White Stripes - Get Behind Me Satan

O Estado Americano da Califórnia criou em 1994 a chamada “Three-strikes law”, na qual criminosos com três condenações seguidas estão sujeitos, independente dos crimes cometidos, há uma pena de 25 anos à perpétua. É uma lei polêmica que não só contribuiu para o aumento da população carcerária daquele Estado como o aumento da violência contra políciais.

Uma vez que um criminoso com duas condenações, ele parte do seguinte pressuposto: o que é um peido para quem está cagado? Ou seja, raras vezes se rende, preferindo confrontar a polícia, pois sabe que se for pego sua vida basicamente está acabada.

Pois a ZeroZen, única revista que se dedica 100% - 5% de cada vez - resolveu também estabelecer sua própria versão da “three-strikes law”: três resenhas e você está fora. Nenhuma banda ou artista terá mais de três resenhas na revista, pois a gente simplesmente não tem mais saco para escrever sobre o mesmo artista mais de três vezes. Ele não vai melhorar nem a gente. Logo alguém tem que desistir primeiro.

Resumindo a partir de agora nossa filosofia vai ser a seguinte:

A primeira vez é para chamar a atenção.
A segunda para ficar quieto.
A terceira para tomar juízo.

Daí para frente nos largamos de mão.

A primeira banda que aplicaremos essa nova regra é o White Stripes, que aparece aqui em sua terceira resenha na ZeroZen. E como um criminoso com duas condenações Jack White resolveu que não tinha nada a perder e cometeu o seu pior disco.

Para ilustrar nosso sempre parcial, mas honesto, ponto de vista vamos novamente usar um texto do Lúcio Ribeiro, publicado na Pensata no dia 26/05/2005 como contraponto. O texto em itálico é do Lúcio Ribeiro o texto normal é do Pedro Camacho:

O bizarro e o mistério
(...)
Um disco, tão bonito quanto esquisito, que vai da sutileza de uma canção de ninar ao som de uma serra elétrica sem controle, aí vai um faixa a faixa rápido das melhores músicas de "Get Behind Me Satan".

Ok...Se essas são “as melhores músicas” tu imagina as piores....

1. BLUE ORCHID - É o single, já bastante conhecido. Para resumir: Led Zeppelin.

Para um cara que já confessou não gostar de Led Zeppelin, nosso amigo Lucio parece citá-los mais do que o necessário. Mais uma vez Led Zeppelin não passou aqui nem em pensamento. Para uma melhor ambientação vamos tentar descrever a faixa de uma maneira bem simples: riff de quatro? notas tocado em duas cordas, vocais em falseto e ritmo marcado pelo bumbo. Isso soa como Led Zeppelin para você? Se nosso amigo Lucio tivesse feito a lição de casa poderia ter dito que essa faixa soa estranhamente como Eagles of Death Metal, banda paralela de outro queridinho da coluna dele: Josh Homme do Queens of the Stone Age. Para falar a verdade é a única faixa do disco que se parece com o White Stripes dos discos anteriores...

2. THE NURSE - O disco está na primeira música e você pensa: "Cacete, o que esses caras estão fazendo?" Esta canção é uma bonitinha balada levada por uma... marimba(!!). Que de vez em quando, em alguns momentos, é rasgada por uma guitarra chorosa de Jack e principalmente pela Meg, que esmurra a bateria de um jeito de dar medo, em sua melhor atuação no White Stripes.

Well essa NÃO é a primeira faixa do disco. E você pensa, eu sei o que eles estão fazendo: cometendo suicido comercial. Outra coisa a Meg tocou em outra banda além do White Stripes para fazer uma comparação?

3. MY DOORBELL - Delicioso blues pop levado por piano e bateria, que embalam a inspirada voz de Jack, que canta normal pela primeira vez no disco. Gozado: é blues, mas é quase funk.

Gozado: não é nenhuma coisa nem outra... Na verdade isso tem mais cara de Led Zeppelin circa 79 do que a primeira faixa. A letra é uma bobagem infantil de duplo sentido.

