Alice no País das Maravilhas

A ZeroZen já disse várias vezes, mas cabe repetir, Tim Burton é um daqueles diretores superestimados que só consegue enganar aos pascácios, aos pacóvios, aos lorpas. Mais uma vez ele dá provas de sua monumental incompetência cinematográfica com a equivocada adaptação de Alice no País das Maravilhas.

Pra começo de conversa, Burton resolveu ignorar a história original escrita por Lewis Carrol. O diretor admitiu em entrevista que “emocionalmente, aquela história de uma menina andando de um lado para o outro encontrando personagens malucos nunca o fisgou. Por isso comecei a pensar numa forma de mostrar a estranheza de todos esses personagens em algo conectado… criar uma história onde antes havia uma série de acontecimentos.” Então tá. Isso é o que se chama de DIG (delírios de injustificada grandeza).

Na versão de Tim Burton, Alice agora tem 19 anos e está prestes a se casar com Hamish (Leo Bill), filho de um dos sócios de seu pai. Porém, antes de aceitar o pedido ela faz um mergulho Toca do Coelho, na qual estivera treze anos atrás. A mocinha vai conhecer os segredos do mundo subterrâneo, Underland, e descobrir se quer mesmo contrair matrimônio.

Curiosamente, apesar de querer fazer uma versão pessoal de Alice, Tim Burton cria personagem demasiadamente caricatos, muito próximos dos desenhos de Walt Disney. A parte técnica é razoavelmente bem-feita. Porém, no fim das contas, toda a parafernália visual se resume a contar uma história banal. Ou seja, a busca de Alice Kingsleigh (Mia Wasikowska) por sua identidade.

Aliás, ela tem a maluquice em seu DNA. Alice é filha de um nobre, Charles Kingsleigh (Marton Csokas), que, desde criança, se entregava ao mundo da fantasia. Ele costumava pensar em seis coisas impossíveis antes mesmo do café da manhã. Uma das conclusões de Charles foi: "não tem como um roteiro desses dar certo".

De qualquer forma, Alice cai de boca no buraco do coelho e passa a conviver com toda espécie de gente bizarra. Todavia, embora já tenha estado em Underland não se lembra mais de ninguém, o que, inclusive, faz todo sentido do mundo. Isto só deixa o Coelho Branco (Michael Sheen); Domouse (Barbara Windsor); pássaro Dordo (Michael Gough); e Tweedles – Tweedledee e Tweedledum - (Matt Lucas) desconfiados.

Após muitas tentativas de esclarecer a dúvida para provar sua identidade, Alice vai se encontrar com o Chapeleiro Louco (John Depp), afastado de suas funções e relegado ao ostracismo. Vale notar que na versão de Burton o personagem ganha um destaque imerecido. Chega até mesmo a dar cantadas em cima de Alice! Ou seja, é um Chapeleiro Louco, Louco de sem-vergonha.

Depois de alguns contratempos, Alice vai parar na corte da tirana Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter). Bem, se cabeça grande fosse sinal de inteligência ela era o Einstein da monarquia. De qualquer maneira Há uma trama que explica como aconteceu a queda da meiga Rainha Branca (Anne Hathaway), mas como todo o restante do filme é completamente dispensável ou irrelevante.

Claro que para as coisas voltarem ao normal, Alice vai ter de tomar uma decisão e se transformar em uma espécie de Joana D'arc do mundo subterrâneo. É dose para mamute. Mas nada, nada mesmo, supera a ridícula dança final do Chapeleiro Louco é um dos momento mais constrangedores da história do cinema.

Em tempo, se a sua cidade não tem cinema 3D, não se preocupe. Alice não precisa ser assistido nessa tecnologia. Em defesa de Tim Burton, diga-se que o filme foi convertido, contra sua vontade, para 3D depois de rodado. O resultado só serve para aumentar a lista de equívocos em Alice.

J. Tavares

P.S.: Antes que alguém pergunte: quem foi Lewis Carroll? ZeroZen também é cultura, pô!! Matemático e escritor, Lewis Carroll (1832-1898) era, na verdade, o pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson. Carroll demorou a alcançar o reconhecimento da crítica. Durante um bom tempo foi rotulado como um autor de histórias infantis, embora hoje seus livros sejam considerados como literatura de alto nível. Seu livro mais famoso é Alice no País das Maravilhas (1865). Lewis Carroll gostava tanto de crianças que foi pego tirando fotos de meninas em poses, digamos, picantes para a época. Quer dizer o homem era um pedófilo antes mesmo de existir a Internet!!!

(Alice in Wonderland, EUA, 2010) Direção: Tim Burton. Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Crispin Glover, Anne Hathaway, Christopher Lee, Michael Sheen, Alan Rickman, Matt Lucas, Stephen Fry, Barbara Windsor, Marton Csokas, Lindsay Duncan, Eleanor Tomlinson, Frances de la Tour, Tim Pigott-Smith, John Hopkins, Geraldine James, Amy Bailey, Jemma Powell, Leo Bill, Eleanor Gecks, Lucy Davenport, Arick Salmea, Paul Whitehouse. Duração: 108 min.

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