A Liga Extraordinária
O diretor Stephen Norrington não compareceu à pré-estréia de A Liga Extraordinária. Os repórteres perguntaram ao ator e produtor do filme Sean Connery o que aconteceu. Com sua peculiar elegância, Connery disse que fossem procurar Norrington no hospício mais próximo. Bem, o fato é que o motivo para o desaparecimento do diretor só pode ter sido um só: vergonha.
A Liga Extraordinária é um desastre. Um daqueles equívocos monumentais capazes receber o carimbo de bizarro. Pelo menos serve para provar que juntar cinema e quadrinhos está longe de ser uma grande idéia. O roteiro é baseado na graphic novel de mesmo nome criada por Alan Moore. O problema é que as tramas do escritor inglês só têm fôlego para os quadrinhos e olhe lá.
A idéia central de A Liga Extraordinária é acreditar que os personagens de livros clássicos de aventura existiram de verdade. Assim, na Inglaterra Vitoriana o governo britânico resolve recrutar sete heróis para combater o mal: o aventureiro Allan Quatermain (Sean Connery), o Capitão Nemo (Naseeruddin Shah), a vampira Mina Harker (Peta Wilson),o homem invisível Rodney Skinner (Tony Curran), o agente secreto americano Sawyer (Shane West), o imortal Dorian Gray (Stuart Townsend) e o médico e o monstro, Dr Jekyll e Mr Hyde (Jason Flemyng).
No filme, tudo começa quando o vilão Fantom seqüestra cientistas para criar as armas mais poderosas que o mundo já viu. Bem, como o ano é 1889, este ser empreendedor escolheu uma boa época para ameaçar a paz européia. Com uma enorme visão comercial ele acredita que irá acontecer uma guerra mundial. Já que o desastre é inevitável por que não apressar um pouco as coisas? Todavia, o poderoso Império Britânico não pode deixar isso ocorrer.
Por isso surge a figura misteriosa de M. (Richard Roxburgh), que reúne a liga para impedir Fantom. A partir daí, há uma verdadeira avalhanche de reviravoltas previsíveis. O grupo acaba por se envolver em situações de perigo e todos têm de aprender a confiar uns nos outros. Ou seja, é preciso trabalho em equipe, solidariedade e confiança. Até parece exercício de motivação de alguma multinacional.
Claro que como o dinheiro era de Sean Connery ele transformou a Liga em um exército de um homem só. O vetusto Allan Quatermain toma conta do filme. Nem parece precisar do seu exército de freak show para vencer as forças do mal. Entre uma explosão sem sentido ou uma luta mal-coreografada, todas as falas interessantes ou de algum conteúdo são proferidas por Connery.
Para piorar, o roteiro atropela a já claudicante e errática trama original de Alan Moore. Dois personagens surgem do nada. O agente secreto americano Tom Sawyer e o imortal Dorian Gray. A presença de ambos é absolutamente irrelevante. Obviamente, Sawyer está no filme para tornar a aventura mais palatável ao mercado norte-americano. Aliás, Sawyer é o verdadeiro discípulo da era Bush. Ele acredita que, se atirar para todos os lados, mais cedo ou mais tarde vai acabar atingindo alguma coisa.
Já Dorian Gray ocupa no filme o papel que na graphic novel foi de um certo Bond. Porém, não acaba acrescentando nada devido a apagada atuação de Stuart Townsend. O público brasileiro ainda tem outro motivo para não levar A Liga Extraordinária muito a sério. O Capitão Nemo interpretado por Naseeruddin Shah está parecido demais com o folclórico político Enéas.
De certa forma, a única coisa que fica clara é que Sean Connery está velho demais para fazer o papel de aventureiro. Aliás, está velho demais para interpretar qualquer coisa. Devia se retirar para o asilo dos atores aposentados com milhares de dólares e desperdiçar o resto da vida jogando golfe com os amigos ou tomando chá da tarde com bolachas. A grande curiosidade é que certos articulistas (sic e sci) definiram A Liga Extraordinária como o melhor filme de aventura do ano. Bom, esse tipo de gente, com certeza, não tem ido muito ao cinema...
(The League of Extraordinary Gentlemen, EUA, 2003), Direção: Stephen Norrington ,Roteiro: James Robinson, Elenco: Sean Connery, Naseeruddin Shah, Peta Wilson, Stuart Townsend, Shane West, Jason Flemyng, Richard Roxburgh, Tony Curran, Max Ryan, Tom Goodman-Hill, David Hemmings ,Terry O'Neill, Rudolf Pellar, Winter Ave Zoli, Robert Willox.