O Senhor dos Anéis: As Duas Torres
O diretor Peter Jackson resolveu, ainda que tardiamente, parar de ouvir os fãs de J. R.R.Tolkien. Em O Senhor dos Anéis: As Duas Torres ele mandou pastar o respeito ao original. Ao que tudo indica, percebeu que estava apostando no cavalo errado ao seguir a destrambelhada história criada pelo escritor e partiu para a pancadaria.
A trama começa com a batalha entre Gandalf (Ian McKellen) e Balrog na ponte de Khazad-dûm. A partir daí o filme se divide em três histórias paralelas. Frodo e Sam continuam a caminhar rumo à Montanha da Perdição. Porém vão ganhar a companhia de Gollum, a quem aprisionam. O monstro, aliás, é disparado o melhor ator do filme.
Enquanto isso, Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd) encontram Barbárvore, o mais antigo dos ents, e procuram convencê-lo a ajudá-los na luta contra Saruman. Finalmente, Aragorn, Legolas e Gimli encontram Théoden, rei de Rohan, e decidem acompanhá-lo ao Abismo de Helm, onde o monarca decidiu se proteger ao lado de seus súditos.
Nitidamente, o filme concentra o foco na ação. Nada de cantorias sem sentido. Ou hobbits tentando parecer engraçadinhos. O clima é de épico com ênfase em batalhas espetaculares. Às vezes, a impressão que fica é que Peter Jackson queria mesmo é dirigir algo como Conan, o Bárbaro. Mas teve de se contentar com criaturas de pés peludos e um metro de altura...
Aliás, em As Duas Torres, finalmente surge uma batalha razoavelmente bem-feita. A luta no Abismo de Helm é uma seqüência impressionante. O problema é ter de esperar mais de cinco horas (contando com o primeiro filme) para ir ao que realmente interessa. Então será que público desta vez vai sair satisfeito com o resultado final do filme?
A resposta é não. O principal problema em As Duas
Torres é que a maioria das alterações feitas
por Peter Jackson não funcionam. Por exemplo, a parada de
Frodo em Gondor leva do nada ao lugar nenhum. Além de servir
para quebrar o ritmo do filme. A separação momentânea
de Aragorn de seus companheiros não faz muito sentido.
Outro erro é a participação de Arwen (Liv
Tyler). O diretor faz de tudo para dar um toque feminino no filme.
Porém o fato é que as aparições de
Arwen não ajudam em nada a narrativa. Curiosamente, Barbárvore
(personagem preferido dos hippies e ecologistas) é mostrado
como um cabeça-oca, ou melhor, um tronco-oco. Ele simplesmente
não consegue concatenar um pensamento coerente e acaba sendo
manipulado por Pipin, o hobbit mais esperto do que maioria.
Para quem leu o livro de Tolkien a situação de Éomer é ridícula. Ele entrega Théodred, ferido de morte, ao rei Théoden (Bernard Hill). Como o rei está fora de si não reconhece o próprio filho. Éomer reclama e de quebra exige que Théoden declare guerra a Saruman. O ardiloso Grima convence o monarca a expulsar Éomer do reino, sob pena de morte.
Bem, ele sai corrido do palácio levando consigo centenas de cavaleiros. Peraí... Que diabos de punição é essa? Não faz o menor sentido. Pior ainda, ele se encontra com Aragorn, Gimli e Legolas e depois de um diálogo besta entrega preciosos cavalos a troco de nada. Mais ainda: a cena do exorcismo de feito por Gandalf em Théoden, seguida da expulsão de Gríma, é risível.
E as bobagens prosseguem de maneira avassaladora. Em Osgiliath, Frodo e Sam são confrontados por um dos nazgûl. Então, Frodo oferece o Anel à criatura, que só não o pega porque Faramir flecha a montaria alada do Cavaleiro Negro. Só então, o patético Faramir "percebe" o seu erro e decide liberar o hobbit. Para fechar com chave de ouro há um constrangedor discurso apaixonado de Sam.
No fim das contas O Senhor dos Anéis: As Duas Torres falha em todos os quesitos com exceção das batalhas. Para a ZeroZen, Frodo continua sendo um dos heróis mais inúteis do cinema. E sua relação com o companheiro Sam é, digamos assim, homoerótica. Ou melhor hobbiterótica. Sobram apenas a interpretação digital do Gollum e as piadas do anão. O que é muito pouco para tanta pretensão.
(The Lord of the Rings: The Two Towers, EUA, 2002), Direção: Peter Jackson. Elenco: Elijah Wood, Ian McKellen, Viggo Mortensen, Sean Astin, Orlando Bloom, John Rhys-Davies, Billy Boyd, Dominic Monaghan, Miranda Otto, Brad Douriff, Karl Urban, Bernard Hill, David Wenham, Craig Parker, Cate Blanchett, Liv Tyler, Hugo Weaving, Christopher Lee, Andy Serkis, Duração: 179 min.