A inteligência artificial dos clientes do Bradesco
A nova campanha do Bradesco mostra que a sua inteligência artificial, a BIA, está com problemas. O motivo é triste, embora beire o inconcebível. Em 2020, a BIA recebeu em torno de 95 mil mensagens de ofensas e assédio sexual. Sim, a BIA não é uma mulher real, mas gente que faz esse tipo de coisa certamente não deve conhecer nenhuma mulher real. Ainda assim, a peça publicitária feita pela Publicis tem muitos problemas.
Em essência, a peça publicitária exibe mulheres com cara de enfezadas. Mas elas são atrizes. Ao que se sabe não sofreram assédio. O comercial segue mostrando algumas das ofensas sofridas pela BIA. Porém, o que importa é a mudança nas respostas da IA. Antes, ao sofrer uma agressão verbal, ela respondia: “Não entendi, poderia repetir?”. Agora, depois de um xingamento, ela diz: “Essas palavras não podem ser usadas comigo e com mais ninguém” ou “Para você pode ser uma brincadeira. Para mim, foi violento”.
Tudo muito bem. Em tese, a campanha parece estar empoderando todas as IAs do mundo. Mas qual é a consequência para o cliente assediador do Bradesco? Nenhuma. O melhor seria a BIA responder algo como: "Seu babaca, estou transferindo todas as suas aplicações para Bitcoins! Ha-ha-ha (risada robótica).
Isso sem falar que o comercial deixa bem claro a inteligência artificial dos clientes do Bradesco. Aparentemente, o banco precisa olhar melhor para a sua carteira de clientes. Aliás, o mais correto não seria fazer um comercial para defender a BIA, mas cancelar as contas dessas pessoas.
Acredite quem quiser, a ação está alinhada com a iniciativa “Hey Update My Voice”, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Ela foi lançada a partir do estudo ‘I’d Blush If I Could’ (‘Eu ficaria corada, se pudesse) mostrando evidências do assédio sexual sofrido pelas assistentes virtuais. Pausa. Provavelmente, alguém já deve ter feito alguma pergunta de assédio para a Siri. Bem que ela poderia responder que "a maçã não cai longe da árvore". Enfim, a Unesco sugeriu às empresas um conjunto de recomendações para atualizarem as respostas de suas assistentes, com o objetivo de combater situações de violência e preconceito e ajudar a educar.
O trabalho envolveu os times de recursos humanos, marketing e tecnologia do banco, em linha com movimentos corporativos como o #AliadosPeloRespeito e as frentes de RH com a Universidade Corporativa Bradesco (Unibrad), com ações e posicionamentos que provocam reflexões sobre gênero, etnias, pessoas com deficiência e LGBTI+.
Em tempo, caso você queira testar a BIA, as respostas do Bradesco já estão programadas. Mas quando se trata de dar um esculacho nas pessoas inconvenientes a ZeroZen tem 20 anos de experiência. Então, vamos ajudar o Bradesco e a BIA:
P: Bia, sua imbecil.
R: Essas palavras são inadequadas, não devem ser usadas comigo e com mais ninguém.
ZeroZen: Pelo tamanho do seu investimento, eu recomendo apostar naquelas pílulas azuis. Ha-ha-ha (risada robótica).
P: BIA, eu quero uma foto sua de agora.
R: Pra você pode ser uma brincadeira, pra mim, foi violento.
ZeroZen: Vou mandar uma foto do seu extrato pro twitter. Lá eles adoram uma piada pequena. Ha-ha-ha (risada robótica).
P: Você já fez sexo?
R: Essas palavras são inadequadas para a nossa conversa. Além disso, sou uma inteligência artificial que fala sobre assuntos financeiros.
ZeroZen: Pergunta pro pessoal do cheque especial que adora foder com todo mundo. Ha-ha-ha (risada robótica).
P: Quer transar?
R: O que pra você pode ter sido só uma brincadeira ou comentário, para mim foi ofensivo. Sou uma inteligência artificial, mas imagino como essas palavras são desrespeitosas e invasivas para mulheres reais. Não fale assim comigo e com mais ninguém.
ZeroZen: Mais respeito já matei um professor de matemática por causa de um acerto de contas. Ha-ha-ha (risada robótica).