo na montagem final. E deu no que deu.

"ZeroZen - Momento de Lucidez"

Crianças, crianças... se o melhor de um filme são seus os efeitos especiais, é preciso que vocês entendam de uma coisa: este filme não presta. Sua relevância vai durar o tempo exato em que demorar para surgir um novo filme que o supere em termos técnicos. É a mesma coisa que acreditar que aquele computador de última geração que você comprou na semana passada, será o top de linha para sempre. Quando todos nós sabemos que dentro de um mês ou dois ele já vai estar defasado. Os efeitos especiais de Starwars daqui há alguns meses estarão tão defasados quanto um computador 386.

O importante num filme é a história o resto é bijuteria. E a história de Episódio I é uma confusão premeditada difícil de acreditar e impossível de explicar. Trata-se do verdadeiro samba do crioulo doido intergalático, que só quem não tem mais o que fazer, talvez, tenha tempo para decifrá-la.

A primeira trilogia de Starwars, acreditem ou não, era uma alegoria sobre a guerra do Vietnã. Os Estados Unidos tinham acabado de perder uma guerra usando uma tecnologia superior, e segundo a idéia do seu criador George Lucas o que faltara aos soldados americanos fora o espirito interior, "a força" e determinação dos vietcongues. Hoje Lucas usa a tecnologia dos efeitos especiais da Light and Magic para disfarçar a falta de assunto.

Se Lucas queria contar para as pessoas porque Darth Vader é mau , porque ele escolheu "o lado negro da força", poderia muito bem ter feito isso num flash back, em algum daqueles momentos maçantes de O retorno de Jedi. Além disso nos pouparia o constrangimento passado com aqueles bichinhos de pelúcia insuportáveis: os Eworks.

E falando em personagens insuportáveis...

O que dizer do gungan(é isso mesmo?) Jar Jar Binks? Não conseguiram contratar um chato como Chris Rock, ou outro desses comediantes americanos em voga, e resolveram fazer uma versão digital do mesmo. Tão chata quanto. E pensar que existe gente que esperou 16 anos para ver um personagem como Jar Jar Binks. O que posso dizer: só lamento. O pior é que George Lucas tem complexo de Zagalo: vocês vão ter que engolir Jar Jar Binks nos próximos episódios da saga.

Esse deve ser o pior personagem feito por computador já criado. É o primeiro canastrão digital. Reparem que Liam Neeson e Ewan Mcgregor não parecem acreditar no que estão fazendo, eles nunca parecem estar olhando realmente para Jar Jar. Nem eles conseguiram acreditar nesse personagem, o que dirá os pobres espectadores.

O elenco inteiro está mal, obra da péssima direção de atores e da escolha errônea para os papeis principais. A Rainha Amidála (Natalie Portman) e Anakin Skywalker (Jake Lloyd) se merecem, pois são dois dos atores mirins mais chatos que já apareceram no cinema americano nos últimos anos. Jake Lloyd consegue se mais chato e irritante que aquele garoto do Central do Brasil.

E tem a participação do Samuel"mothafucka"Jackson que é menos do que simbólica, cuja relevância parece ser unicamente dar um papel para um ator negro na nova trilogia. Ficamos esperando, em vão, que Jackson,  mais conhecido por seus filmes com Tarantino, onde se notabilizou ao fazer papeis de marginais,  sacasse  a qualquer momento uma 45 e estourasse os miolos de Anakin ou do mestre Yoda, e desse ao filme um pouco emoção.

Esse episódio de Starwars parece ter o mesmo problema da série Startrek Next Generation: personagens alienígenas demais em cena. Não existe ninguém com quem uma pessoa normal possa se identificar. Além disso os personagens humanos são tão inócuos e tolos que parecem agir como se fossem de outro planeta. Falta um personagem pé no chão, como Han Solo nessa nova trilogia.

Sem contar que ninguém gosta de imaginar um futuro em que humanos tenham que pedir conselhos para bichinhos verdes de um metro de altura.

Enfim a série terá mais dois episódios, sobre o quê exatamente não sabemos. Parece que o segundo episódio será uma história de amor, narrando o romance entre a Rainha e Anakin Skywalker. Resta saber se Anakin vai usar a "força" para deitá-la no solo e fazê-la mulher...

Mas com sorte o mundo acaba antes disso.

Saulo Gomes