Deixe ela entrar (Let The Right One In)
O cinema costuma tratar vampirismo da mesma forma como trata a vida após a morte: basicamente vale tudo, pois ninguém tem a menor idéia do que realmente acontece numa situação dessas. “Let The Right One In”, que é baseado no livro “Låt den rätte komma in” do escritor sueco John Ajvide Lindqvist, que é até bem conservador no que diz respeito a maioria das convenções do gênero. Incluindo hábitos noturnos e não poder apanhar sol. Uma das poucas liberdades é que gatos domésticos ficam eriçados e atacam quanto vêem um vampiro. O que não faz o menor sentido, mas como dissemos antes: vale tudo. Curiosidade: no filme um vampiro começa a cheirar mal, possivelmente devido a putrefação, quando fica muito tempo sem beber sangue. O que convenhamos seria um problema na série Twilight...
Apesar do roteiro ter sido escrito pelo próprio John Ajvide Lindqvist, várias situações do romance foram cortadas ou digamos ‘redimensionadas’. O filme é em vários aspectos uma versão mais compacta do livro, sem seus excessos, que diga-se de passagem não são poucos.
A história gira em torno de um garoto chamado Oskar (Kåre Hedebrant), que é vitima de “bullying” na escola, e sua nova vizinha, Eli (Lina Leandersson) uma garota assexuada de 12 anos, que por acaso é um vampiro. Os dois desenvolvem uma estranha amizade, apesar de Eli deixar bem claro na primeira vez que encontra Oskar, que eles não podem ser amigos.
Eli acabou de mudar para o apartamento ao lado de Oskar, acompanhada de Håkan (Per Ragnar) que faz às vezes de pai da garota. O filme não explica bem o personagem Håkan, que no livro é um pedófilo psicopata que ajuda Eli conseguir sangue em troca de favores sexuais...Yeap coisa fina.
Håkan é retratado como um psicopata inepto, que deixa uma verdadeira trilha de provas incriminatórias a cada tentativa de satisfazer Eli. Sendo que a polícia sueca só aparece para contar os corpos.
Outra mudança importante é que o filme, força um pouco a barra na ambigüidade da relação entre Oskar e Eli. O livro é mais direto: ela na verdade é um garoto que foi castrado, aparentemente vampiros não tem necessidade de ir ao banheiro. Inclusive há uma cena em que é possível testemunhar a cicatriz da castração, mas é tão rápida, que se você bobear vai acabar perdendo. Sendo que a cicatriz seria anatomicamente incorreta, segundo quem entende desses assuntos...
O título “Let The Right One In”, além de ser uma alusão ao velho mito que um vampiro não pode entrar numa casa sem ser convidado, é também referência a uma música de Morrisey, e esse é o tipo de coisa, como outras neste filme, que é melhor não ficar sabendo...
P.S.: “Let The Right One In” também possui estranhas e totalmente gratuitas referências à Táxi Driver e Amargo Regresso...
(Låt den rätte komma in, Suécia/Let the Right One In, USA, 2008) Direção: Tomas Alfredson. Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar, Henrik Dahl, Karin Bergquist, Peter Carlberg. Duração: 115 min.