Matrix Revolutions

O que é a Matrix? A resposta é simples: uma grande, imensa, incomensurável e desmedida bobagem. É... mais uma vez a ZeroZen cantou a pedra, bateu a real (e a virtual). A trilogia dos irmãos Larry e Andy Wachowski chega a fim de maneira vazia e irrelevante. Exatamente como tudo começou. Ou seja, é como já dizia o Barão de Itararé: de onde menos se espera daí mesmo é que não sai nada.

Depois de mais de duas horas de filme fica claro que o roteiro não sabe o que fazer com a avalanche de personagens criados durante a saga. Pior. Sequer consegue dar um destino digno para os heróis da trama. Basicamente, Matrix Revolutions se resume a batalha final entre Neo e o Agente Smith. Tudo debaixo de muita chuva (até por que a essas alturas o filme já foi por água abaixo) e parecendo uma cópia mal-ajambrada do desenho Dragon Ball Z!

A trama (sic e sci) de Matrix Revolutions começa exatamente no fim de Matrix Reloaded. Neo está, digamos assim, em coma. É uma espécie de limbo entre Matrix e o mundo real, num lugar materializado na forma de uma estação de metrô na qual ele não tem acesso a nenhum trem. Lá ele tem uma conversa bizarra onde descobre que os programas também amam. Preste atenção na inacreditável canastrã mirim Sati (Tanveer K. Atwal) e sua performance robótica.

Infelizmente, para sair do lugar só com a ajuda de um tal de Trainman (Bruce Spence), que é uma espécie de empregado do maligno Merovingian (Lambert Wilson). Bom, então lá se vão Trinity (Carrie-Anne Moss), Morpheus (Laurence Fishburne) e Seraph (Ngai Sing) ter uma conversa com o vilão. A partir daí Matrix Revolutions é um fiasco só.

A cena onde onde Trinity consegue convencer Merovingian a libertar Neo (Keanu Reeves) é ridícula, de uma imbecilidade atroz. Vale apenas pela presença da pneumática Persephone (Monica Bellucci). Com o escolhido de volta à ativa, o roteiro concentra todas as suas forças nas intermináveis batalhas entre o exército de Zion e as máquinas. Algo que poderia ser definido como a luta dos transformers humanos contra os polvos metálicos do mal.

Enquanto todo mundo perde tempo atirando para todos os lados, o Agent Smith (Hugo Weaving) aproveita para crescer mais do que os índices de violência no Rio de Janeiro. Em pouco tempo, ele toma conta do campinho, ou melhor da Matrix inteira. Neo então resolve bater um papo com Oráculo (Mary Alice, que substitui a atriz Gloria Foster, morta depois da produção do segundo filme) para saber o que fazer.

Resta então a Neo, junto da inseparável Trinity, tentar uma última e arriscada cartada. Ir até a cidade das máquinas e fazer um acordo com o Deus Ex-machina (voz de Henry Blasingame). Aliás, um dos maiores erros Matrix Revolutions é justamente tentar vender a trama como uma história de amor. O romance entre Trinity e Neo não empolga ninguém.

Pior ainda, Larry e Andy Wachowski voltaram a insistir na idéia do predestinado, do escolhido, para justificar os furos do roteiro. E como se tudo não estivesse suficientemente indigesto, colocaram muitos personagens principais para escanteio. Assim, Morpheus (Laurence Fishburne) é reduzido a um mero abobado da enchente. Merovingian e Persephone não dizem a que vieram. Os gêmeos de Reloaded são solenemente ignorados.

E ganham destaque gente como Niobe (Jada Pinkett Smith) por cortesia do game Enter The Matrix e Kid (Clayton Watson) graças a série de episódios animados de Animatrix. Em Zion, quem toma conta do filme é Comandante Lock (Harry J. Lennix). Mas, pelo menos, Ghost (Anthony Wong) continua entrando mudo e saindo calado. O seu cachê deve ter sido acertado pelo número de falas...

Resta agora aos nerds de todo o mundo perder boa parte do seu tempo livre discutindo se Neo é mesmo um programa ou se existe uma matrix dentro da matrix. O fato é que mais uma vez a ZeroZen acertou. O que é a Matrix? Uma grande, imensa, incomensurável e desmedida bobagem...

Paulo Pinheiro

(The Matrix Revolutions, EUA, 2003), Direção: Andy e Larry Wachowski, Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Laurence Fishburne, Hugo Weaving, Jada Pinkett Smith, Mary Alice, Ngai Sing, Bruce Spence, Nathaniel Lees, Clayton Watson, Harold Perrineau Jr., Nona Gaye, Harry J. Lennix, Monica Bellucci, Lambert Wilson, Ian Bliss, Helmut Bakaitis, David Roberts, Essie Davis, Bernard White, Tanveer K. Atwal, Jessica Wynands, Rupert Reid, Kevin Richardson, Duração: 128 min.

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