Aquarius
Aquarius, é preciso que se diga, trata-se de um filme histórico. É a única decisão correta do governo Temer. Apesar de completamente equivocado do início ao fim, composto pela escumalha, pela turba, pela malta da política, se recusou a indicar a trama estrelada por Sonia Braga para para representar o Brasil como melhor filme estrangeiro na disputa do Oscar.
O filme passa uma mensagem clara: entre o novo e o velho, prefira o segundo. É de um saudosismo atroz. A personagem principal chega a indicar para uma jovem escutar Maria Bethania. Sério? Em pleno século XXI? É uma obra com um pé em um passado idílico. É uma trama que faz questão de não virar à página, que tem um prazer mórbido em se apagar em um tempo que não volta mais.
Na trama Clara (Sonia Braga) tem 65 anos, é uma jornalista aposentada. Em uma entrevista mostra toda a sua arrogância com uma repórter inexperiente. Os velhos são melhores que os novos. Ela é viúva e mãe de três filhos adultos. Até aí, nada demais. Porém, ela mora em um apartamento localizado na Av. Boa Viagem, no Recife, onde criou seus filhos e viveu boa parte de sua vida.
A localização excepcional atrai os olhares ávidos de uma construtora, interessada em construir um novo prédio no espaço. Clara se nega a vender. A construtora (mas que capitalismo malvadão!) aumenta a proposta. Clara recusa. Os empresários não desistem fazem ofertas cada vez melhores. Mas ela se mantém impassível.
A construtura passa a adquirir os demais apartamentos do prédio. Então começa a fazer pressão para que a jornalista tenha um momento de lucidez e venda o imóvel. Não dá para negar que a construtora é criativa. Aluga um apartamento para a agravação de um filme pornô (é aquele velho ditado: amor com amor se paga).
Nada funciona. Nada faz Clara mudar de ideia. Ela segue firme e forte nas suas convicções. Mesmo que acabe prejudicando os demais moradores que venderam seus apartamentos e não podem morar no novo prédio a ser construído. A esquerda chamou de um filme de resistência. A ZeroZen chama de um filme de gente estúpida. O discurso agressivo de Clara raramente se justifica. Aliás, em nenhum momento o pessoal da construtora trata Clara de forma desrespeitosa. Eles são solícitos, elegantes, pedem licença e estão abertos ao diálogo. Só quem não dialoga é a heroína do filme.
Enfim, Aquarius é uma síntese de tudo que está errado com a esquerda brasileira. O discurso ultrapassado, a incapacidade de dialogar, a prepotência de se achar sempre certo. Ou seja, não é um filme: é uma entrevista de emprego para trabalhar na ZeroZen (no momento estamos sem vagas, desde já obrigado)
(Aquarius, BRA, 2016) Direção: Kleber Mendonça Filho, Roteiro: Kleber Mendonça Filho, Elenco: Sônia Braga, Humberto Carrão, Irandhir Santos, Maeve Jinkings, Duração: 142 min.