De Olhos bem fechados

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O cineasta Stanley Kubrick (1928-1999) acabou morrendo brocha. Está é a primeira conclusão que se chega ao terminar de assistir, De olhos bem fechados, um dos maiores equívocos cinematográficos do ano. O último filme de Kubrick é uma obra a respeito do casamento. Considerando o fato de que ele foi casado 41 anos com a mesma mulher, uma artista plástica, não é de espantar que o sexo não fosse mais uma prioridade de vida.

Os erros cometidos por Kubrick, já começam na escolha do elenco. Nicole Kidman e Tom Cruise são tão expressivos quanto um catálogo telefônico. São atores com capacidade de interpretar um comercial de margarina na TV e olhe lá. Porém, o pior não é isso. O jornal inglês The Express publicou uma reveladora reportagem na qual afirmava que tanto Tom Cruise e Nicole Kidman são gays e vivem apenas um casamento de aparências.

Quem assiste De Olhos Bem Fechados percebe logo de cara o quanto constrangedoras foram as cenas de sexo entre o casal. Aliás, quem procurar por sexo no filme de Kubrick vai ficar totalmente decepcionado. Apesar da longa duração (inacreditáveis 159 minutos!) , trata-se da obra de um cineasta impotente que não se lembrava mais como o rala-e-rola funcionava

De olhos bem fechados promete muito, mas não cumpre nada. A única coisa aceitável é a cena de abertura quando Nicole Kidman literalmente mostra a que veio. Um fato curioso é que as versões, os boatos que circularam na Internet de como seria a última obra de Stanley Kubrick resultaram muito melhores do que o filme em si. Especulava-se que a personagem de Nicole era viciada em heroína, que ela e Tom Cruise eram psicólogos e gostavam participar de orgias com seus pacientes, que no set ambos chegaram ao orgasmo em uma relação sexual e , finalmente, haveria uma suruba com a participação de uma ninfeta.

Na realidade a trama de De olhos bem fechados é bem mais simples. Desde 1968, o cineasta americano, por sugestão da sua mulher (notem como isso é sintomático) queria filmar uma adaptação para o cinema de Traumnovelle, escrito em 1926, pelo austríaco Arthur Schnitzler. Na história levada às telas por Kubrick o médico Bill Harford (Cruise) e a artista plástica Alice (Nicole) vivem em Nova Iorque e estão há nove anos casados. Entretanto, o casamento está um tédio e eles precisam fazer alguma coisa para quebrar a rotina.

Então, Alice confessa que sente o desejo de dar de presente a Bill um lindo par de chifres no Natal. Ora, apesar de homossexual, Cruise resolve entrar em surto, fazer um escândalo e tentar recuperar o amor perdido de sua esposa. Se para você, caro leitor, isso parece muito com a trama daqueles filmes instrutivos que a Bandeirantes passa de madrugada no Cine Privé, acertou em cheio. Kubrick, quem diria, teria muito o que aprender com Gregory Hipollyte!

Para fechar a questão: o tédio na relação entre Cruise-Kidman é demonstrada numa das cenas iniciais. Alice pergunta a Bill o que ele acha da sua aparência. Ele responde de forma mecânica: "Você está linda, amor", sem sequer olhar para o material. Quem já não viu uma cenas dessas no Cine Privé que atire a primeira pedra.

Para os fãs de Stanley Kubrick resta o consolo de que como o diretor está morto, não haverá outras possibilidades para que ele estrague a filmografia de respeito que conquistou durante anos. Nascido para Matar (Full Metal Jacket), por exemplo, já era um indício claro que o cineasta tinha perdido o talento. Aliás, o Brasil está assistindo à versão integral do filme sem os cortes da censura americana. Pelo que se vê de De olhos bem fechados, os gringos estavam certos, deviam ter censurado completamente o filme e impedido Kubrick de pagar esse mico...

J. Tavares

(Eyes Wide Shut, EUA, 1999) Direção: Stanley Kubrick. Roteiro: Stanley Kubrick, Frederic Raphael.  Elenco: Tom Cruise, Nicole Kidman, Sydney Pollack, Marie Richardson, Rade Sherbedgia, Todd Field. 159 min.

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