VMB 2004

Bem vindos ao pretexto anual da ZeroZen para falar mal da MTV, não que exista realmente a necessidade de algum motivo. A MTV sozinha fornece material suficiente para preencher várias comunidades no orkut, blogs e inúmeros tratados de sociologia. Mas o VMB funciona como uma espécie de síntese de tudo que há de errado na emissora, logo não existe melhor oportunidade do que essa para sentar o sarrafo nessa gente.

O VMB, de novo, ultrapassou qualquer vetor de ruindade. É incrível essa capacidade da MTV, é como aquela propaganda do governo: a MTV nunca desiste. A única diferença é que ela sempre consegue fazer pior. A coisa toda foi tão ruim que deu até pena. Sério. Nunca antes ficou tão claro o despreparo e o amadorismo para produzir um evento desse porte. A produção da festa sempre teve mais sorte do que juízo, passando quase dez anos incólume. Mas dessa vez a sorte não marcou presença na festa, e a incompetência tomou conta.

Foi no geral um dos VMBs mais pobres dos últimos tempos, aparentemente sérias restrições orçamentárias pontuaram o evento. Para terem uma idéia foi usado basicamente o mesmo cenário do ano passado, nada muito glamouroso ou exagerado. Além disso para tornar a apresentação mais ágil vários prêmios foram escanteados para categorias técnicas. Assim pouco mais de 10 prêmios foram realmente entregues no evento. Dando espaço maior para as apresentações e consequentemente para mais erros da produção.

A apresentação começou imitando o programa Sathurday Night Live (SNL) com o apresentador da noite Selton C. de Mello respondendo perguntas babacas de gente previamente ensaiada para isso. Daí para frente foi só descida. Poucas vezes se viu ao tão inóspito e constrangedor.

Vejam só, a MTV passa os meses que antecedem o VMB fazendo inúmeras retrospectivas sobre o evento, e chega ao cúmulo de apresentar um ‘The Best of’ poucas horas antes da festa. Para chegar no grande momento do dito cujo e fazer outra retrospectiva! Sério, o tema da festa era os 10 anos do VMB. Assim nada melhor para costurar a festa do que mais flashbacks diretos do túnel do tempo! Esse verdadeiro exercício de oligofrenia, às vezes em tom de paródia, outras de autopromoção. Não só permeou evento, como serviu para afundá-lo de vez.

Para complicar ainda mais havia um excesso de atrações sem fundamento durante a transmissão pela TV, cada intervalo era pontuado com pequenos quadros feitos com marionetes que basicamente não tinham nada a ver com coisa alguma. Ainda no intervalo a dupla de patetas mais sem graça da televisão Marcos Bianchi e Paulo Bonfá apresentaram o Rockgol de VMB ou algo assim, com seu escasso repertório duas ou três piadas também não acrescentaram nada ao evento, a não ser uma boa sacada sobre os problemas de som na apresentação de Caetano Veloso.

E como se ainda não bastasse nos intervalos bandas como Los Hermanos, Skank, Jota Quest, Rappa entre outros menos qualificados interpretavam canções que tinham sido vencedoras do VMB em clipes previamente gravados. Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo não é de estranhar que o pessoal da MTV tenha se esquecido de coisas básicas, como checar o som.

Mas “para quê tudo isso” perguntava a chamada do evento; para uma janela de 30 segundos no Jornal Hoje da Globo respondeu a ZeroZen, há alguns anos. Mas aparentemente até mesmo essa pretensão foi revista no VMB 2004. Diminuir expectativas e estabelecer prioridades parece ser o novo mote da emissora. Nenhum ator/atriz/manequim da Globo participou da festa. A não ser que você conte o apresentador Selton C. de Mello como ator (sic/sci-fi) global. Se aquela janela no Jornal Hoje é sonho descartado, uma matéria na Rede TV ou na Band soa bem mais humano. Já que a imprensa oficial prefere ignorar solenemente a festa resumindo a cobertura do evento a esparsas notas sem destaque algum ou mesmo interesse.

Os dois grandes momentos do VMB foram obviamente os piores: a apresentação de Caetano Veloso com David Byrne e a entrega do prêmio da Escolha da Audiência. O episódio envolvendo Caetano tratado injustamente pela imprensa oficial como “chilique” foi de longe um dos mais hilários já acontecidos durante um VMB. Não tanto pelo episódio em si, mas pela maneira como a MTV tratou o assunto. Diga-se de passagem Caetano pode ser um chato de galocha, mas pela primeira vez na história da ZeroZen temos que concordar com ele.

