A Fantástica Fábrica de Chocolate

O filme Fantástica Fábrica de Chocolate de 1971 se tornou um clássico da Sessão da Tarde. Páscoa sim e Páscoa também, a Globo reprisava as bizarras aventuras vividas pelo ator Gene Wilder. Com isso, foi criada uma verdadeira geração de chocólatras que acabou por enriquecer dentistas em todo o país.

Bem, sabe-se lá por que Hollywood achou que seria uma boa idéia regravar o filme original. Para isso chamou o diretor Tim Burton. Ou seja, como a história já estava pronta havia uma boa chance de que Burton não surtasse com seus delírios visuais megalomaníacos.

Ledo engano... Para começo de conversa, Burton optou por ser bem mais fiel a obra de Roald Dahl (1916-1990). O resultado ficou, como era de se esperar, muito inferior ao clássico da década de 70. Como se sabe, cinema e literatura possuem características diferentes.

Porém, o mais impressionante, é que Burton filmou a história de um sujeito branquela, cheio de manias, que vive recluso e convida crianças para brincar em sua imensa fábrica de chocolate. Ou seja, Tim Burton não filmou a história de Willy Wonka, ele filmou a autobriografia não-autorizada de Michael Jackson!!

A trama começa quando o milionário Willy Wonka (Johnny Depp) decide voltar a aparecer em público. Após anos recluso, morando dentro de uma fábrica de chocolates, ele cria um concurso incrível. Wonka colocou bilhetes dourados dentro de cinco barras de chocolate, que serão distribuídas em todo o mundo. As crianças que as encontrarem ganharão um passeio de um dia e uma grande surpresa está reservada para aquele que ficar até o fim da visita.

A histeria é total. Até por que os doces de Wonka são maravilhosos, mas como ninguém entra ou sai da firma, o modo como são feitos os doces permanece um mistério. Então resta as crianças do mundo se entupirem de chocolate até encontrarem um dos bilhetes dourados.

Rapidamente, surgem quatro vencedores. Falta apenas um bilhete. As esperanças do pequeno Charlie (Fred Highmore) estão quase no fim. Filho de uma família pobre, o garoto ganha apenas uma barra de chocolate por ano, justamente seu aniversário. Quando as coisas parecem estar perdidas, o seu avô Joe (David Kelly) consegue salvar a pátria.

Diga-se de passagem, o filme de Burton consegue explicar por que Charlie vai à fábrica com o seu avô e não com seu pai. Não que isso faça muita diferença no final das contas. Outra mudança em relação ao original, é agora há uma explicação sobre as origens de Willy Wonka, algo realmente desnecessário.

No restante, A Fantástica Fábrica de Chocolate mantém a mesma estrutura do filme de 1971. Charlie faz uma visita ao mundo de Willy Wonka ao lado dos outros quatro felizardos. Ele parece ser o único normal. Há um alemão gordinho e comilão, a inglesa mimada e esnobe, um americano menino aficionado por TV e videogame e uma menina ultra-competitiva. Todos cometem erros e vão sendo eliminados sem piedade.

Na fábrica, as crianças se deparam com os misteriosos oompa-loompas, as min.úsculas criaturas que fizeram sucesso na primeira versão. Desta vez, curiosamente, há apenas um ator (Deep Roy) interpretando todos os funcionários da empresa. Isso sim é que é corte de custos!! Sua imagem foi digitalmente copiada para fazer as centenas de oompa-loompas do filme.

Com o avanço da tecnologia, Burton aproveitou para criar mais números de canto e dança para os oompa-loompas. Aliás, mesmo com um visual muito mais impressionante que o original, falta charme a refilmagem. Gene Wilder dá de relho em Johnny Deep. E Burton se esforça, usa toda a tecnologia possível e imaginável, mas não consegue superar algo feito em 1971. É o tipo de filme que se assiste pensando o tempo todo no original. E isto está longe de ser um indicador de qualidade.

J. Tavares

(Charlie and the Chocolate Factory, EUA, 2005), Direção: Tim Burton, Elenco: Johnny Depp, Freddie Highmore, David Kelly, Helena B. Carter, Noah Taylor, Missi Pyle, James Fox, Deep Roy, Christopher Lee, Adam Godley, Franziska Troegner, Annasophia Robb, Julia Winter, Jordan Fry, Philip Wiegratz, Duração: 115 min.

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