Kill Bill Vol. 1
Quentin Tarantino é um homem do seu tempo. Ele descobriu que quem freqüenta as salas de cinema são adolescentes com Q.I. de ameba. Mais ainda, percebeu que atualmente os críticos de cinema são uma camarilha de desqualificados, que tem como o ponto máximo de referência filmes como E.T. ou Curtindo a Vida Adoidado. Assim, preparou o caminho para sua esperta picaretagem cinematográfica.
É fato. Tarantino conseguiu ser idolatrado por ser um plagiador fraudulento. Tudo que ele faz é regurgitar um caldeirão de influências bizarras que alguém definiu como cultura pop. Desde quando ficar 24 horas na frente de uma caixinha de fazer idiotas é sinal de inteligência? Pois é. A grande pergunta sobre Kill Bill é: por que fazer algo de novo se já foi feito antes e muito melhor?
Kill Bill, com muito boa vontade, é nada mais que um filme razoável. Não há uma única nesga de genialidade em seus 110 minutos. Se Tarantino é um monstro do cinema por copiar as idéias dos outros, então é melhor separar um Oscar honorário para quem inventou máquina xerox. O único mérito do filme é não se levar a sério. Já no começo da projeção, o lema "A vingança é um prato que se come frio", é identificado como um "velho ditado Klingon".
Bem, se nem mesmo Tarantino acredita estar realizando algo relevante por que a crítica ou os espectadores deveriam fazê-lo? A heroína do filme é a Noiva (Uma Thurman). Ela era uma assassina profissional que fazia parte do Esquadrão Assassino Víboras Mortais. O grupo de criminosos foi criado pelo ex-namorado da Noiva, Bill (David Carradine). A gangue é formada por Elle Driver (Daryl Hannah), Budd (Michael Madsen), Vernita Green (Vivica A. Fox) e O-Ren Ishi (Lucy Liu).
No dia de seu casamento, ela, que está grávida, é atacada por seus ex-companheiros. A turma de matadores promove um verdadeiro massacre. Porém, mesmo com um tiro na cabeça, a noiva sobrevive. Ela vai parar em coma em um hospital, onde fica por quatro anos. Mas, por um acaso do destino, a noiva acorda. E volta à vida sedenta de vingança.
Curiosamente, a primeira vítima é o seu enfermeiro, que atuava como uma espécie de cafetão de quase-defunto. Um dos diálogos do enfermeiro foi tirado de Um Drinque no Inferno, roteiro do próprio Tarantino. Ou seja, ele consegue o prodígio de copiar a si mesmo. Decididamente não há mesmo nada de novo em Kill Bill.
A Noiva, então, decide fugir do hospital para conseguir a tão sonhada vingança. Como ficou em coma perdeu os movimentos das pernas. Ela se arrasta em uma cadeira de rodas até um furgão onde usando uma técnica milenar consegue voltar a andar depois de 13 horas. E nesse tempo ninguém aparece para incomodar. Como diria um velho ditado Klingon: "me engana que eu gosto".
Aliás, mais adiante na trama um personagem terá o seu braço decepado e vai jorrar uns vinte litros de sangue sem morrer ou entrar em estado de choque. É nesse tipo de absurdo digno de filme trash que Kill Bill se apóia. Como diria outro antigo ditado Klingon: "fala sério".
Kill Bill segue a mesma estrutura de Pulp Fiction. A história é dividida em pequenas capítulos com várias idas e vindas no tempo. O filme insiste em ser um pastiche do cinema B de Hong Kong, dos filmes de Kung Fu, do spaghetti western, dos antigos seriados de TV (Besouro Verde), de desenhos japoneses (a seqüência de anime é um dos poucos momentos interessantes) e por aí vai.
A noiva (personagem criado por Uma Thurman e Quentin Tarantino) vai deixando uma trilha de mortes em seu caminho. Ela trucida a tudo e a todos sem a menor piedade. A seqüência onde ela enfrenta Vernita Green na frente de sua filha é razoável. Porém, a esperada batalha contra O-Ren Ishii é "muita estrela para pouca constelação" como, é claro, já dizia um antigo ditado Klingon.
Kill Bill é tão insosso que sequer justificaria um volume dois. Porém, a grande massa ignara, a patuléia, se contenta atualmente com um simplório cinema de referências. Um tipo de filme onde qualquer idéia original é proibida. Tarantino com certeza vai ficar ainda mais rico à custa da burrice alheia. Decididamente, eis um homem do seu tempo...
(Kill Bill Vol. 1, EUA, 2003), Direção: Quentin Tarantino, Elenco: Uma Thurman, David Carradine, Daryl Hannah, Michael Madsen, Vivica A. Fox, Lucy Liu, Michael J.White, Chia Hui Liu, Chiaki Kuriyama, Sonny Chiba, Julie Dreyfus, Samuel L. Jackson, Caitlin Keats, Julie Manase, Chris Nelson, Kenji Ohba, Stevo Polyi, Shana Stein, Bo Svenson, Duração: 110 min.