Top Gun: Maverick

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É possível criticar Tom Cruise por várias coisas. Porém, não dá para negar a coerência do seu trabalho. O primeiro Top Gun era uma estultice, uma imbecilidade atroz, um roteiro tosco, banal, previsível no qual uma cena estúpida era rapidamente superada por outra mais idiota ainda. Top Gun: Maverick é a mesma coisa. Só que filmada 34 anos depois...

Nem é preciso dizer que a trama está centrada em Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise). O tempo passou e agora é um piloto à moda antiga. Sim, ele segue na Marinha. Tem condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Porém, apesar do seu currículo impressionante, a sua carreira nunca decolou (sem trocadilho).

Então, Maverick deixou de ser um capitão e tornou-se um instrutor. É basicamente um rebaixamento para a série B da Marinha. O problema é que ele segue sendo o mesmo piloto rebelde de sempre. Não segue as regras. Ignora as noções mais básicas de segurança. Enfim, é o mesmo babaca do primeiro filme.

O roteiro parece previsível no começo e no final parece que está no começo. É a velha disputa entre o bem e o mal. Claro que os mocinhos são os Estados Unidos e os malvados da vez se refugiam em um obscuro país do leste europeu. Em tempo, se houver um Top Gun 3 alguém duvida que os russos vão ser os adversários de Maverick?

Aliás, a solução típica encontrada pelos heroicos norte-americanos é propor a destruição de um reator nuclear para salvar a democracia! Essa justificativa absurda é embalada por boas cenas de ação. De fato, são as únicas coisas dignas de nota no filme.

Inclusive, a missão de Maverick é treinar uma equipe de pilotos graduados para uma missão especial. O risco é alto e nem todos irão voltar com vida. O time de pilotos é composto por nomes como Jake "Hangman" Seresin (Glen Powell), Natasha "Phoenix' Trace" (Monica Barbaro), Robert "Bob" Floyd (Lewis Pullman), Reuben "Payback" Fitch (Jay Ellis) e Javy "Coyote" Machado (Greg Tarzan Davis).

Só que o roteiro adiciona mais uma daquelas coincidências inacreditáveis. Um dos integrantes da equipe é Bradley "Rooster" Bradshaw (Miles Teller). Quem é ele? Ninguém menos do que o filho de Goose (Anthony Edwards), amigo de Maverick no primeiro filme, mas que teve um destino trágico.

Para não ficar uma overdose de testosterona na tela, Maverick agora tem um novo interesse amoroso, Penny Benjamin (Jennifer Connelly). Ela é retratada como uma mulher forte e com seus próprios interesses e motivações. Mesmo assim, sabe que namorar um piloto é sempre problemático. Afinal de contas, Maverick está sempre com a cabeça nas nuvens...

Curiosamente, Maverick acaba sacaneando um colega durante a carreira. Ele falsifica dados de sua formação. Ou seja, o sujeito acaba tendo evolução profissional prejudicada. Toda essa canalhice e mau-caratismo é simplesmente vendida pelo roteiro como "algo que foi necessário".

Enfim, Top Gun: Maverick é um filme embalado na nostalgia. Basicamente, defende a tese de que o fator humano ainda é essencial em uma era de guerras cada vez mais tecnológicas. Apesar de todos os equívocos e do patriotismo idiota e sem noção, o filme se tornou a maior bilheteria da carreira do Tom Cruise.

J. Tavares

P.S. - Val Kilmer também participa do filme. Ele reprisa o papel de Tom “Iceman” Kazansky. Só que, devido a um câncer na garganta, teve a ajuda de uma Inteligência Artificial para gerar sua voz no filme. O dinheiro investido poderia ter sido colocado em um roteiro melhor...

(Top Gun: Maverick, EUA, 2022), Direção: Joseph Kosinski, Roteiro Jim Cash, Christopher McQuarrie, Elenco: Tom Cruise, Miles Teller, Jennifer Connelly, Glen Powell, Monica Barbaro, Lewis Pullman, Jay Ellis, Greg Tarzan Davis, Val Kilmer, Duração: 131 min.

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