Naúfrago: Tom Hanks no limite

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Depois de ter chegado ao ponto mais baixo de sua carreira em À Espera de um Milagre, onde fazia figuração para um mísero ratinho, Tom Hanks decidiu reagir. Para evitar que outro ator roubasse o seu filme (o que, convenhamos, não é muito difícil) o ator americano pediu um roteiro no qual ficasse sozinho em cena por no mínimo 75 minutos. Ou seja, megalomania pouca é bobagem. O resultado desta viagem egocêntrica pode ser visto em Náufrago.

O filme narra a história de Chuck Noland, um engenheiro de sistemas da FedEx, uma famosa empresa americana de entrega de encomendas. Noland é um obcecado por trabalho, tanto que tem muito pouco tempo para curtir sua namorada Kelly (Helen Hunt, em atuação desbotada e pífia). Depois da ceia de Natal o funcionário padrão da FedEx sai para mais uma missão. Noland promete para Kelly voltar a tempo para o Ano Novo, só que ele esqueceu de dizer de que ano...

Bem, não é preciso ser um gênio para perceber que o avião onde está Tom Hanks vai cair. A equipe de pilotos parece saída de um episódio de Loucademia de Polícia. O pobre Noland nada pode fazer. Quando o avião se espatifa no oceano no meio de uma tempestade ele é único sobrevivente. Munido de um bote contra ondas gigantescas ele escapa da morte (até porque se ele entrasse pelo cano o filme acabava).

Depois desse início um pouco longo demais, Náufrago ganha força. O diretor Robert Zemeckis (de Forrest Gump) mostra que tem farinha no saco. Apesar de serem 75 minutos onde Tom Hanks fala muito pouco o filme não perde o pique nem fica chato. Muito pelo contrário Hanks de boca fechada é até um lucro para o espectador.

Aliás, o ator americano parece ter saído de uma aventura do programa No Limite. Com a vantagem de ser muito mais inteligente do que os participantes deste tipo de gincana. Suas soluções para sobreviver na ilha que só possui coco e caranguejos são dignas do Mac Gryver. Tom Hanks com certeza não perderia de forma bisonha para a gordinha Eliane.

Uma das sacadas interessantes do roteiro é que o avião da FedEx que cai no mar estava recheado de encomendas. Assim depois de um tempo Nolan resolve abrir todos os pacotes menos um. Claro que ao invés de facas, barracas, cantis, ele encontra os objetos mais improváveis e inúteis. Patins de gelo, um vestido de mulher e uma bola de vôlei. Aliás, a bola se transforma em uma espécie de companheiro de Hanks e, é claro, quase rouba o filme. Não será surpresa se for indicada para o Oscar de melhor ator coadjuvante.

Infelizmente o roteiro de Náufrago é como aquele jogador de futebol em fim de carreira. Não sabe quando parar. O filme depois da saída de Noland da ilha pouco ou quase nada tem a dizer. Alguns conflitos de última hora surgem apenas para dar a idéia de que é possível se sentir um náufrago em terra firme.

Diga-se de passagem o final do filme apenas mostra o quão inútil e idiota é o personagem interpretado por Helen Hunt. Ela poderia ter sido substituída por um cachorro, um papagaio, uma pedra, que não faria a menor diferença. Claro que qualquer uma das três hipóteses anteriores poderia roubar o filme de Tom Hanks, então deve ter sido por isso que a atriz do seriado Mad About You foi contratada.

Mesmo assim o diretor Robert Zemeckis é esperto e ardiloso o suficiente para garantir outro Oscar para colocar em cima da lareira. Apesar da metragem exagerada, do roteiro melodramático e da piegas última meia hora, Náufrago fez bonito nas bilheterias americanas. Provavelmente vai haver uma continuação e o salário da bola de vôlei deve dobrar.

J. Tavares

(Cast Away, EUA, 2000), Direção: Robert Zemeckis, Elenco: Tom Hanks, Helen Hunt, Nick Searcy, Chris Noth, Lari White, Duração: 154 min.

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