AsTrês Patetas de Hollywood
Pense bem: o que é melhor do que uma uma investigadora gostosa? Três investigadoras gostosas. Todo o filme As Panteras se resume nisso. O charme da série de TV da década de 70 (no original Charlie's Angels) foi para o espaço. Restaram seqüências de lutas marciais roubadas descaradamente de Matrix (o que já não é necessariamente uma garantia de qualidade) e a exploração do carisma das atrizes.
Natalie (Cameron Diaz), Dylan (Drew Barrymore) e Alex (Lucy Liu) são três mulheres recrutadas por um misterioso Charlie para fazerem parte de uma agência de detetives. Elas são ciceroneadas pelo atrapalhado Bosley (um Bill Murray decadente e sem graça). As semelhanças com o seriado original criado por Ivan Goff e Ben Roberts param por aí. Aliás, o roteiro que passou pelas mãos de nada mais nada menos do que 17(!!!) pessoas é um primor de inteligência.
Um brilhante engenheiro Eric Knox (Sam Rockwell) é seqüestrado. O suspeito principal é um magnata das comunicações Roger Corwin (Tim Curry). Corwin estaria atrás de um dispositivo criado por Knox que funcionaria como um DNA de aúdio (?!) capaz de localizar qualquer pessoa pela voz. Assim, a presidente da Knox Tecnologia, Vivian Wood (Kelly Linch) pede socorro as Panteras para salvar o planeta e o mundo livre.
Mas é aquela velha história: não é por que todo mundo usa windows que é preciso acreditar no sistema. Claro que as coisas nem sempre são o que parecem e as três investigadoras vão ter de usar milhares de disfarces, centenas de perucas diferentes, e inúmeros golpes de caratê até resolver o instigante enigma. Como o filme dirigido pelo inexpressivo McG (quem? quando? como?) não se leva a sério e prefere acreditar que rir de um roteiro tão pífio é o melhor remédio, Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu se transformam nas três patetas de hollywood.
O problema é que no quesito comédia só Lucy Liu (do seriado Ally McBeal) mostra algum talento. A melhor cena do filme é dela ao disfarçar de uma consultora de qualidade total. Uma curiosidade: o namorado de Lucy no filme é Matt LeBlanc, que repete o papel de aspirante a ator que faz no seriado Friends. É bem possível que ele tenha até utilizado os mesmo diálogos da série. Cameron Diaz faz o papel dela mesmo, ou seja, loira burra e não compromete. Já Drew Barrymore, que é também a produtora executiva do filme e que deu um jeito de colocar o seu namorado e VJ da MTV americana Tom Green no elenco, está fagocitável e é só. Diga-se de passagem foi idéia de Drew que na versão para o cinema "As Panteras" não usassem armas. Sabe como é: quem aos 8 anos já fumava maconha não tinha muito tempo para assistir televisão...
As Panteras também merecem destaque no quesito pontapés. Depois de Matrix um chute na cara se transformou em um épico maior do que Os Lusíadas. As heroínas começam a dar um golpe na segunda e só terminam no sábado. São tantas seqüências impossíveis e ridículas, que dentro em breve os filmes de Bruce Lee vão se transformar em exemplos de seriedade narrativa.
Outro momento infeliz de As Panteras é a invasão de um cofre supersecreto. Desde Missão Impossível ninguém aguenta mais. Todo mundo tem de invadir laboratórios inexpugnáveis ou fortalezas indevassáveis. Dífícil mesmo é abrir uma lata de sardinhas sem abridor ou comprar um apartamento financiado.
No fim das contas, para ver As Panteras é preciso fazer que nem o diretor e os roteiristas. Deixar o cerébro em ponto morto. Se o atual cinema americano é feito para vender pipoca, as três patetas cumprem bem a sua função (nos 10 primeiros dias de exibição, o filme faturou US$ 75 milhões nos EUA). Só ficou faltando a guerra de tortas...
(Charlie's Angels, EUA, 2000) , Direção: McG, Elenco: Drew Barrymore, Cameron Diaz, Lucy Liu, Bill Murray, Matt LeBlanc, Sam Rockwell, Tim Curry, Tom Green, Kelly Linch. Duração: 98 min.