Minority Report - A Nova Lei

Se existe um filme que comprova o total despreparo da crítica cinematográfica brasileira é Minority Report - A Nova Lei. A nova obra de Steven Spielberg foi apontada com um trabalho maduro que tenta emular novamente o cinema de Stanley Kubrick. Bem, a estas pessoas desqualificadas, de mente tacanha, que conseguiram escrever uma estultices dessas, a ZeroZen, a única revista que põe o pingo no i de Spielberg, gostaria de dar um recado simples. Desistam. É mais do que nítido que vocês não entendem absolutamente nada de cinema.

Primeiro é preciso deixar claro que não existe uma única cena sequer onde se poderia aventar uma relação Spielberg/Kubrick. Para quem ainda não sabe Kubrick tinha como tema principal a incapacidade do indivíduo de se relacionar com o mundo. Seus anti-heróis estavam sempre deslocados. Não conseguiam se comunicar com as pessoas ao seu redor. Depois, vale dizer que esta história de que Steven Spielberg está amadurecendo, que deixou de ser um cineasta infantil é outra conversa para boi dormir. Ou você acha que Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler foram dirigidos por um adolescente?

Minority Report - A Nova Lei também oferece uma das visões de futuro mais ridículas que se tem notícia. Basta dizer que em 2054, a humanidade não vai ter curado a gripe, vai estar usando gravata borboleta e suspensórios e, acredite quem quiser, para se defender de um temporal nenhum cientista foi capaz de inventar algo melhor do que um prosaico guarda-chuva!!!

Para piorar, agora os crimes serão evitados antes mesmo de acontecerem. Tudo graças a visões de três Uri Gellers da época, os chamados precogs (curiosamente todos possuem nomes de escritores Agatha, Dashiell e Arthur). Suas manifestações são gravadas em um moderno sistema de computador. Assim, os policiais da divisão de Pré-Crime depois da análise dessas imagens, são capazes de determinar o local do delito e agir de forma preventiva. Bem, colocar todo o sistema judiciário da cidade de Washington na mão deste tipo de gente decididamente não é o tipo de coisa mais inteligente a se fazer. O oficial John Anderton (Tom Cruise) acaba descobrindo isto da pior maneira possível.

Anderton acaba vendo a si mesmo matando alguém que ele sequer conhece em 36 horas. Como os precogs nunca erraram uma previsão, o policial passa a ser o inimigo público número um. É a velha história do homem errado tentando provar a sua inocência. Um dos sete roteiros padrão que Hollywood possui na gaveta e refilma a toda hora com o objetivo de enganar espectadores incautos.

Claro que Minority Report - A Nova Lei tivesse um pouco mais de inteligência poderia discutir temas como se o futuro está mesmo predestinado, se tudo já foi escrito por algum Deus sem mais nada interessante para fazer. Mesmo assim esta idéia de prender pessoas antes do crime é outra besteira monumental. Como gostam de dizer os advogados, o que não está nos autos não está no mundo. Ou seja, sem crime, sem condenação. E fim de papo.

De qualquer maneira John Anderton passa o filme inteiro correndo de um lado para o outro. Tudo para mostrar a competência dos efeitos especiais da Industrial Light & Magic. O oficial perdeu sua filha em um acidente, se separou da mulher e vive se entupindo de drogas. Mas continua no emprego graças a conivência de seu chefe Lamar Burgess (Max Von Sydow). Infelizmente o governo manda um representante investigar possíveis erros dos precogs. Surge então a única figura lúcida de Minority Report, Danny Winter (Colin Farrel). Ele tenta provar a todo custo o óbvio ululante. Acreditar em uma besteira dessas não dá pé.

A trama de Minority Report empilha um clichê atrás do outro. Inclusive a manjada cena onde Anderton invade a pré-crime para resgatar o mais poderoso dos precogs, Agatha ( Samantha Morton, de longe a melhor atuação do filme). Aliás, uma das vantagens da obra de Spielberg é que o espectador descobre que tem poderes paranormais. Tudo mundo se transforma em um precognizador. Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência é capaz de adivinhar as viradas do roteiro.

Vale dizer que Minority Report se baseia em um conto de mesmo nome do superestimado escritor Philip K. Dick. Tudo que Spielberg pegou foi a idéia de um homem que vai ser condenado por um crime que só cometerá em 36 horas. O resto é pura invenção de Hollywood. Antes que alguém saia em defesa do original é bom saber que Dick é um daqueles caras que adoravam viajar com psicotrópicos e usar este talento (sic) para começar a escrever.

Portanto, Minority Report tanto na literatura como no cinema não leva a lugar nenhum. Fracassa como ficção científica e como filme noir, até por que o culpado é de uma obviedade total. É com certeza outra perda de tempo e dinheiro feita por Spielberg. Para ele, o melhor a fazer é começar a filmar o quarto filme da série Indiana Jones. E rápido.

J. Tavares

(Minority Report, EUA, 2002), Direção: Steven Spielberg, Elenco: Tom Cruise, Colin Farrell, Max Von Sydow, Samantha Morton, Frank Grillo, Jessica Capshaw, Kathryn Morris, Peter Stormare, Neal McDonough, Patrick Kilpatrick, Duração: 145 min.

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