Indicados do Oscar 2021


Praticamente não houve cinema em 2020. Os mais argutos dirão que há décadas ninguém mais faz cinema. Mas os críticos brasileiros não estão prontos para essa conversa. De qualquer forma, com ou sem filmes vai ter mais uma edição do Oscar. A ZeroZen novamente foi até o limite do bom senso e assistiu a todos os indicados a melhor filme. Só para reiterar que nada de bom foi feito em 2020.

Nomadland A gente já fez a resenha desse filme. Mas vale acrescentar que muitos dos nômades aparecem na tela interpretando a si mesmos. Ou seja, a diretora Chloé Zhao foi esperta e economizou um bom dinheiro. Por que esse pessoal deve ter trabalhado por um prato de comida.

Minari - Em busca da felicidade Antes de mais nada Minari é como se fosse um agrião sul-coreano. A história é longa, arrastada. Não é um filme sobre o olhar de uma criança, como muita gente afoita saiu publicando por aí. Na verdade, é um filme sobre empreendedorismo. Uma família de imigrantes coreanos formada pelo casal Jacob (Steven Yeun) e Monica (Han-Ye Ri) e seus filhos David (Alan Kim) e Anne (Noel Kate Cho) se muda para Arkansas em busca de uma nova vida. Mais tarde recebem a visita de Soonja (Youn Yuh-Jung), mãe de Monica. O sonho da família é ter a sua própria fazenda. Eles são trabalhadores, dedicados, inteligentes e racionais. Porém, no final do filme, acabam se adaptando ao american way of life e perdendo metade do cérebro.

The Father O diretor Florian Zeller resolveu adaptar a peça que ele mesmo escreveu para o cinema. Basicamente, o personagem de Anthony Hopkins tem uma doença que está consumindo toda a sua memória. Se ele fosse um computador o nome da doença era Firefox. Muitos diálogos, pouca ação e um final óbvio.

O som do silêncio Um baterista chamado Ruben Stone (Riz Ahmed) de trash/death/heavy metal está ficando surdo. Ele tem um duo com a sua namorada (Olivia Cooke). Toda noite eles abrem o show com “Purify”. Pausa. Essa é provavelmente a pior música de todos os tempos em um filme concorrente ao Oscar. Não deixa de ser um mérito. Ruben decide ir ao médico. O Doutor avisa que ele precisa se afastar de qualquer barulho muito alto ou, caso contrário, ficará surdo. É claro que de noite ele está de novo tocando Purify. Resultado? Perder a audição nem sempre é um mau negócio...

Judas e o Messias Negro O longa conta a história do ativista Fred Hampton (Daniel Kaluuya) que estava se tornando uma das maiores lideranças do movimento Panteras Negras em 1969. Até que o FBI resolve acabar com a "ameaça" que Hampton representa. Então, o agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) transforma o ladrão de carros William O’Neal (LaKeith Stanfield) em um informante. Mas muita calma nessa hora. O’Neal é disparado um dos maiores informantes da história do cinema. Apesar de estar mais assustado do que guri no cemitério, ele praticamente liquida com a organização. Se não ganhar o Oscar, merece um diploma de funcionário do ano...

Mank É um daqueles filmes sobre o cinema. A trama conta a história do roteirista Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman). Ele escreveu o roteiro de Cidadão Kane junto com Orson Welles. Mas a sua parceria com Welles (Tom Burke) foi tudo, menos pacífica. O pior de tudo é que ao assinar o roteiro, que era um ataque direto ao magnata da mídia William Randolph Hearst (Charles Dance), ele se transformou em um alvo. Tanto Mank como Welles foram atacados sem parar pelos veículos de Hearst. E, sim, o filme mostra a verdadeira explicação para a palavra Rosebud (dica: não tem nada a ver com o trenó).

Bela vingança É talvez o filme mais estranho do Oscar. Cassie (Carey Mulligan) vai para os bares da vida e finge estar bêbada. Toda vez que um homem tenta se aproveitar ela dá uma lição de moral. Em tese, é uma vingança feminista, um acerto de contas na linha do movimento "Me too". Tudo bem, mas quem já assistiu a um episódio de Law & Order: SVU sabe que isso não pode terminar bem. Em algum momento, Cassie vai topar com um escroto (sem trocadilho) de verdade. É um filme ruminante, a gente mastiga, mastiga, mas não consegue engolir.

Os 7 de Chicago É um filme de tribunal. Mas se já é difícil atualmente contar a história de um personagem só, o que dirá sete. A trama mostra o julgamento de manifestantes contrários à Guerra do Vietnã depois de um protesto terminar em violência na Convenção Nacional Democrata de 1968, em Chicago. Vários líderes de movimentos sociais são detidos nessas manifestações. O problema é que o filme perde tempo em cenas inúteis e não consegue desenvolver os personagens.

Bônus

The White Tiger É um filme sobre o jeitinho indiano. A trama conta a trajetória de Balram (Adarsh Gourav) que sai de um vilarejo miserável no norte da Índia para ser motorista de Cegonha (Mahesh Manjrekar) um empresário que domina a região. Na capital, Nova Délhi, ele acaba virando servo de Ashok (Rajkummar Rao), o filho de Cegonha. A partir daí, a história vai mostrando para a Glória Perez o que é o verdadeiro Caminho das Índias.

Druk - Mais uma rodada Um grupo de professores dinamarqueses de meia idade está vivendo praticamente em ponto morto. Eles dão aula no ensino médio para turmas cada vez mais sonolentas. Um dia, resolvem testar a teoria do psiquiatra norueguês Finn Skarderud. Segundo ele, o ser humano nasce com uma espécie de déficit natural de álcool na corrente sanguínea. Para compensar esse problema é preciso manter uma taxa constante de 0,05% de álcool circulando no organismo. Os quatro amigos passam a consumir algumas doses diárias de bebida. A qualquer hora e ocasião, mesmo no ambiente de trabalho. Nem precisa dizer que tudo melhora. Francamente nem era preciso fazer um filme para explicar isso. A ZeroZen sabe e defende o valor do goró há mais de 20 anos. Só que Druk mostra apenas parte da resposta. Para as aulas realmente atingirem o ponto de transcendência os alunos também precisam estar bêbados. Mas nenhum ministério da Educação está pronto para essa conversa.

Da Equipe Articulistas