Era uma vez em... Hollywood

Era uma vez em Hollywood um diretor de cinema chamado Quentin Tarantino, que fez algum sucesso nos anos 90 e depois não fez mais nada que preste. Quer melhor exemplo disso do que “Era uma vez em... Hollywood”? O filme se arrasta por inacreditáveis duas horas e 41 minutos para terminar de forma vazia, insípida e inodora.

Antes de mais nada é preciso esclarecer que esse filme é para milênios: conta várias histórias ao mesmo tempo e não entra em detalhes em nenhuma. Roman Polanski, Sharon Tate, Charles Manson, Bruce Lee todos aparecem em cena. E obviamente Tarantino imagina que milênios sabem quem foi essa gente. Mas não sabem. E nem por que estariam nesse filme...

A trama se passa em Los Angeles, em 1969. Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de TV que, juntamente com seu dublê Cliff Booth (Brad Pitt), está decidido a fazer o seu nome em Hollywood. Ele sente que as portas estão se fechando e não é tão fácil assim se destacar no cinema. Por uma série de coincidências bizarras - que Tarantino chama de roteiro - Dalton é vizinho da atriz Sharon Tate (Margot Robbie), que na época estava grávida do diretor Roman Polanski (Rafal Zawierucha). E isso tudo vai levar a um sujeito chamado Charles Manson.

Em essência, o filme é um filme sobre filmes. Esse exercício já foi tentado por pessoas bem mais talentosas do que Tarantino e nem sempre o resultado foi bom. Só para citar dois cineastas em um patamar bem acima: François Truffaut fez o correto A Noite Americana (1973) e Federico Fellini cometeu o desastrado e superestimado 8 ½ (1963).

Na vida real, o destino Sharon Tate foi trágico. Ela foi assassinada por seguidores da Família Manson, culto liderado por Charles Manson. Para piorar, ela estava grávida de oito meses e meio. A atriz e mais quatro de seus amigos foram mortos no que ficou conhecido como o caso "Tate-La-Bianca". O crime foi teve tanto impacto nos Estados Unidos que basicamente decretou o fim do “paz e amor” hippie.

Era uma vez em... Hollywood tem um desenvolvimento lento e irregular. Há um narrador (totalmente inútil, diga-se de passagem) que some no meio do filme. Há participações especiais que levam do nada ao lugar nenhum como Al Pacino. Tarantino desperdiça tempo, talento e a paciência do espectador...

Por mais que Tarantino concentre todos os seus esforços em Sharon Tate, aproveitando tudo que pode do carisma de Margot Robbie, a grande polêmica do filme fica por conta de Bruce Lee. Provavelmente, os milênios acharam que se tratava de trazer mais representatividade para o filme. Nada disso.

Reza a lenda que Bruce Lee hospedou-se na casa de Roman Polanski e Sharon Tate quando treinou a atriz para as cenas de ação de A Arma Secreta de Matt Helm (trechos do filme aparecem, inclusive, em Era uma vez em... Hollywood). Mais ainda: Polanski teria entregue ao futuro astro de artes marciais o célebre macacão amarelo, que fez parte da vestimenta (*) do personagem Uma Thurman em Kill Bill: Volumes 1 e 2.

Mas e a polêmica? Bem, a cena é rápida é serve para demonstrar que Clint Booth é um cara durão. Ele provoca uma briga com Bruce Lee (Mike Moh). No primeiro momento, perde e cai no chão. Depois, o dublê reage e arremessa Lee de encontro a um carro. A plateia ri. Por isso, a filha de Bruce, Shannon Lee, ficou chateada. Sinceramente, tirar sarro do Bruce Lee é fácil. Quero ver fazer isso com o Chuck Norris...

Se você chegou até o fim dessa crítica merece um spoiler. A catarse coletiva destinada a família Manson, no final do filme, repete o mesmo truque utilizado com Hitler em Bastardos Inglórios...

(*) alguns diriam plágio, Tarantino diria referência...

J. Tavares

(Once Upon a Time in... Hollywood, EUA, 2019) Direção: Quentin Tarantino. Elenco: Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, Margot Robbie, Timothy Olyphant, Dakota Fanning, Margaret Qualley, Al Pacino, Luke Perry, Mike Moh, Dakota Fanning, James Marsden. Duração: 161 min.

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