Infidelidade

Richard Gere é o corno nervoso. Nada a ver com esses Thyrsos da vida. Reage quando descobre o óbvio e pode até se tornar violento. O tipo de sujeito que acredita na legítima defesa da honra. Bem, com essa premissa de música sertaneja o diretor Adrian Lyne tentou fazer uma história interessante. O resultado como sói acontecer nestes casos foi um desastre de proporções nababescas.

Vale dizer que Adrian Lyne é o mesmo diretor de 9 1/2 Semanas de Amor, clássico do tipo cine-privê da década de 80. Seus filmes sempre se baseiam em falsas polêmicas ou situações escandalosas como Atração Fatal (1987) e Proposta Indecente (1993) e são extremamente moralistas. Ou seja, Lyne acabou indo parar em um merecido ostracismo. Sua tentativa de sair do buraco foi justamante com Infidelidade. Só que considerando o que é visto na tela grande é melhor ele procurar outra profissão.

A história começa quando a esposa Connie (Diane Lane) de um empresário do ramo da segurança, Edward Sumner (Richard Gere), cansada de sua vida medíocre no subúrbio, resolve dar uma apimentada na sua vida. Como o maridão não estava dando conta do recado ela procura consolo nos braços de um jovem vendedor de livros Paul Martel (Olivier Martinez). Rapidamente Sumner começa a sentir aquela estranha coceira na testa...

Aliás, vale dizer que o casal possui um filho Charlie (Erik Per Sullivan, do seriado Malcom In The Middle). Bem, Charlie com certeza não é cara da mãe nem do pai. A impressão que se tem é que Diane Lane e Richard Gere fizeram um cramulhãozinho. Ou então, a conclusão mais lógica é que Connie já estava pulando a cerca há muito tempo. Não há dúvida de que qualquer exame de DNA no programa do Ratinho provaria que o pai da criança é outra pessoa. Tem marido que é cego...

Mesmo assim Connie continua visitando o vendedor de livros e certamente não para conferir nenhuma brochura. Aliás, Diane Lane comparece razoavelmente fagocitável na indefectível cena de nudez. Claro que tudo recheado com o mais puro moralismo made in USA. Infidelidade, inclusive, é adaptação de La Femme Infidèle, do cineasta francês Claude Chabrol. Como guampa na França é mania nacional a versão européia é bem melhor do que a americana.

Claro que se o filme ficasse no entra-e-sai (no bom sentido) do apartamento de Paul Martel tudo acabaria bem. O problema é que Richard Gere começa a perceber que há algo de podre no reino da Dinamarca e não é necessariamente o bacalhau. Para se certificar da fidelidade de sua esposa contrata um detetive particular. Ele fotografa os amantes e entrega para o corno, digo, para o empresário a prova do crime. Então o marido começa a soltar fumaça pelos chifres e resolve tirar satisfações com a dupla de traidores.

A partir daí Infidelidade é um filme insuportável, beirando ao ridículo. Só falta algum letreiro piscante surgir na tela com os dizeres: "aqui vai mais uma lição de moral". O diretor Adrian Lyne é tão conservador que faz qualquer membro da TFP parecer um comunista comedor de criancinhas. O filme é incapaz de produzir alguma polêmica se limitando a fazer uma apologia da moral e dos bons costumes. De qualquer maneira não deixa de ser engraçado ver Richard gere atuar com uma cara do tipo: "bem, chifre é uma coisa que colocam na cabeça da gente...".

Paulo Pinheiro

(Unfaithful, EUA, 2002), Direção: Adrian Lyne, Elenco: Diane Lane, Richard Gere, Olivier Martinez, Erik Per Sullivan, Dominic Chianese, Duração: 122 min.

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