Vejam vocês Caetano iria cantar Nothing But Flowers do Talking Heads acompanhado de David Byrne só que na primeira tentativa uma forte microfonia impediu que Caetano chegasse perto do microfone. O programa foi abruptamente interrompido, sem maiores explicações, para que o problema fosse resolvido. Na segunda tentativa a coisa desandou na maionese de vez. Com o problema do microfone do Caetano Veloso aparentemente resolvido, o microfone do violoncelista Jaques Morelenbaum resolveu dar problema também. Caetano tentou levar a música mesmo assim mas mudou de idéia pela metade: Olha pessoal da MTV, vergonha na cara. Vamos começar de novo e bota essa porra para funcionar direito para a gente cantar direito essa porra. Respeito. Vamos começar de novo....". Mais uma vez a MTV cortou direto para os comerciais. Para enfim depois de um longo intervalo Caetano Veloso e David Byrne conseguirem interpretar sua chatíssima versão para a música do Talking Heads.

Mas o pior mesmo é que nas subsequentes repetições do VMB, em sua ânsia revisionista e numa atitude tipicamente covarde, a MTV cortou toda a parte em que Caetano dá o esporro na emissora, que foi bem maior, diga-se de passagem, do que aquilo que foi ao ar.

Mas o momento mais genial da noite foi mesmo a entrega do prêmio de Escolha da Audiência, para a prata da casa Pitty, no qual todos os Vjs entraram fantasiados como seus respectivos personagens da Liga da Vjs Paladinos. Caso o incauto leitor não saiba a MTV resolveu fazer um desenho animado com os VJs. É isso mesmo um desenho animado com os VJs como se eles fossem interessantes na vida real. O que dirá no papel. Pois bem um silêncio sepulcral acompanhou a entrada dos Vjs. A platéia atônita não parecia acreditar no que estava vendo: que ser humano e o Rafá seria capaz de se prestar a uma humilhação dessas? Nem mesmo trainee de multinacional seria capaz de se submeter a tamanho vexame para garantir um emprego. Ainda mais um emprego na MTV Brasil!!!

Notas

A MTV mudou pela enésima vez o formato do prêmio do VMB, de uma válvula esdrúxula (?!) passou para um cetro real. A MTV inclusive publicou campanha publicitária em várias revistas e jornais com frases como: “A única monarquia em que os reis são eleitos por voto direto” ou “ Não se vira rei da noite para o dia. Às vezes da noite para noite”. Genial não? Essa pretensão de estar elegendo a realeza da música corporativa nacional foi devidamente esquecida na festa. Ninguém tocou ou fez qual menção ao assunto. Mais uma idéia de gênio abortada no meio do caminho?

O VMB marcou a estréia da nova banda do ex-baterista do Rappa Marcelo Yuka: F.U.R.T.O. (Frente Urbana de Trabalhos Organizados?!) com direito a bandeira do MST no palco, discurso a favor da pesquisa com células-tronco e mensagem contra a ALCA. Tudo isso para soar como um Rappa cover com letras mais engajadas. Mas como não poderia deixar de ser a banda também sofreu com problemas técnicos, com Yuka tocando basicamente teclados sem som durante toda a música.

O VMB 2004 também marcou a volta do Marcos Mion à MTV. Hum... deixa ver se eu entendi: a MTV tira a sorte grande ao se livrar de um mala como o Mion e agora resolve contratá-lo de volta? Qual o próximo passo? trazer o Max Fivelinha de volta?! Ou quem sabe o Levy?!!! É bom lembrar que a MTV processou Mion impedindo que ele usasse o mesmo formato do seu finado programa “Os Piores Clipes do Mundo” na Band. Tá certo que o passe de Mion deve estar valendo uns dois vales transportes e um prato comida, mas ainda assim isso parece ser mais uma daqueles idéias de gênio do diretor da MTV Zico Góes. Ao menos tudo indica que vai acontecer com Mion o mesmo que aconteceu com Cazé, que quando voltou para MTV em 2003, apresentava nada mais que três programas sendo um deles diários. Hoje ele possui apenas um e semanal e ainda assim anda a perigo.

A ZeroZen já cantou a essa pedra antes, mas não custa nada repetir: o Sepultura está passando tempo demais no Brasil. E isso não é bom para o Sepultura, muito menos para o Brasil. A versão acústica de Kaiowas, contando com a participação de "Lan Lan"(House) no pandeiro sem som, da Nação Zumbi, mais um quarteto de cordas acendeu o sinal de alerta que o Sepultura pode um dia fazer um acústico para MTV. Daí para participar de um pagode na casa do Zeca Pagodinho é um pulinho.

