Indiana Jones e a Relíquia do Destino
Em uma das primeiras cenas de Indiana Jones e a Relíquia do Destino, Harrison Ford aparece de peito nu, sem camisa. Nesse momento, o filme deveria acabar. Por quê? Bem, o ator já tem 81 anos. Ou seja, é impossível acreditar que um soco do herói vai derrubar alguém...
Indiana Jones (Harrison Ford) está velho, decadente e taciturno. Ele está se aposentando como professor de arqueologia. Toda essa tristeza e frustração até faz sentido, pois responder perguntas de alunos deve ser bem mais difícil do que enfrentar nazistas. Enfim, ele está prestes a passar seus dias na fila do banco, falando com pessoas estranhas e reclamando do governo. Porém, acaba se envolvendo em mais uma aventura.
Aliás, a trama se passa em 1969. Justamente no momento em que o homem celebra sua chegada à Lua. Mas Indiana não quer saber de nada disso. Ele prefere reclamar dos vizinhos hippies que tocam Beatles. O personagem, em tese, está na casa dos 60 anos. O filme aliás insiste na seguinte tese: entre o velho e o novo, prefira o velho. Deve ser a frase padrão que o Leonardo Di Caprio diz para todas as namoradas.
Indy acaba reencontrando a afilhada Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge). Ela pede ajuda para localizar a Anticítera, um antigo artefato construído por Arquimedes (o famoso matemático grego). O problema é que Jürgen Voller (Mads Mikkelsen) um ex-nazista que ajudou no projeto espacial norte-americano também está interessado nessa relíquia. Com um nome falso, ele é o cérebro por trás do pouso da Apollo 11 na Lua. Enganou o governo dos Estados Unidos para, finalmente, conseguir o mecanismo milenar. O motivo é simples: ele quer controlar o universo e reintroduzir o nazismo!
Para deixar as coisas ainda mais pessoais, Voller, ora vejam só, era um antigo rival de Indiana Jones. Naquelas coincidências típicas de roteiro uma parte da invenção de Arquimedes está guardada na Universidade onde Indy trabalha. Todos se encontram no local. Começa um tiroteio, há um massacre no local. Indiana Jones é acusado da matança. Por isso precisa fugir e voltar a usar seu chapéu e seu chicote.
Inclusive, o filme inicia mostrando Indiana Jones lutando contra os nazistas. Harrison Ford é rejuvenescido por meio de inteligência artificial. Até que funciona. Nesse momento, o herói está em busca da lança do destino. Mas era uma cópia falsa. Como um todo bom arqueólogo, Indy não pode ficar sem roubar algo de outro país, então junto com seu fiel escudeiro, Basil Shaw (Toby Jones), pega metade da Anticítera.
Claro que os vilões vão ficar com uma metade do artefato, cabe a Indiana Jones e sua afilhada descobrir os mistérios do túmulo de Arquimedes para encontrar o outro pedaço. Sim, isso parece algo já visto antes. Sim, o roteiro repete quase todos os truques usados desde Caçadores da Arca Perdida.
O diretor James Mangold ("Logan") não é um Steven Spielberg. Ele comanda tudo com mão pesada. Falta aquela leveza de aventura descompromissada que fez o sucesso dos três primeiros filmes. Mesmo assim, se comparado com a abominação, com o desastre que foi Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), a despedida de Indiana Jones é um pouco mais digna.
Porém, o roteiro é longo demais. Falta concisão. Duas horas e meia de filme é demais. A não ser que a ideia seja fazer os velhinhos aposentados - que têm a mesma idade de Harrison Ford - irem tirar uma soneca no cinema. Aí Indiana Jones é perfeito para resgatar a Relíquia do Sono Profundo...
P.S. - O filme termina com Indiana Jones ainda acusado de assassinato e sem nenhuma prova da sua inocência, o próximo filme da franquia deve se chamar Indiana Jones e a Batalha da Cadeira Elétrica...
(Indiana Jones and the Dial of Destiny, EUA, 2023), Direção: James Mangold, Elenco: Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Antonio Banderas, John Rhys-Davies, Shaunette Renee Wilson, Thomas Kretschmann, Toby Jones, Boyd Holbrook, Duração: 154 min.