Água Negra

Água Negra marca a estréia do diretor Walter Salles em Hollywood. Bem, infelizmente, ele começou com o pé-esquerdo. O filme é baseado no filme de terror japonês Honogurai Mizu No Soko Kara (o título parece um tremendo palavrão), dirigido por Hideo Nakata.

Como não poderia deixar de ser uma criança é a peça-chave da trama. Os japoneses não conseguem criar um filme de terror sem a presença de gente pequena. De qualquer maneira, a versão norte-americana segue o mesmo ritmo lento, arrastado e desinteressante do original. A seu favor, pode-se dizer que Água Negra tem o programa de adoção mais radical do planeta. É uma espécie de Criança Esperança do mal.

A trama começa quando Dahlia Williams (Jennifer Connelly) está prestes a começar uma nova vida. Ela separou-se recentemente. Então decide procurar um um novo apartamento junto com sua filha Ceci (Ariel Gade). O problema é que o seu marido Kyle (Dougray Scott) não gosta nada da situação.

Ele quer ficar com a custódia da criança e surge uma acirrada batalha legal. Tudo por que Dahlia não bate muito bem dos pinos. Ela é adepta, digamos assim, daqueles remedinhos de tarja preta. No meio de toda a confusão, um corretor ardiloso espertalhão Murray (John C. Reilly) consegue fazer com que Dahlia alugue um apartamento em um prédio decadente. O lugar, porém, fica bem perto de uma escola boa para a filha.

Com o tempo, surge um grave problema de vazamento. A umidade nas paredes é cada vez maior e Dahlia decide falar com o morador do andar de cima. O detalhe é que o apartamento está abandonado. Mesmo assim, as torneiras estão sempre abertas e delas jorra uma misteriosa água negra.

Dahlia acredita que seu marido está tentando fazer com que ela enlouqueça de vez para conseguir a custódia da filha. Ou seja, é o verdadeiro golpe baixo aplicado no andar de cima. Para tentar salvar a situação, contrata os serviços do prestativo advogado Jeff Platzer (Tim Roth).

A coisa se complica de vez quando Dahlia descobre que sua filha ganhou uma amiga imaginária chamada Natasha Rimsky (Perla Haneu-Jardine). Na nova escola, Ceci acaba chamando a atenção das professoras e das demais alunas da classe para o fato. O curioso é que é justamente o nome da filha do casal do apartamento de cima.

Walter Salles tenta dar uma visão autoral ao filme. Este é seu maior erro. A trama se perde em um suspense psicológico pouco empolgante. Como terror, Água Negra é incapaz de produzir um único susto. O roteiro também não ajuda nada. O personagem do advogado simplesmente não parece ter função na trama.

Enfim, há pelos menos uma coisa a se destacar em Água Negra. O filme mostra que, apesar de toda a liberação feminina, as mulheres não são capazes de viver sem os homens. Pelo menos até que aprendam a consertar um vazamento na parede...

J. Tavares

(Dark Water, EUA, 2005), Direção: Walter Salles, Elenco: Jennifer Connelly, John C. Reilly, Tim Roth, Dougray Scott, Pete Postlethwaite, Ariel Gade, Perla Haney-Jardine, Matthew Lemche, Elina Löwensohn, Camryn Manheim, Debra Monk, Duração: 105 min.

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