Olga
Verdade seja dita: o Brasil aprendeu a fazer filmes tão insípidos, insossos e inodoros como qualquer sitcom norte-americano. Há uma esforçada tentativa de emular o que há de pior no cinema mundial. O filme Olga, dirigido por Jayme Monjardim, é um verdadeiro vazio, um deserto de idéias e falta de talento.
O filme é baseado no livro do jornalista Fernando Morais, lançado em 1985, que já vendeu mais de 600 mil exemplares no Brasil. A obra narra a vida de Olga Benario, a militante comunista alemã e companheira do líder Luís Carlos Prestes.
A vida de Olga (Camila Morgado), uma alemã judia rica, começa a mudar quando ela abandona a vida de regalias na casa dos pais para se dedicar à militância política no PC alemão. Realmente, isso é que é saber apostar no cavalo perdedor. De qualquer maneira, em 1935, já na Rússia, recebe a missão de se passar por mulher de Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler).
O cavaleiro da esperança voltava clandestinamente de seu exílio para o Brasil. Olga deveria ser a guarda-costas de Prestes. Porém, com tanto tempo para caminhadas, o herói ainda era virgem(?!). O que é isso, companheiro?, deve ter pensado Olga. Para logo, em seguida mostrar onde ficava a verdadeira perestroika.
Prestes e Olga se apaixonam. Então, a agente comunista (comedora de criancinhas, portanto) decide ficar no Brasil ao lado de Prestes. A missão de Olga passa a ser ajudar Prestes em sua tentativa de derrubar a ditadura de Getúlio Vargas (Osmar Prado). O problema é que o vetusto líder gaúcho não era conhecido por dar murro em ponta de faca.
Getúlio sempre esteve a um passo à frente e sabia que a revolução de Prestes não ia dar em nada. Por isso, envia o temível Filinto Müller (Floriano Peixoto) para caçar o cavaleiro da esperança (provavelmente ele recebeu a alcunha por que tinha a esperança de perder a virgindade, mas isso já é outra história).
Para variar, o plano de Prestes não deu certo. Revolução no Brasil é algo tão difícil quanto achar a Gisele Bündchen feia. Como sói acontencer nestes casos, Olga e Prestes acabam presos. Só que, para a surpresa de todos, a agente comunista estava grávida. É...nada como um pouco de vodca para aumentar os índices de natalidade.
Mesmo assim, ela foi deportada para a Alemanha nazista onde a aguardava o mesmo destino de milhões de judeus. Na Alemanha, ela deu à luz Anita Leocádia, com quem ficou por catorze meses. Para salvar a vida da criança, entra em campo a incansável mãe de Prestes, dona Leocádia (Fernanda Montenegro).
Um dos grandes problemas de Olga está no elenco. Mais precisamente em Camila Morgado. Ela é delicada demais para viver alguém como Olga. Chega a ser hilário, o esforço que ela faz para simular uma voz de comando. Já Caco Ciocler transforma Prestes em um abobado da enchente, incapaz de tomar uma decisão coerente.
Some-se a tudo isso a direção tacanha e previsível de Jayme Monjardim, que parece acreditar que cinema e minisséries de televisão são tudo a mesma coisa. Só falta interromper o filme para entrarem os comerciais.
Para não dizer que tudo é um desastre a direção de arte e a cenografia são competentes. Olga consegue fazer nevar no Rio de Janeiro. O filme custou R$ 8 milhões. Provavelmente, a maioria do dinheiro foi gasto em uma gigantesca campanha de marketing para evitar o fracasso nas bilheterias.
O resultado de tanta promoção foi a inacreditável e inconcebível indicação de Olga para representar o Brasil no Oscar. Porém, uma coisa é certa: o filme tem tantas chances de ganhar o prêmio quanto o Rubinho ser campeão da Fórmula 1...
(Olga, BRA, 2004), Direção: Jayme Monjardim, Elenco: Camila Morgado, Caco Ciocler, Fernanda Montenegro, Osmar Prado, Floriano Peixoto, Duração: 141 min.