2 Filhos de Francisco
O filme 2 Filhos de Francisco pode ser definido parafraseando-se o escritor Euclides da Cunha, de Os Sertões. Em seu livro, que retrata a Guerra de Canudos, ele declarou que "o sertanejo é, antes de tudo, um forte". Bem, o diretor Breno Silveira consegue provar que "o sertanejo é, antes de tudo, um corno".
Na verdade, 2 Filhos de Francisco é a apoteose do brega. O filme é muito melhor do que o gênero musical que defende. Com inusitada e rara competência no cinema nacional consegue vender a ilusão de que as duplas sertanejas representam o que de mais puro há na música brasileira.
A trama começa na década de 60 quando seu Francisco (Ângelo Antônio), um pobre lavrador do interior de Goiás decide transformar dois de seus sete filhos em dupla sertaneja para desespero de sua esposa Helena (Dira Paes). É o tipo da idéia impossível. Todavia, ele tem a tenacidade própria dos desprovidos de inteligência. Por isso, não desiste de seus sonhos.
A esperança de Francisco é o primogênito Mirosmar (Dablio Moreira). Ele gasta todo o lucro de sua plantação para comprar um acordeão para o menino de apenas 11 anos. Claro que ainda é preciso mais uma pessoa para sair uma dupla. Portanto, Francisco compra um violão para o irmão Emival (Marcos Henrique). Vale notar que o verdadeiro talento do seu Francisco era batizar seus filhos com nomes esdrúxulos...
Contra toda a lógica e bom senso, a dupla mirim começa a fazer sucesso na região. Contudo, no início da década de 70, a família é obrigada a se mudar Goiânia. Como a crise já grassava desde aquela época, as crianças decidem cantar na rodoviária para conseguir alguns trocados e ajudar no sustento de sua família.
No meio de tantos ônibus, a dupla é descoberta por um inescrupuloso empresário Miranda (José Dumont). Eles logo pegam a estrada e ficam mais de três meses longe da família. Os meninos, porém, fazem sucesso e chegam a cantar para 6 mil pessoas. Até que acidente interrompe dramaticamente a carreira da dupla.
Então o filme avança no tempo. Mirosmar agora se chama Zezé di Camargo (Márcio Kieling). Ele se casa com Zilu (Paloma Duarte) e grava sem sucesso um disco solo em São Paulo. Para piorar as coisas, com duas filhas pequenas, Zezé mal consegue sustentar a família.
Curiosamente, suas músicas são gravadas e fazem sucesso com outras duplas, como Leandro & Leonardo. Ele, contudo, não consegue alcançar o tão sonhado sucesso. Até que seu irmão Welson (Thiago Mendonça), 11 anos mais novo, acaba indo para São Paulo e a sorte da família do seu Francisco começa a mudar.
O sucesso de 2 Filhos de Francisco está em fazer o público acreditar que é possível escapar da miséria e da fome cantando sobre a dor-de-cotovelo. É a vitória do sujeito comum contra todas as possibilidades. O tema é explorado de maneira ardilosa pelo roteiro que aliás evitar glorificar as façanhas de Zezé Di Camargo e Luciano.
A trilha sonora, por exemplo, tem Caetano Veloso e Maria Bethania para justificar e validar o talento (ou a falta de) da dupla. O fato é que a família Camargo tem tragédias suficientes para justificar um filme (se houver uma continuação possivelmente será centrada em Vanessa Camargo, outro desastre musical da família).
Vale notar que 2 Filhos de Francisco não tem sexo, drogas ou mesmo palavrões é um filme ingênuo ou brejeiro, como diriam os antigos. No fundo, fica a impressão de que não adianta estudar ou trabalhar feito um condenado. Para ser sucesso no Brasil é preciso saber cantar sertanejo (ou, quem sabe, pagode).
Como toda história de vencedores, 2 Filhos de Francisco não se furta a um final feliz. Em 1990, Zezé Di Camargo e Luciano gravam e lançam um disco com a música "É o Amor", composta por Zezé. Seu Francisco novamente dá uma ajuda aos seus filhos e eles conquistam as rádios e vendem um milhão de discos. Moral da história? Aconteça o que acontecer a música brega sempre vence no final.
(2 Dois Filhos de Francisco, BRA, 2005), Direção: Breno Silveira, Elenco: Ângelo Antônio, Dira Paes, Márcio Kieling, Thiago Mendonça, Paloma Duarte, Jackson Antunes, Natália Lage, Dablio Moreira, Marcos Henrique, Wigor Lima, José Dumont, Lima Duarte, Zezé Di Camargo, Luciano, Pedro e Thiago, Duração: 132 min