Bradesco e o cartão de crédito da vergonha alheia
O Bradesco é uma dessas presenças constantes no Obituário da Publicidade. Mas essa coluna não tem culpa. O pessoal se supera. Agora, o banco conseguiu errar feio em um comercial sobre cartão de crédito. O amadorismo é tanto, a cena é tão constrangedora, que é capaz de provocar aquele sentimento de agonia, de vergonha alheia.
O filme começa em um restaurante. Quatro amigos estão jantando. São três mulheres e um homem. É hora de pagar a conta. O garçom se aproxima. Pergunta se é cartão. Até aí, tudo bem. A moça já embala um discurso avisando que o cartão Bradesco dá desconto nos melhores restaurantes.
Neste momento, o espectador já imagina o garçom oferecendo um generoso desconto e a mulher mostrando de forma simples e rápida uma das vantagens de ter o cartão Bradesco. Mas não acontece nada. Nem mesmo um cafezinho grátis é oferecido. Então esse não é um dos melhores restaurantes? Será que todos os amigos dela são pobres?
Mas não há tempo para questionamentos, a moça continua avisando que o cartão dá 50% de desconto no cinema e na pipoca. Nesse momento a câmera se afasta. Foca na amiga. Ela olha para a câmera diretamente para o público. Não fala uma única palavra. Seu rosto é uma mistura de sarcasmo e ironia. Só falta dizer: "amiga, você é tão falida que precisa de desconto para comprar pipoca?".
A mulher não para. Fala cashback de 5% e pré-venda dos maiores shows e eventos. Destaca também que o cartão não tem anuidade. Tudo isso como se estivesse lendo um catálogo. Ou quem sabe imitando aquelas ligações gravadas tiradas direto do inferno do telemarketing. Finalmente resolve pagar a conta. Não recebe nenhum desconto.
Se o comercial terminasse nesse ponto, já estaria ruim demais. Só que a outra amiga resolve se manifestar. Então, ela diz:
- Já sei como o meu (cartão) vai ficar conhecido: por quero um agora!
Tudo isso em uma atuação que vai do constrangedor ao patético em segundos. Todos riem. Do quê? Se foi uma piada não teve a menor graça. A amiga do cartão Bradesco olha para a câmera com um ar de triunfo. Entra o slogan: "entre nós, você vem primeiro". O que isso tem a ver com o que acabou de ser mostrado? Só se for porque a mulher foi a primeira a pagar a conta.
Fica a dica para os nossos incríveis publicitários: os melhores diálogos em uma peça publicitária não se parecem com diálogos. E, por favor, parem de fazer as pessoas olharem para câmera quando não há necessidade disso. Vocês não estão quebrando a quarta parede. Estão quebrando a cabeça na parede.
Bradesco e o cartão de crédito da vergonha alheia: