Missão Babilônia
O astro Vin Diesel e o diretor Mathieu Kassovitz são os principais responsáveis pelo desastre chamado Missão Babilônia. Porém, em um instante de autocrítica, ambos se declararam irritados com o resultado final em uma entrevista à rede de TV AMC. Inclusive, o diretor francês disse que a obra não passa de “pura violência e estupidez”. Ora, se nem o ator principal e nem o diretor recomendam o filme o que dirá ZeroZen...
Na verdade, Diesel e Kassovitz só deixaram o trabalho dos críticos mais fácil. Realmente, poucas vezes se viu na tela grande um filme que faz questão de empilhar cenas de ação pífias, diálogos risíveis e atuações bizarras em um roteiro repleto de babaquices místicas e metáforas sem sentido capazes fazer inveja a qualquer livro do Paulo Coelho. Poucas vezes se viu tanta disposição para enfiar o pé-na-jaca como em Missão Babilônia.
O filme começa em um cenário futurista pós-apocalíptico, possivelmente depois da crise econômica mundial. Um mercenário marrento Toorop (Vin Diesel) caminha com pressa no meio da chuva. Ele atravessa uma espécie de vila, cheia de gente molambenta do leste da Europa. O lugar está repleto de barricadas, veículos pesados e muitos militares armados.
Sem maiores explicações, em uma cena digna dos brucutus dos anos 80, Toorop invade uma tenda. Só não mete o pé na porta, pois não existe nenhuma por perto. Tira de lá um asiático apavorado. Ela bota uma arma na cabeça do oriental e atira. Imaginou miolos voando para todos os lados? Nada feito. A pistola falha.
Porém esse foi exatamente o motivo da ação do mercenário. Ele foi reclamar seu dinheiro de volta por que a arma não funcionava. Como se percebe, no futuro ninguém mais vai acreditar em telemarketing para reclamar de problemas ou pedir a devolução de produtos...
Apesar de pouco simpático, um sujeito com as habilidades de Toorop dificilmente fica muito tempo sem emprego em um futuro pós-apocalíptico. Logo, o matador de aluguel é contratado pelo criminoso Gorsky (Gérard Depardieu) para transportar uma "encomenda" para Nova Iorque. A coisa não é tão simples como parece pois Toorop foi expulso dos Estados Unicos com ordens expressas de nunca mais voltar. Motivo? Ter feito filmes como Missão Babilônia...
Mas Gorsky é gente que faz. Ele dá a Toorop uma imensa variedade de armas e um valioso passaporte das Nações Unidas, que é injetado diretamente em seu pescoço. A situação fica ainda mais bizarra quando o mercenário descobre que o tal pacote nada mais é do que uma garota inocente chamada Aurora (Mélanie Thierry), que foi criada em um mosteiro! Como desgraça pouca é bobagem, a moçoila tem a companhia de uma guardiã misteriosa, a Irmã Rebeka (Michelle Yeoh).
Enquanto Toorop faz cara de poucos amigos, o espectador começa a matutar: o que diabos está acontecendo? De maneira irritante, o filme faz um imenso esforço para não explicar o contexto. Tudo bem, a culpa do caos parece ser do aquecimento global e os tigres estão extintos desde 2017. Mas e daí? Será que ainda existe Internet? E que fim levou o Google ou a Microsoft? Será que conseguiram lançar o Duke Nukem Forever?
Enfim, mesmo sabendo que o trabalho é uma tremenda roubada o mercenário segue em frente. O trio inicia uma longa viagem de 9.600 quilômetros. Dá até para imaginar a quantidade de pedágios. No meio do caminho, são ameaçados por religiosos que demonstram um especial interesse na jovem - que pode ter o segredo para a salvação da humanidade. Acredite quem quiser, a moça faz parte de uma seita que pretende produzir um novo Messias geneticamente modificado.
Sim, lá pelas tantas, Toorop se indaga se Aurora pode ser uma figura messiânica ou mesmo uma arma biológica. Claro que na cena seguinte ele esquece de tudo. Roteiro que faz sentido é coisa para os fracos. Apesar de tudo, a garota, no meio da jornada, começa demonstrar uma série de poderes que deixam Toorop de cabelos em pé (isso, é claro, se ele tivesse cabelos). A moça é capaz de prever o futuro e comunicar-se em diversas línguas, entre outras habilidades impressionantes.
Justamente por isso muita gente quer capturá-la. Há uma sacerdotisa (Charlotte Rampling) e também um cientista (Lambert Wilson), cada um com seus interesses particulares pela garota. A cada cena Missão Babilônia parece ir de mal a pior. Quando Toorop chega em Nova Iorque com a coisa desanda de vez.
O final de Missão Babilônia, que tenta combinar inteligência artificial e com uma gravidez milagrosa, é um dos momentos mais estúpidos do cinema. É de fazer corar quem tem formação cromossomial específica. Como disse Mathieu Kassovitz o filme é "pura violência e estupidez” com ênfase, claro, na parte da estupidez...
(Babylon A.D., EUA, 2008), Direção: Mathieu Kassovitz, Elenco: Vin Diesel, Michelle Yeoh, Mélanie Thierry, Gérard Depardieu, Charlotte Rampling, Mark Strong, Lambert Wilson, Jérôme Le Banner, Joel Kirby, Souleymane Dicko, David Belle, Radek Bruna, Jan Unger, Abraham Belaga, Gary Cowan, Duração: 90 min.