Falando em Zeca Pagodinho, o músico (sic/sci-fi) se apresentou na festa acompanhado de um bando de gente que não tinha nada melhor para fazer numa noite de terça-feira como Daniela Mercury, Vanessa da Matta, Paula Lima, Marcelo D2 e B Negão. Acompanhado de tamanha fauna de incompetentes é quase inacreditável que Zeca tenha feito um dos shows mais corretos da noite. Em que tudo funcionou direito sem nenhum problema técnico!!!!

Depois de inúmeras premiações duvidosas esse foi o primeiro ano em que João Gordo não ganhou nada. Em compensação os maiores vencedores da noite Pitty(Vacant) e Marcelo D2 fizeram, somente esse ano: Família MTV, Banda MTV, Acústico MTV e mais algumas outras porcarias com a marca MTV. Mas isso é obviamente uma mera coincidência...

Os anos passam mas o Capital Inicial continua sem ganhar, merecidamente, nada. Diga-se de passagem a entidade C.B. mais uma vez também não foi vista na festa.

Falando nele... A festa teve várias homenagens, algumas espontâneas, outras nem tanto, ao produtor Tom Capone, morto em Los Angeles num acidente automobilístico em setembro desse ano. A música corporativa brasileira perdeu um dos seus mais requisitados produtores, o que não quer dizer exatamente porra nenhuma. É bom lembrar que Capone tinha em seu currículo trabalhos com gente como Skank, Maria Rita, O Rappa, Raimundos, Nando Reis, Marisa Monte, Lenine e Carlinhos Brown.... Sim ele mesmo. Acho que não precisamos explicar mais nada.

Syang saída direto do túnel do tempo com passagem na estação do ostracismo, compareceu na festa para entregar o prêmio de revelação e beijar Preta Gil? Isso mesmo, beijar a Preta Gil. O MTV Awards tem Madonna e Britney Spears. O VMB, Preta Gil e Syan. São dois pesos e duas medidas e no caso da Preta Gil várias medidas a mais. A coisa como sempre não saiu como o esperado, com as duas lésbicas diletantes protagonizando nada mais que um selinho conservador. Agora não havia no vasto panteão de cantoras lésbicas da nossa MPB alguém disponível para fazer o tal beijo com mais propriedade?

Ainda neste mesmo episódio, Preta Gil antes de beijar Syang aos berros no microfone: “Polêmica sempre aumenta audiência, não é mesmo pessoal...” Até pode ser, mas o que Preta Gil sabe sobre audiência? Quem em sua santa inocência acreditou que Preta poderia ser apresentadora de televisão? E porque diabos ela tem que falar sempre aos berros?

Link Park ganhou pela terceira vez seguida(?!) o prêmio de Melhor videoclipe internacional pela votação no site da MTV. O que prova mais uma vez os fãs de Link Park são um bando de idiotas. Não existe sequer necessidade de argumentação.

A insólita dupla Replicantes/ Skank tocaram juntos “Surfista Calhorda”. Como a maioria da platéia do VMB era basicamente um feto quando essa música foi gravada nos anos 80 a turma do gargarejo simplesmente ignorou a apresentação da banda. Nem o esforço do guitarrista dos Replicantes que conseguiu errar o famoso solo em uma corda só da música foi digno que qualquer reação da platéia. Pior mesmo foi a versão de I Wanna Be Sedated dos Ramones, ou “cedaitete” como cantou Samuel Rosa. Quase tão ruim tanto a versão da Rita Lee para mesma música.

A coisinha mordedora, bichinho da goiaba, UTI( Ultima Tentativa do Indivíduo) de bêbado, Penelope Nova que não participará do VMB do passado ganhou um papel especial nesta edição: gritar “Toca Ramones” no início do VMB e durante a apresentação do combo Replicantes/Skank. Talvez seja intenção da MTV mudar o popular brado “toca Raul” que acontece em praticamente todo show ao vivo que não se preze. Mas não se iludam, trata-se de mais uma coisa que não vai acontecer por causa da MTV.

O estranho dessa “homenagem” aos Ramones é o seguinte: quando Joey Ramone morreu em 2001 ninguém na MTV fez porra nenhuma. Quando Dee Dee Ramone morreu em 2002 de novo ninguém fez porra nenhuma. Agora quando Johnny Ramone morreu, o Ramone responsável pelo fim da banda, uma das figuras mais retrogradas que o punk rock já pariu. Eleitor de Reagan e de Bush. A MTV com seu complexo de faísca atrasada resolve homenagear os Ramones.

