Bradesco: onde se ganha o pão não se come a carne?


O Bradesco resolveu lacrar. Para mostrar que é um banco moderno, descolado, jovem e antenado lançou a campanha “Transforme o futuro”. A ideia era destacar uma nova funcionalidade no app do banco: uma calculadora de carbono. O problema é que o comercial gerou tanto tumulto que o Bradesco precisou fazer uma carta aberta ao Agronegócio brasileiro.

Vamos por partes para entender como esse comercial já é um dos grandes momentos do Obituário da Publicidade. Em novembro de 2021, o Bradesco veiculou um comercial criado pela Leo Burnett Tailor Made, no intervalo do Fantástico, o filme era parte da campanha “Transforme o futuro”. Até aí nada demais.

Só que a peça publicitária tinha um desdobramento nas redes sociais. O Bradesco contratou as influenciadoras Mariana, Maria Carolina e Maria Clara. Para quem nunca ouviu falar, são três irmãs que ensinam sobre sustentabilidade no perfil @verdesmarias. No comercial, elas dão três dicas para as pessoas reduzirem o seu impacto ambiental.

A primeira é aderir ao movimento Segunda sem Carne. A segunda é compostar o lixo orgânico. A dica extra era usar o aplicativo do Bradesco. Justamente por causa da funcionalidade permite ao usuário calcular a quantidade de carbono que emite. Parece tudo certo?

Nem tanto. Rapidamente, instituições e políticos ligados à pecuária, especialmente de Mato Grosso e Paraná, começaram a promover a hashtag #adeusbradesco. E não foi só isso. Eles fizeram manifestações com a realização de churrascos em frente a algumas agências do banco. Com o preço da carne esse foi o protesto mais caro de todos os tempos!

Só que fica ainda melhor. O Bradesco retirou a peça do ar em 23 de dezembro. Apenas quatro dias depois divulgou uma carta aberta ao setor agropecuário pedindo arrego. O banco criticou “uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina associada à nossa marca”. Além de, é claro, reafirmar compromisso “irrestrito” com o agronegócio. O Bradesco enfatizou que, diante do ocorrido, havia tomado “ações administrativas internas severas”.

A Leo Burnett Tailor Made diz não ter autorização para comentar o caso. Mas fica a lição: Bradesco: onde se ganha o pão não se come a carne. Ou melhor: se come a carne, sim. Até porque ficou claro que não dá para irritar o setor do agronegócio. E o banco mostrou uma completa falta de convicção nas causas que decidiu apoiar. Dificilmente algum comercial conseguiu errar tanto em tão pouco tempo.

Da Equipe de Articulistas

P.S. - Para piorar, a solução apontada pelas influenciadoras é mais inútil que olho azul em gente feia. Sim, o agronegócio é totalmente insustentável (já leu o nosso ZZ-files sobre a grande conspiração bovina?). A redução provocada por parar de comer carne na segunda-feira é simplesmente ridícula e não gera nenhum resultado digno de nota.

Comercial Transforme o futuro (Redes Sociais)

Comercial Transforme o futuro