4. FOREVER FOR HER (IS OVER FOR ME) - Outro tesouro sonoro de piano e bateria, mas desta vez cadenciada, mais para balada. A parte que Jack canta, tipo sofrendo, "This love is only a fraction of what I can give to you", é de matar.

Reparem como tem piano nesse álbum... O problema é que Jack White toca piano como se estivesse catando milho no teclado. Mas ‘de matar’ é esse tipo de comentário antilopesco de quem tem Ame ou Dê Vexame como livro de cabeceira...

5 Little Ghost
Se alguém tinha o bizarro desejo de ouvir Jack White cantando blue‘n grass, espécie de música caipira americana, vai ter o que sempre quis nessa faixa. O resto da humanidade...

6 The Denial Twist
Mais piano e bateria. Se a idéia do Jack White era transformar sua banda no ‘Ben Folds Stripes’ ele conseguiu.

7 White Moon
Mais piano e bateria. E igualmente chata. Esse álbum é mais chato que o último do Audioslave!!! Nada pode ser pior.

8 Instinct Blues
É um pseudo-blues. É lento. É chato e a letra da música é do tipo todo mundo menos eu. Lembra Jon Spencer nos seus piores momentos, o que é no mínimo redundante.

(Notem que a versão que Lucio baixou na Internet está com a numeração errada)

8. PASSIVE MANIPULATION - Música de meio minuto, cantada por Meg. Na canção, ela avisa às mulheres para tomarem cuidado no relacionamento com os homens.

(Na verdade, a Faixa 9) - Filler, coff, Filler, coff, boring, coff.

9. TAKE, TAKE, TAKE Talvez a melhor do disco, uma opereta whitestripiana. Cheia de fases, barulhinhos, com piano, guitarra, percussãozinha e um refrão macabro e dobrado de Jack.

(Na verdade, a Faixa 10) - Mais piano e bateria desta vez acompanhado de um violão. Lúcio insiste na idéia que Jack White escreve operetas. Lembram quando ele disse o mesmo de There's No Home for You Here? Sério se você quer um exemplo de operetas pops vai ouvir Avril Lavigne em que cada faixa tem três, quatro personagens, história com começo, meio e fim e ainda moral... Agora o que é um refrão dobrado?

11 As Ugly As I Seem
Parece gravada num gravador portátil de tão tosca. Apenas percussão e violão e uma melodia do tipo já ouvi isso antes mas ainda não descobri onde. Na falta de coisa melhor vamos dizer que é do Smashing Pumpkins. Talvez a única faixa que se salva. Logo não está na lista de ‘melhores’ do Lúcio.

12 Red Rain
Para variar um pouco guitarra e bateria. Mais uma faixa lenta e sem nada de especial. Se o álbum anterior foi gravado em dois dias e deixava transparecer isso na maioria das composições. Nesse algumas faixas parecem ter sido compostas enquanto estavam sendo gravadas de tão toscas!!!

13 I'm Lonely (But I Ain't That Lonely Yet)
O começo lembra Changes do Black Sabbath. É mais uma balada só que desta levada somente ao piano. É tipo um final melancólico, literalmente, para um álbum idem.

Conclusões finais:
Jack White deu um tempo na sua guitarra, mas não calou sua boca. Sinceramente se você deseja ouvir um disco arrastado, chato, cheio de pianinhos insossos e barulhos esquisitos vá ouvir um álbum do Tom Waits ou coisa parecida. Esse Get Behind Me Satan é o que alguns críticos chamam de ‘álbum de transição’, no caso do White Stripes de algo não muito promissor para algo sem muito futuro. Tipo de álbum que algumas criaturas vão fazer um esforço enorme para tentar entender. Quando no final das contas o melhor é simplesmente passar adiante. As pessoas precisam aprender quando desistir de algo. E no caso do White Stripes o quanto antes melhor.

Pedro Camacho