Bossa Nova (Filme de bêbado não vale)

bossa01.jpg (13243 bytes) bossa02.jpg (13712 bytes) bossa03.jpg (12176 bytes) bossa04.jpg (11817 bytes)

Alguém se lembra quando o mala-mor da MPB, João Glberto, teve um chilique na inauguração da Credicard Music Hall em São Paulo? Ao ser implacavelmente apupado por seu comportamento estrela e egocêntrico lascou para a platéia:

— Vaia de bêbado não vale, vaia de bêbado não vale!!!

Mais ou menos é isso o que acontece com o desastrado Bossa Nova dirigido por Bruno Barreto. O filme é, literalmente, um porre. Tão chato e sonolento quanto a própria Bossa Nova. Haja paciência. Duas horas com Tom Jobim na trilha sonora é capaz de levar o mais sábio dos seres a um estado de oligofrênia daqueles de babar na gravata. Bossa Nova é mais um filme feito exclusivamente para o mercado americano, o que é, no fim das contas, uma estultice sem igual, pois os filhos do Tio Sam detestam ler legendas. Não existe nada de genuinamente brasileiro na obra de Barreto assim como não existe nada de honesto na Bossa Nova, um gênero clonado direto das canções de Cole Porter.

Na verdade, tudo deveria ser uma comédia romântica. Nela Pedro Paulo (Antonio Fagundes) um advogado carioca se apaixona por uma professora de inglês Mary Ann Simpson (Army Irving, em um nítido caso de nepotismo) que resolveu deixar de amar depois da morte seu marido. Bom, todo mundo sabe que viúva é igual a lenha verde: chora muito, mas no fim pega fogo. Pedro Paulo depois de uma ou duas tentativas acaba tendo a sua tão sonhada aula de línguas.

Entretanto, como se sabe, o fundamental em uma comédia romântica são os personagens coadjuvantes. São eles que seguram a história e trazem um pouco de novidade e supresa, até por que o destino do casal principal, como em uma propaganda de margarina, é ser feliz para sempre. Neste ponto, Bossa Nova começa a naufragar.

Na galeria dos personagens que compõem o segundo time Debora Bloch, por exemplo, está horrível no papel da ex-mulher de Pedro Paulo, Tânia. Careteira, vive um caso com um chinês professor de Tai-Chi-Chuan (o que deve ser uma tentativa de vender o time na China). Pedro Paulo é filho de um alfaiate argentino Juan (vivido sem muita convicção por Alberto de Mendoza) e tem um irmão Roberto (Pedro Cardoso) que interpreta o mesmo papel loser de sempre. Ele se apaixona pela estagiária do seu irmão a edificante Sharon (Giovanna Antonelli) que acaba indo para Londres com um jogador de futebol.

Até mesmo a Internet não ficou de fora. Uma amiga da professora de inglês Nadice (Drica Moraes para lá over) passa as noites mandando e-mails para um amante americano. Claro, que o gringo vem aqui e fatura a inocente brasileirinha.

Quando isso acontece o espectador (que ainda não dormiu ao som da bossa nova) percebe o tipo de cineasta medíocre e subserviente que Bruno Barreto é. Tudo o que ele faz é vender um Rio de Janeiro de mentira. Um Rio para turista ver. Tudo é falso e lírico. Há um desejo degradante de tornar as coisas palatáveis aos States. Ser influenciado pelos americanos é uma honra, igualzinho a música de Tom Jobim e a bossa nova.

Esse xerox mal-ajambrado, essa vontade de parecer simpático é uma característica do cinema de Bruno Barreto. Ele viveu nove anos nos Estados Unidos e voltou completamente colonizado. Chegou a dirigir 4 filmes na terra do Tio Sam. Nenhum deles fez sucesso. Se o desejo de Barreto, de Tom Jobim e da Bossa Nova era falar com língua enrolada, a ZeroZen não se importa, mas bem que eles podiam tentar ser americanos lá nos EUA.

J. Tavares

(Bossa Nova, BRA, 1999) Direção: Bruno Barreto. Elenco: Antonio Fagundes, Army Irving, Debora Bloch, Pedro Cardoso, Giovanna Antonelli. 95 min.

Voltar