Napoleão

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O diretor Ridley Scott é inglês. Mas resolveu fazer um filme sobre um ícone francês, Napoleão. O resultado como sói acontecer nesses casos é um desastre. Nessa nova versão cinematográfica, a ideia parece ser criar um personagem que não fede nem cheira. Mas se ele é um francês é claro que cheira...

Nem é preciso dizer que a crítica francesa no geral detestou a visão de Scott. No filme, soldados com um sotaque americano gritam “Vive la France” em 1793, o que deve ser uma espécie de crime cultural na França. De qualquer maneira, o filme oferece uma visão linda e idealista da Grã-Bretanha enquanto concentra todas as objeções no lado francês da história. Ou seja, algo de errado não está certo.

O filme mostra um olhar muito pessoal sobre as origens de Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix). O foco parece ser a ascensão a imperador de alguém sem a necessária "finesse", sem educação, em contraste com os empertigados almirantes ingleses. Enquanto segue avançando na carreira, ele se apaixona por Josephine (Vanessa Kirby). Então, entre uma batalha e outra (a trama investe pouco na qualidade de estrategista militar de Napoleão) precisa se preocupar com sua esposa adúltera. Sim, não é à toa que Napoleão usava um chapéu tricórnio...

Napoleão, em uma interpretação desastrosa de Joaquin Phoenix, é um daqueles grandes personagens da história. Era um reles oficial de artilharia do exército francês, mas conquistou inúmeros territórios, venceu várias batalhas, e terminou derrotado e exilado na ilha de Santa Helena. Porém, para que isso acontecesse foi preciso uma coalizão de sete potências diferentes para derrotá-lo.

Infelizmente, as batalhas não têm o destaque que merecem. Por exemplo, a vitória em Austerlitz, em 1805. Na ocasião, o exército russo foi atraído para um lago congelado, antes de canhões serem apontados para eles. Ridley Scott filma como se estivesse desinteressado. São cenas didáticas e sem impacto, dignas de um documentário da BBC. Uma das maiores batalhas de todos tempos, virou uma simples emboscada.

Para piorar, o filme está repleto de “infidelidades históricas”. Tudo bem, nem tudo precisa ser ao pé da letra, sempre é possível alguma liberdade criativa. Agora... pirâmides bombardeadas? Isso é completamente ridículo.

No final das contas, o Napoleão de Scott é um homem ambicioso, sem muito preparo, afeito ao campo militar. As suas relações amorosas são apenas uma rotina a ser cumprida. Nada disso ajuda a tornar o filme minimamente interessante. Outro insulto é afirmar que Napoleão enxergava a política como um falatório de homens presunçosos. Ou seja, eles seriam apenas peças para a sua ascensão.

Mas a Era Napoleônica foi essencialmente política. Muitas de suas conquistas não estavam no campo militar, mas sim no campo político. Napoleão desenvolveu a organização administrativa uniforme e hierarquizada da França (prefeitos, subprefeitos e administradores municipais), insistiu na criação dos liceus e, principalmente, do Código Civil Napoleônico. Nada disso, porém, está no filme de Ridley Scott.

Para mostrar o quanto Ridley Scott não se importa com o personagem que retratou, o longa mostra um registro histórico dos mortos causados pelas investidas de Napoleão. Ou seja, olha só o que toda a guerra causada por um sujeito rude e deselegante provocou. Muita calma nessa hora. Meio século antes de Napoleão chegar ao poder, os ingleses conquistaram o Canadá, partes significativas das Índias e uma coleção de outras colônias. Nada disso foi feito de forma pacífica. O Grande Império Britânico tem uma pilha muito maior de cadáveres nas costas.

Resumindo: Napoleão é tão, mas tão ruim que fez a ZeroZen defender a França!

J. Tavares

(Napoleon, EUA, 2023), Direção: Ridley Scott, Elenco: Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Tahar Rahim, Mark Bonnar, Rupert Everett e Youssef Kerkour, Duração: 158 min.