A Bruxa de Blair
De tempos em tempos Hollywood se supera. A capacidade de produzir bobagens parece não ter um fim. Um exemplo fantástico dessa habilidade é o superestimado "A Bruxa de Blair", que segundo os mais afoitos estaria revolucionando o cinema de terror. Nada mais falso. Aliás, The Blair witch project é a falsidade em forma de filme.
A fraude começou quando o californiano Daniel Myrick de 35 anos, e o cubano radicado nos EUA, Eduardo Sanchez, 30, acreditaram que eram capazes de fazer um filme de terror barato e eficiente. Com apenas 35 mil dólares na mão eles imaginaram um roteiro onde três estudantes retardados iriam fazer um documentário sobre a existência de uma possível bruxa e acabariam desaparecendo misteriosamente. Um ano depois as fitas gravadas pelos jovens seriam encontradas.
Até aí nada mais. Aliás, o filme foi exibido no festival de Sundance, a meca do cinema independente americano e ninguém deu a mínima bola. Só que a Artisan achou que valia a pena investir naquela canoa furada. Comprou os direitos do filme por 1 milhão de dólares(detalhe: A Bruxa de Blair já faturou 128 milhões de dólares só nos EUA) . Para garantir o whisky das crianças, a Artisan botou um site na Internet, criou toda uma mitologia fajuta sobre o assunto e induziu as pessoas a acreditarem que o que estavam vendo na tela de cinema era real. Para aumentar ainda mais a confusão os atores do filme atuaram com seus nomes verdadeiros.
O resultado foi impressionante, ninguém parece ter ligado para o fato de que o filme é horroroso (sem trocadilhos), deprimente e sem pé nem cabeça. Todos queriam conferir se a história era verdadeira ou não.
Portanto, se A Bruxa de Blair tem algum mérito é provar que apesar de toda a tecnologia existente os EUA continuam sendo o povo mais manipulável do mundo. O engraçado é que o público brasileiro está indo pelo mesmo caminho.
O filme é tão ruim que parece ser filmado por estudantes de comunicação. Provavelmente a idéia é essa mesmo. Mas, cá entre nós, se você está sozinho em uma floresta assustadora, cercado de barulhos estranhos, bonecos de voodoo, em uma noite tétrica e catatumbal, você sairia correndo como uma câmera na mão? Nunca! Sem chances! É aquela velha história do Titanic: covardes, mulheres e crianças primeiro!!
Assim a boa(?) idéia do roteiro, de apenas sugerir e nunca mostrar o terror, vai literalmente queimando o filme pouco a pouco. Imagine você estar no meio do nada, perdido, apavorado, com fome e ainda achar forças para carregar uma leve e compacta câmera 16 mm?
Além disso como é preciso arranjar uma justificativa para que a câmera permaneça sempre ligada e ainda conseguir encaixar diálogos coerentes para continuar com o documentário. Quer dizer haja fita para gravar o drama dos estudantes e haja saco do espectador para assistir a tudo.
Como um típico retrato da década de 90 a cidade de Burkittsville, citada no filme como o lar da temível Bruxa, tem recebido uma verdadeira peregrinação de romeiros. Inúmeros fãs do filme acampam nas ruas do município somente para procurar os corpos dos estudantes desaparecidos... Resumindo: se bruxaria desse certo o campeonato baiano terminava empatado.
(The Blair Witch Project, EUA, 1999) Direção: Daniel Myrick e Eduardo Sánchez. Elenco: Heather Donahue, Joshua Leonard e Michael Willians. 80 min.