O pior é o seguinte: a MTV que nos anos 90 abriu as pernas para Axé Music, Pagodeiros, Funk Carioca e Boys Band em geral, agora aparentemente quer se redimir e colocar o rock na moda outra vez. Sério, a MTV acha que pode influenciar alguém!!! Podem colocar mais uma entrada na lista de coisas que não vão acontecer por causa da MTV...

Antes de entregar o prêmio de melhor videoclipe de rap o rapper Kamau soltou a seguinte rima: "Tá na moda, né? Tá na moda, né? Mas quando é de verdade te incomoda, né?" O problema é que naquele momento a carapuça servia para tanta gente presente no VMB, que ele devia ter sido mais específico.

Quem acompanha o programa da Daniella Cicarelli na MTV já percebeu que a modelo mudou de atitude em relação a emissora. De início ela parecia estar genuinamente agradecida com a oportunidade de trabalhar na MTV, agora ela basicamente manda e desmanda na bagaça. Afinal com o cartão de crédito do Ronaldo ela compra a MTV Brasil e ainda sobra troco. Durante a entrega do Melhor videoclipe do ano propôs mudar o nome do prêmio para Daniella Cicarelli, e isso não pareceu brincadeira nem muito menos algo ensaiado como, diga-se de passagem, nada na festa.

O prêmio de Melhor videoclipe do ano para "Loadeando" de Marcelo D2 levanta várias questões: o prêmio foi para o vídeo ou para música? Em ambos dois casos deve haver algo melhor. Sério. Tem que haver algo melhor. "Loadeando" é simplemente uma das coisas mais chatas já produzidas, ponto. Quem for capaz de ouvir aquela música (sic/sci-fi) do início ao fim tem problemas. Sem falar que aquele filho do D2 nem Pro Tools salva.

Nunca se cantou tanto em inglês como nessa cerimônia: I wanna be Sedated, Nothing But Flowers, Rock & Roll All Night. Logo nunca se assassinou tanto a língua inglesa com nessa edição.

O pós show apresentado por Rafá e Edgar, que também foi interrompido por problemas técnicos, teve pelo menos um momento absolutamente revelador e inesperado. Rafá estava entrevistando seus colegas VJs ainda fantasiados de VJs Paladinos e possivelmente já organizando uma ação trabalhista contra a MTV. Quando Marina Person totalmente fora do script chega para o Rafá e emenda um dialogo totalmente surreal sobre a fantasia dela que culmina com Marina dizendo: “Eu sei que tu tem uma queda por mim” no que Rafá mais vermelho do que um pimentão nada responde e faz aquela saída estratégica pela esquerda pedindo os comerciais.

Ainda no pós show ao ser entrevistado por Edgar o sequelado Arnaldo Baptista, que apresentou um prêmio ao lado da Pitty, resumiu o episódio com o Caetano da seguinte forma: Coitado do Caetano, foi uma vergonha o que fizeram com ele: o som dele não era valvulado... Ao ser interrompido aos berros pelo Edgar na sua ânsia de evitar que Arnaldo falasse mal da MTV. Nada como ser pelego do patrão Zico Góes.

Da reportagem Local

Os premiados

*Melhor videoclipe do ano
- "Loadeando" (Marcelo D2)

Melhor videoclipe pop
- "Vou Deixar" (Skank)

*Melhor videoclipe de rock
- "Equalize" (Pitty)

*Melhor videoclipe de MPB
- "Tive Razão" (Seu Jorge)

*Melhor videoclipe de rap
- "Loadeando" (Marcelo D2)

*Melhor clipe de música eletrônica
- "Cotidiano" (Marcelinho da Lua e Seu Jorge)

Artista revelação
- "Zero Um" (Dead Fish)

Melhor clipe independente
- "Princesa" (Ludov)

*Melhor videoclipe segundo audiência
- "Admirável Chip Novo" (Pitty)

Melhor videoclipe internacional
- "Numb" (Linkin Park)

Melhor edição de videoclipe
- "O Salto" (O Rappa)

Melhor fotografia
- "Loadeando" (Marcelo D2)

Melhor direção de arte
- "Rio de Janeiro" (Elza Soares)

Melhor direção de videoclipe
- "O Salto" (O Rappa)

Melhor website
- Detonautas Roque Clube