Diários de Motocicleta
Walter Salles só sabe fazer um tipo de filme: os road movies. Até agora, em vão, ele persegue repetir o sucesso de Central do Brasil. Sua última tentativa Diários de Motocicleta, resultou erm um filme tão brasileiro quanto a bossa-nova ou Carmem Miranda.
O filme narra uma viagem de motocicleta empreendida em 1952 pelo estudante de medicina de 23 anos Ernesto Guevara de la Serna (Gael Garcia Bernal), junto com o amigo de 29, o bioquímico Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). Sim, anos depois o jovem iria ser mais conhecido como Che Guevara, um dos maiores ícones da esquerda festiva do planeta.
Walter Salles, porém, não está muito interessado em discutir política. A idéia central do filme é mostrar Guevara em suas andanças pela América do Sul e nelas tentar encontrar motivos para o nascimento do futuro líder revolucionário. Tanto que uma das principais personagens do filme é moto Norton modelo 1939.
A motocicleta, apelidada de La Poderosa, deixa a todo momento ambos os aventureiros empenhados com constantes quebras. Quer dizer, com um veículo desses o sujeito acaba mesmo revoltado com a vida. O roteiro acompanha a viagem desde seu começo na Patagônia, até a chegada no Chile Chile (de barco alcançaram a ilha de Antofagasta).
Depois, os amigos entraram no Peru (epa!). Visitaram a cidade histórica de Cuzco, capital do império inca, passaram por Lima e rumaram para Iquitos, na fronteira com a Amazônia brasileira (quase entraram em nosso território, a bordo da balsa Mambo Tango). Depois da Colômbia, a viagem (de sete meses) terminou na Venezuela. Granado ficou em Caracas e Guevara seguiu, de carona (em avião que transportava cavalos de corrida), para Miami.
Apesar de o roteiro nitidamente seguir todas as regras para sensibilizar o pessoal do Oscar, Diários de Motocicleta não conseguiu ser indicado a nenhuma categoria relevante. Talvez por ser uma produção esquizofrênica, digna de um mundo globalizado. Ou seja, o diretor é brasileiro, filmagens foram feitas na Argentina e o elenco é composto de atores espanhóis, a trilha sonora é de um uruguaio.
No final das contas, das contas Diários de Motocicleta venceu o Oscar de melhor canção. Não merecia. Porém, ainda alcançou alguma repercussão devido a falta de sutileza da academia que mandou Antonio Banderas e Carlos Santana interpretarem a música tema do filme, ignorando o autor da mesma.
Como muitos dos problemas apontados no filme continuam claramente existindo até hoje, Diários de Motocicleta serve pelo menos para provar que a América do Sul não pode mesmo prosperar.
(The Motorcycle Diaries, ARG/BRA/ING, 2003), Direção: Walter Salles, Elenco: Gael García Bernal, Rodrigo De la Serna, Ulises Dumont, Facundo Espinosa, Susana Lanteri, Mía Maestro, Mercedes Morán, Jean Pierre Noher, Gustavo Pastorini, Duração: 124 min.