Os Produtores
Em 1967, Mel Brooks fez uma comédia inteligente que ninguém viu. O filme se chamava Primavera para Hitler e ganhou o Oscar de melhor roteiro original como prêmio de consolação. Com o objetivo de sair do ostracismo, o ex-diretor transformou a sua idéia em um musical da Broadway. Para não ficar muito óbvia a fraude mudou o nome e chamou esta versão requentada de Os Produtores.
Pois bem. A mesma trama de 1967 se transformou em um musical de sucesso. Qual seria o passo seguinte? Levar o mesmo roteiro - agora em formato de musical - para os cinemas. Por uma brutal ironia do destino, o filme Os Produtores virou também um sucesso nas bilheterias norte-americanas.
Brooks merece o Oscar de melhor negociante do ano por fazer Hollywood pagar duas vezes pela mesma coisa. O fato é que o filme de 1967 é muito melhor e a nova trama não acrescenta muito. Como musical não tem muita relevância nem possui canções memoráveis. Algumas piadas soam datadas. Talvez por que só funcionassem mesmo há 40 anos.
A trama começa quando o produtor teatral Max Byalistock (Nathan Lane) recebe a visita de seu contador Leo Bloom (Matthew Broderick, em uma atuação lamentável). Após uma sugestão feita por acaso por Leo, de que um fracasso daria mais dinheiro do que um sucesso na Broadway, eles decidem se unir. A idéia é produzir a pior peça de todos os tempos.
Assim, ela sairia de cartaz após um único dia de exibição. Com isso, todo o prejuízo passaria a ser responsabilidade dos patrocinadores. Gente disposta a pagar as aventuras teatrais de Byalistock não faltam. Ele conta com uma legião de patrocinadoras, formada por velhinhas ricas e assanhadas, a quem Max Byalistock costuma prestar favores sexuais em troca de polpudos cheques. Aliás, um dos melhores momentos do filme é justamente o balé das velhinhas de andador.
Os ardilosos produtores ainda contam com um reforço de peso para cumprir sua missão, a secretária Ulla (Uma Thurman). Depois de muita leitura ruim, Max e Leo finalmente encontram a pior peça de todos os tempos. Ela se chama Primavera para Hitler e foi escrita por Franz Liebkind (Will Ferrell), um neonazista ferrenho. Ele concebeu o texto para provar que Hitler era um bom sujeito!! Eis a piada suprema de Brooks: um judeu usando um dos maiores tiranos da história da humanidade para ganhar dinheiro.
Para garantir o fracasso total de seu empreeendimento, Max e Leo contratam o pior diretor de todos os tempos, Roger De Bris (Gary Beach). Tudo parece funcionar perfeitamente e a fórmula de um desastre está montada. Porém, um pequeno incidente muda a ordem das coisas e o musical se torna um sucesso retumbante.
Mel Brooks já foi um dos mais importantes diretores de comédia do cinema. Ele provavelmente deve estar rindo à toa. Pois sem precisar sequer se esforçar muito conseguiu faturar um bom dinheiro. O filme não é tão engraçado quanto parece e serve para provar como Hollywood está carente de idéias. Para que tem paciência, o filme tem uma piada no final dos créditos mais um último número musical.
(The Producers, EUA, 2005), Direção: Susan Stroman, Elenco: Matthew Broderick, Nathan Lane, Uma Thurman, Will Ferrell, Gary Beach, Duração: 134 min.