Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal
Nas primeiras cenas de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal surge uma bizarra marmota digital. É um claro sinal de que as coisas mudaram e para pior. A tentativa de ressuscitar a série com um roteiro de segunda e um herói de terceira (terceira idade, é óbvio) não deu certo. Mas não deu certo mesmo. Se era para homenagear um dos ícones do cinema o mais fácil e mais barato era fazer um churrasco na mansão do George Lucas..
A trama de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é sem sombra de dúvida a mais fraca da série. A história começa em 1957. Nada mais de inimigos nazistas. Agora, em plena Guerra Fria, os vilões da vez são os impiedosos russos comedores de criancinhas. Em plena área 51, Indiana Jones (Harrison Ford) e seu ajudante Mac (Ray Winstone) escapam por pouco de um
encontro com agentes soviéticos. Para quem gosta de referência a "arca"do primeiro filme surge em um relance..
Surge também a vilã mais ridícula de todos os tempos, Irina Spalko (Cate Blanchett), uma cientista soviética, conhecida como a ‘favorita de Stalin’. Ela é uma falsa vidente, que usa o "poder da mente" para enganar os trouxas. Vale destacar a péssima atuação de Cate Blanchett. Se a idéia era mesmo ser caricata, ela não passa de uma caricatura da caricatura. E como sempre está, tão sensual como um íma de geladeira.
Depois de uma série de incidentes, que incluem - ora vejam só - escapar de uma explosão nuclear,
Indiana está de volta à sua
casa na Universidade Marshall. Porém, seu amigo e reitor da escola, Dean Stanforth (Jim
Broadbent), explica que suas ações recentes o tornaram alvo de suspeita. Por isso, o governo começa a fazer pressão para que Indiana seja demitido. Sem direito a conversa com Roberto Justus na sala de reunião...
Uma curiosidade, o personagem de Broadbent - completamente inútil e sem razão de ser - foi criado para cobrir o vácuo deixado por Sean Connery, que se recusou a abandonar a sua aposentadoria para fazer uma ponta em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, retomando o seu papel de pai do Indiana. Considerando o resultado final, o ex-007 provou que tinha mesmo razão.
De qualquer maneira, ao deixar a cidade Indiana conhece o rebelde jovem Mutt Williams (Shia LaBeouf). Decididamente, o sujeito é um pentelho. Depois de torrar a paciência do herói, ele faz uma proposta indecente. Se o ajudar em uma missão pode acabar se deparando com a mítica caveira de cristal de Akator. Como sói acontecer nestes casos, os agentes soviéticos também estão em busca do artefato.
Indiana Jones reluta um pouco, mas acaba cedendo. Como resultado, vai parar em uma floresta na América do Sul para salvar a mãe do rapaz e mais um velho amigo. Em uma das surpresas do filme, que a ZeroZen faz questão de estragar, o Dr. Jones descobrirá que a mãe do
garoto é Marion (Karen Allen), sua namorada de Os Caçadores da Arca Perdida. Sim, ela mesmo. Muitos anos mais, digamos assim, experiente. Neste momento o público fica em dúvida se está assistindo a uma aventura de Indiana Jones ou a uma refilmagem de Cocoon...
O filme retoma então as seqüências de "confusão e correria" características da série. Infelizmente, as cenas de ação são pouco inspiradas e não se pode culpar Harrison Ford por isso. Ele consegue fazer a maioria das brigas sem precisar do auxílio de nenhuma bengala ou andador. Nada mal para um senhor de 65 anos...
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal desanda violentamente em seu terço final. A parte supostamente passada na amazônia (com direito a criação da Transamazônica) é risível. A cena com Shia LaBeouf se equilibrando em cipós, feita para homenagear Tarzan, é pífia e patética. Com direito a macaquinhos virtuais, o que prova que George Lucas tem jogado videogame demais...
O final "alienígenas abduzidos do espaço sideral" não ajuda nada. Aliás, por que todo alienígena tem de ter a cabeça do Aliens? Ninguém Hollywood consegue pensar em outro modelo de extra-terrestre? De qualquer forma, a solução do roteiro parece saída de um episódio do Arquivo X (e isso não é um elogio) ou de um enredo de escola de samba do Rio de Janeiro. Se a idéia era homenagear os filmes B da década de 50, faltou uma idéia mais brilhante ou mais radioativa...
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal cumpre apenas a função de apresentar o personagem às novas gerações. O que elas vão achar de ver um senhor idoso, com idade para ser seu avô bancando o herói é que são elas... Ah, o filme também serve para provar que durante quase vinte anos, tudo o que o cinema conseguiu produzir de inovador em termos de filmes de ação foram marmotas digitais, as malditas marmotas digitais...
(Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, EUA, 2008), Direção: Steven Spielberg, Elenco: Harrison Ford, Shia LaBeouf, Cate Blanchett, Karen Allen, John Hurt, Ray Winstone, Jim Broadbent, Ian McDiarmid, Igor Jijikine, Joel Stoffler, Duração: 124 min.